ENTREVISTA. Miguel Maia completou 50 anos na sexta-feira (dia 23). É um verdadeiro fenómeno no mundo do desporto, mantendo-se ainda como jogador de voleibol. Detentor de um impressionante currículo, o jogador que marcou presença em três olimpíadas, regressa às origens, vestindo a camisola da Académica de Espinho (AA Espinho) para jogar junto do filho. Uma vida dedicada ao desporto e ao voleibol em particular. O atleta não esconde que, um dia, poderá vir a candidatar-se à presidência da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV).

O princípio da carreira no voleibol foi na AA Espinho. Será que é por aí que irá terminar a carreira de jogador?

Vou terminar a minha carreira de jogador na AA Espinho porque acho que o devo fazer. Foi um clube que me formou, onde me senti muito bem e de onde saí muito cedo, depois de ter sido campeão nacional em 1989/1990. É uma forma que tenho de agradecer. Tenho um espírito de gratidão e gosto de agradecer a todos os clubes por onde passei, bem como a todas as pessoas que me ajudaram. No caso da AA Espinho acho que faltou fazer algo. Devo dar o meu contributo, também, com a experiência que fui adquirindo ao longo de muitos anos. Ainda tenho algo a dar a este clube.

O seu sonho é mesmo jogar com o seu filho Guilherme, na mesma equipa?

Este sonho foi-se concretizando nesta parte final da minha carreira desportiva. Ele começou a jogar voleibol e a gostar desta modalidade. O Guilherme atingiu o escalão sénior com 16 anos e como a minha carreira se foi prolongando, este encontro poderia vir a acontecer. Este sonho irá acontecer na próxima época e, para mim, será um momento muito feliz. Acima de tudo, irei poder estar ao seu lado para o ajudar a fazer crescer. Fá-lo-ei com ele e com todos os outros que fazem parte da equipa. Vou aproveitar esta oportunidade para incutir valores e experiência profissional aos jovens jogadores.

Os 50 anos será o limite como jogador de voleibol?

Farei uma avaliação ano após ano. Se me sentir em condições físicas e se sentir que as pessoas me querem e que gostam que continue a ajudar, continuarei a jogar. Jogar e treinar voleibol é aquilo que mais gosto de fazer. Tenho uma grande paixão pela modalidade pois foi a que escolhi a partir dos seis anos de idade. Gosto de estar em grupo e, por isso continuarei a jogar voleibol.

Quando assumiu como treinador a equipa do SC Espinho, chegou a pensar-se que seria esse o ponto final da sua carreira como jogador…

Nessa altura sentia-me muito bem a jogar. Fui treinador da equipa por seis meses porque houve um desentendimento entre a direção do clube e o treinador, o professor Rui Pedro Silva. Como capitão de equipa, para não deixar o vazio, dei um passo em frente e assumi, interinamente, a função de treinador. Depois disso já se passou mais de uma década! Continuo a jogar. Se quisesse ser treinador já o poderia ser porque tenho o curso de nível três. Neste momento, sinto-me bem a jogar e é dessa forma que irei dar o meu contributo à modalidade.

Do que se recorda desses primeiros tempos do voleibol na Académica de Espinho?

Em 1987/1988 subimos à 1.ª Divisão, quando tinha 16 anos. Foi o viver um sonho, com momentos muito bons. A equipa era formada por verdadeiros amigos, com pessoas, quase todas, de Espinho. Foi uma equipa que cresceu e que conquistou o seu espaço a nível nacional. Foi campeã da 2.ª Divisão. No ano seguinte ficou em segundo lugar na 1.ª Divisão e, depois, foi campeã da 1.ª Divisão. Foram três anos fantásticos que nunca irei esquecer. Talvez me tenham despertado para a carreira.

Dizem que o Miguel Maia é um superdotado para o desporto e que joga tão bem o voleibol como, por exemplo o futebol. Por que razão não escolheu o futebol? Não teríamos um Miguel Maia primeiro que um Luís Figo ou do que um Cristiano Ronaldo?

Gosto de jogar futebol e sempre tive jeito para esse desporto. Há 45 anos, éramos todos ‘meninos de rua’, pois era na rua que fazíamos tudo, de manhã à noite. Jogávamos voleibol, futebol, hóquei em campo, basquetebol… Praticávamos tudo e mais alguma coisa. A nossa geração teve esse privilégio de poder brincar na rua de manhã à noite. Se calhar, as minhas qualidades técnicas nas várias modalidades passam por ter podido ter contacto com a bola. Recordo-me que fiz campismo em Cortegaça durante 13 anos e que jogava futebol com o Jorge Costa, que veio a ser capitão do FC Porto. Jogámos na mesma equipa e atrás, a defesas. Um ‘olheiro’ chamou-nos para irmos jogar futebol para o Porto. O meu pai não me deixou ir. O Jorge Costa foi e seguiu essa carreira. Eu fui para o voleibol porque não era fácil ir para o Porto todos os dias. O meu pai achava que eu deveria praticar desporto num pavilhão que tinha a 200 metros de minha casa. Treinava num recinto coberto e não estava exposto à chuva e à lama do futebol.

Escolheu a posição de distribuidor quando sempre atacou muito bem devido à sua extraordinária impulsão…

Artigo disponível, na íntegra, na edição de 29 de abril de 2021. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro, a partir de 30 €.