O rosto da livraria/papelaria ABC nasceu há 68 anos, em Paramos. O pai teve de emigrar para o Brasil, para minimizar as carências dos filhos, cuja mãe também se sacrificava ante as agruras da vida e o pouco que havia. Por isso, Joaquim Meneses aprendeu cedo a dar valor ao trabalho e a ter os pés assentes no chão que pisa. É uma vida tão farta quão orgulhosa de trabalho, em que ainda teve oportunidade para ser presidente da Assembleia da sua freguesia.

Foi dura a vida antes de encetar a atividade na ABC?
A minha vida foi dura e ainda é, mas reconheço que está bastante melhor. Tive de trabalhar bastante e ainda o faço. Eu andava no antigo 4º ano do ensino secundário, na antiga Escola Comercial e Industrial, em Espinho, mas os meus pais não tinham muitas condições económicas, nem para me dar um dicionário. Andava descalço quando era criança e de vez em quando calçava umas chancas, que tinham uma base feita num género de madeira e eram duras em toda a sua forma. Jogava à bola sempre descalço e a bola era de pano. Cresci com muitas carências e não tenho virado a cara à luta da vida, trabalhando 14 horas por dia.

O serviço militar no ex-ultramar levou-o para longe de Paramos…
Fui para a tropa em 1973 e estive lá 14 meses, tendo sido mobilizado para Moçambique. Fui para o sítio de que hoje se fala muito, Cabo Delgado. Agora há lá guerra outra vez e aquele povo continua a sofrer! De facto, estive em Pemba, que antigamente se chamava Porto Amélia. Eu gostava muito daquela cidade que fazia lembrar Espinho. É uma cidade banhada pelo Oceano Índico e era lindíssima!

E recorda-se da guerra colonial?!
Não é bom recordar, mas éramos obrigados a cumprir serviço militar e a expormo-nos em situações de combate. Estive na guerra em 1974, mas cheguei a Moçambique um mês e tal antes do 25 de Abril. E até pensávamos que as coisas iriam melhorar com o 25 de Abril, mas aquela região voltou agora a ser cenário de conflito. No tempo da Guerra do Ultramar já eram lançadas bombas de um metro e 80 de altura e com 20 centímetros de diâmetro. E, afinal, dantes como no presente, ainda há muitas vítimas de guerra naquela região africana.

O trabalho também se afigura uma luta de vida?
A vida é uma luta e o trabalho faz parte dela. O primeiro emprego a sério que tive foi na Eurospuma, entre Guetim e São Félix da Marinha, em setembro de 1975. Estive lá cinco anos e gostei bastante. Depois fui para a empresa Matos & Oliveira, onde era a antiga repartição notarial, na Rua 15, por trás da Câmara Municipal. E estive lá também durante cinco anos. Era uma empresa de produtos de embalagem e que agora está localizada em Nogueira da Regedoura.

Foi então que a ABC se tornou no seu “porto de abrigo” (ainda mais perto do mar)?
Surgiu a oportunidade de ir para a ABC, que fora fundada em 1975. Eu fazia trabalhos de escritório e contabilidade, mas surgiu a oportunidade de se mudar a propriedade da ABC. Disseram-me assim: “Se um dia vendermos isto, a prioridade será para ti” …

E assim foi…
De facto, assim foi. Aproveitei logo a oportunidade. Era e é uma casa pequena em termos de espaço, desenvolveu-se bastante e expandiu o seu nome. É uma referência da cidade de Espinho, mas dá muito trabalho e, principalmente, muita preocupação.

É assim tão preocupante?

Conheça a história de vida do proprietário da icónica papelaria da Rua 19, numa entrevista que pode ler na integra na edição de 20 de maio da Defesa de Espinho. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro, a partir de 30€.

FOTOS: Francisco Azevedo