Espinho e o desafio da mobilidade urbana e interurbana

Espinho tem uma população móvel de 17 mil pessoas que trabalham /estudam, das quais 35% trabalham /estudam na freguesia de residência, 22% deslocam-se para outra freguesia de Espinho, e 40% deslocam-se para outros municípios. À população espinhense acrescem 6.750 pessoas que, residindo noutros concelhos, têm Espinho como destino para trabalhar /estudar, num universo quotidiano de quase 24 mil pessoas que se deslocam frequentemente de e para Espinho.

Aqueles que trabalham /estudam fora de Espinho deslocam-se para 5 destinos principais: Gaia (25%), Feira (21%), Porto (20%), Ovar (13%) e Aveiro (4%), que representam 83% dos destinos de trabalho /estudo. Praticamente metade (49%) dos que trabalham /estudam fora de Espinho, têm como destino o Arco Metropolitano do Porto (AMP) (Gaia, Porto, Maia, Matosinhos e Gondomar), cerca de 1/4 (23%) têm como destino as Terras de Santa Maria (Feira, S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Arouca e Vale de Cambra), e perto de 1/5 (18%) deslocam-se para a Região de Aveiro (Ovar, Aveiro, Estarreja). Os restantes 10% têm como destino outras localizações mais afastadas, dos quais 3% identificam o estrangeiro como seu local de trabalho /estudo.

Em sentido inverso, Espinho é procurado quotidianamente quase por 7 mil pessoas, as quais provêem maioritariamente de três concelhos: Gaia (38%), Feira (32%) e Ovar (12%), que representam 82% das entradas. Em termos regionais, 44% das entradas têm como origem o AMP, 33% têm como origem as Terras de Santa Maria, e 13% têm como origem a Região de Aveiro.

Note-se que Espinho é o 2º destino para quem reside em Gaia e o 3º destino para quem reside na Feira ou em S. João da Madeira; Espinho é o 2º destino de estudo de Gaia e o 3º da Feira; Espinho é ainda o 2º destino mais frequente para compras ou lazer dos residentes na Feira, S. João da Madeira e em Gaia.

As razões apontadas para a utilização de automóvel são: rede de transportes públicos sem ligação directa ao destino; ausência de alternativa; e serviço de transportes sem a fiabilidade necessárias.

Numa análise territorial de proximidade, metade das pessoas que têm Espinho como destino, têm origem nas freguesias adjacentes ou próximas: S. Félix da Marinha (15%), Nogueira de Regedoura (8%), Esmoriz (7%), Arcozelo (5%), S. Paio de Oleiros (5%), Grijó (5%) e Mozelos (3%). Outras proveniências localizadas nos concelhos limítrofes de Gaia, Feira e Ovar representam 33% das origens, enquanto 18% das pessoas provêem de pontos mais distantes.

As deslocações representam uma parte importante das necessidades, tempo e custos das pessoas no seu quotidiano: 51% da população espinhense tem uma despesa média mensal com combustível superior a 60 euros /mês (31% tem despesa média superior a 100 euros /mês); e 45% tem custos mensais com portagens; 61% da população refere não ter custos mensais com transportes públicos, uma vez que 58% das deslocações são realizadas através de modos motorizados (automóvel, motociclo, ciclomotor), e apenas 7% são efectuadas em transportes colectivos.

As principais razões apontadas para a utilização de automóvel são: rede de transportes públicos sem ligação directa ao destino; ausência de alternativa; e serviço de transportes públicos sem a frequência ou fiabilidade necessárias. As razões apontadas para a utilização de transportes públicos são razões negativas: ausência de alternativa ao transporte público; não conduzir e/ou não ter transporte individual.

Ou seja, num território multidependente de relações de residência, trabalho, compras /lazer e de satisfação das necessidades da populações, não se verifica uma rede de transportes colectivos adequada, em que a população que usa os transportes públicos, o faz porque não tem alternativa nem transporte individual, não porque o transporte público seja eficaz e eficiente, pelo que o transporte público é um motivo de exclusão, por um lado, pela inexistência e impossibilidade de acessibilidade, e por outro, porque proporciona uma fraca resposta e níveis incipientes de mobilidade à população que de si estará em condições mais frágeis pela ausência de alternativas. No limite, se todos tivessem condições, não utilizariam transportes públicos, e todos se deslocariam em transporte individual, o que constitui um paradoxo da mobilidade urbana e metropolitana.

Tito Miguel Pereira
Consultor

Artigo disponível, na íntegra, na edição de 11 de março de 2021. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro, a partir de 28.5€.