Do empobrecimento relativo dos espinhenses

O novo milénio não tem sido favorável para o rendimento dos espinhenses. De 2002 a 2018, o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem, a preços correntes, cresceu 312,20 Euros, tendo sido o que menos cresceu de entre os municípios que integram a Área Metropolitana do Porto (AMP) (apenas Vale de Cambra apresenta um crescimento inferior, de 235,00 Euros mensais, embora detinha um ganho médio mensal superior ao espinhense). Este registo traduz um empobrecimento relativo dos espinhenses face à média nacional, que cresceu, no mesmo período, 349,50 Euros mensais.

A evolução é divergente no período em análise, com uma perda acentuada de rendimentos na primeira década do milénio, e uma ténue recuperação na segunda década, insuficiente para melhorar significativamente os rendimentos dos trabalhadores.

No início do milénio (2002), o ganho médio mensal dos trabalhadores espinhenses era de 664,80 Euros (81,3% do ganho médio mensal nacional), inferior aos 817,40 Euros da média dos trabalhadores portugueses. Este registo colocava Espinho na “segunda metade” dos municípios da AMP, situando-se na 10ª posição entre os seus 17 municípios.

A primeira década (2002-2010) não foi favorável para os trabalhadores espinhenses, cujo ganho médio mensal foi o que menos cresceu em toda a área metropolitana, com um aumento de apenas 190,20 Euros, bastante inferior à média nacional que cresceu 257,90 Euros, o que traduz um claro e óbvio empobrecimento relativo dos trabalhadores espinhenses face à média nacional.

Na verdade, S. João da Madeira e Vale de Cambra apresentaram, neste período, crescimentos inferiores ao espinhense, mas quer no ano de partida, quer no ano de chegada, apresentavam ganhos médios mensais superiores.

O ganho médio mensal dos espinhenses aumentou assim de 664,80 Euros (2002) para 855,00 Euros (2010), mas o ganho médio mensal nacional aumentou de forma mais significativa, de 817,40 Euros para 1.075,30 Euros, pelo que o ganho médio mensal dos espinhenses baixou para 79,5% da média nacional.

Desta forma, Espinho baixou quatro posições, passando a ser apenas o 14º município da AMP com ganhos médios mensais mais elevados, entre 17 municípios, ou, dito de outra forma, o quarto município dessa região com os ganhos médios mensais mais baixos.

Na segunda década deste milénio (2010-2018) assistiu-se a uma ténue recuperação do ganho médio mensal do espinhense, com um acréscimo de 122,00 Euros mensais, num crescimento superior à média nacional, que neste período cresceu apenas 91,60 Euros mensais.

Esta evolução permitiu a recuperação de uma posição no ranking metropolitano, colocando-se no 13º posto na ordenação dos municípios com ganhos médios mensais mais elevados, entre os 17 municípios da AMP.

Não obstante, esta incipiente recuperação fica aquém do desejável e da aproximação à média nacional: apesar da melhoria, o ganho médio mensal dos trabalhadores espinhenses representava, em 2018, apenas 83,7% do ganho médio nacional.

As estatísticas do rendimento ao nível local, verificáveis pelos valores declarados de rendimentos de IRS, atestam os níveis de baixos rendimentos dos espinhenses, relativamente aos seus congéneres metropolitanos e à média nacional.

Com efeito, os rendimentos dos agregados familiares espinhenses ficam aquém da média metropolitana, com 50% das famílias a declararem rendimentos inferiores ou até 10.731 Euros, quando o valor mediano a nível nacional é de 11.039 Euros e o valor mediano metropolitano é de 11.072 Euros, sendo apenas o 10º município da AMP com maiores rendimentos.

Acresce o facto de 10% dos agregados familiares apresentarem declarações com rendimentos inferiores ou iguais a 4.046 Euros, o quinto pior registo dos municípios da AMP, sendo demonstrativo da desigualdade na distribuição de rendimentos, com uma maior diferença entre os agregados familiares de rendimentos mais baixos e de rendimentos mais elevados, constituindo o sexto município da AMP com maior desigualdade na distribuição de rendimentos.

As estatísticas do rendimento ao nível local, verificáveis pelos valores declarados de rendimentos de IRS, atestam os níveis de baixos rendimentos dos espinhenses, relativamente aos seus congéneres metropolitanos e à média nacional

Por sectores de actividade, constata-se que em nenhum deles existem ganhos médios mensais superiores à média nacional, ficando todos aquém dos registos nacionais. Os ganhos médios mensais que se aproximam mais das médias nacionais verificam-se em sectores cujos ganhos são também mais reduzidos e com pouca diferenciação, em actividades económicas associadas à “agricultura, produção animal, caça, silvicultura e pesca” (95,2%), com um dos maiores afastamentos a verificar-se nos sectores dos serviços, no qual os ganhos médios mensais dos espinhenses correspondem a apenas 81,9% do ganho médio mensal nacional.

Constata-se ainda que os ganhos médios mensais dos espinhenses se aproximam mais dos ganhos médios mensais nacionais nos trabalhadores com inferiores níveis de escolaridade, e com ganhos mais reduzidos, e afastam-se de forma mais significativa dos ganhos da média nacional entre os trabalhadores com níveis de escolaridade mais elevados.

O ganho médio dos trabalhadores espinhenses, com o 1º ciclo, é de 809,80 Euros, correspondente a 95,8% da média nacional, de 845,20 Euros, num afastamento de 35,40 Euros mensais. A diferenciação mais significativa nos níveis de escolaridade superiores, com ganhos médios mensais de 1.506,10 Euros em Espinho, correspondendo a 81,3% dos ganhos médios mensais nacionais de 1.853,30 Euros, num afastamento bem significativo de 347,20 Euros mensais.

Os dados por nível de qualificação permitem de igual forma confirmar que é nas profissões menos qualificadas, e com menores rendimentos, que os ganhos médios se aproximam mais da média nacional, de 92 a 96% nos profissionais semiqualificados, não qualificados e praticantes e aprendizes, e com maior afastamento entre encarregados, contramestres e chefes de equipa (78%), profissionais altamente qualificados (81%) e os quadros superiores (89%).

Constata-se assim que as posições mais qualificadas são renumeradas de forma menos atractiva em Espinho, e que, tratando-se de posições com níveis de escolaridade superiores, revelam actividades de pouco valor acrescentado, menos sofisticadas e de menor capacidade de valor acrescentado, que evidenciam uma perda de atractividade económica e de perda de profissionais qualificados, e confirmam a tendência de empobrecimento relativo dos rendimentos dos espinhenses, comparados com os seus congéneres metropolitanos.

Tito Miguel Pereira
Consultor

*O autor escreve ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico