Rainha, mas pouco!

Portando, outrora, o epíteto de Rainha da Costa Verde, Espinho parece não ter capitalizado da melhor forma o desenvolvimento excepcional que a actividade turística tem demonstrado nas duas últimas décadas, não granjeando, neste novo milénio, dos níveis de atractividade ímpares que foram apanágio de outros tempos.

Reconhecida como uma estância turística com inúmeros atractivos, popular e cosmopolita, Espinho parece ter-se retraído como local de interesse para os seus visitantes nacionais e internacionais, perdendo tracção no dealbar do novo milénio e, desde então, não potenciando da melhor forma o crescimento que a dinâmica turística tem demonstrado globalmente.

Em Portugal (Continental) a oferta turística cresceu 65% entre 2009 e 2019, para cerca de 390.000 camas. Esse crescimento foi ainda mais assinalável na Região Norte (91%) e na Área Metropolitana do Porto (88%), que viram praticamente duplicar a sua capacidade de oferta turística, em número de camas.
Espinho verificou um crescimento menos expressivo da sua capacidade turística, acrescentando 187 camas às 856 que se contavam em 2009, apresentando uma capacidade actual, em 2019, de 1043 camas, um incremento de apenas 22%, no que constitui o quinto crescimento menos expressivo entre os municípios da Área Metropolitana do Porto (AMP).

A procura turística de visitantes nacionais e estrangeiros tem aumentado significativamente em Portugal, registando um crescimento de 120% entre 2001 e 2019, mais do que duplicando as 27,4 milhões de dormidas ocorridas em 2001 com um número recorde de 60,4 milhões de dormidas em 2019.
O crescimento da procura de visitantes nacionais e estrangeiros, ocorrido na Região Norte de Portugal, foi ainda mais expressivo, com um aumento de 255% no número de dormidas: de 3 milhões de dormidas (2001) para mais de 10,8 milhões de dormidas (2019).

No mesmo período, Espinho não beneficiou da presença do número recorde de visitantes nacionais e estrangeiros que pernoitaram na Região Norte, tendo registado um crescimento de apenas 30% no número de dormidas entre 2001 (97.247) e 2019 (126.217).

Esta perda de atractividade relativa é também verificável na menor capacidade de atracção de visitantes estrangeiros, quer na quota de hóspedes, quer no crescimento verificado nos últimos vinte anos (2001-2019). Em Portugal Continental, a proporção de hóspedes estrangeiros no total das dormidas aumentou 7,3 pontos percentuais (p.p.), registando uma proporção de 59,7% de hóspedes estrangeiros no total de dormidas.

O aumento foi mais significativo na Região Norte de Portugal, cuja proporção cresceu 18,7 p.p. entre 2001 e 2019, registando agora uma quota de hóspedes estrangeiros de 52,8%. Neste item, Espinho evidencia igualmente um crescimento mais moderado, de apenas 5,6 p.p. de 2001 a 2019, alcançado agora uma quota de hóspedes estrangeiros de 55,8% no total das dormidas registadas no Concelho.

Como se constata, Espinho apresenta uma proporção de hóspedes estrangeiros superior à registada na Região Norte de Portugal (52,8%), mas inferior à média nacional (59,7%) e muito aquém da proporção de hóspedes estrangeiros registada na Área Metropolitana do Porto (64,1%).

A prevalência de maior ou menor quota de hóspedes estrangeiros releva quer para a balança de pagamentos, (considerando-se as vendas em território nacional a não nacionais/não residentes como exportações), quer para a mais-valia de valor turístico, decorrente do maior poder aquisitivo dos hóspedes estrangeiros, que apresentam um gasto médio diário per capita de 95,70 euros (2016), bastante superior aos 37,40 euros (2019) que se referem à despesa média realizada por residentes em turismo no território nacional.

Em relação à capacidade de potenciação e capitalização dos proveitos com dormidas, Espinho revela uma perda mais significativa do que a registada nos indicadores anteriores, quando comparada com os dados registados ao nível regional e nacional. Com efeito, os proveitos com dormidas em alojamentos turísticos registaram um aumento de 264% em Portugal, mais do que triplicando os 788 milhões de euros registados em 2001, para os 2.872 milhões verificados em 2019.
A Região Norte de Portugal tem revelado um forte crescimento na sua actividade turística, sendo ainda mais expressivo o crescimento nos proveitos que se registou entre 2001 e 2019 que, com um crescimento de 401%, mais do que quintuplicou os 99 milhões de euros de proveitos em 2001, para os 497 milhões de euros de proveitos em 2019.

Constata-se que Espinho apresenta uma proporção de sazonalidade bastante mais acentuada que os níveis registados quer a nível nacional, quer a nível regional, em que as dormidas verificadas nos meses de Julho a Setembro representam 41,9% do total de dormidas verificadas ao longo de todo o ano.

No caso espinhense, o panorama de crescimento dos proveitos com dormidas em alojamentos turísticos não é tão animador, tendo registado um crescimento de apenas 68%, cujos proveitos aumentaram de 3,2 milhões de euros em 2011, para os 5,3 milhões de euros de proveitos em 2019, um valor que nem sequer duplica o montante de proveitos registado há vinte anos.
Outro dado a merecer particular atenção refere-se à sazonalidade da actividade turística, medida pela proporção de dormidas registadas no Verão, entre os meses de Julho a Setembro, no total anual. A proporção de dormidas nos meses de Julho a Setembro, em Portugal Continental é de 36,6%, que compara com um valor inferior registado na Região Norte (33,6%).

Constata-se que Espinho apresenta uma proporção de sazonalidade bastante mais acentuada que os níveis registados quer a nível nacional, quer a nível regional, em que as dormidas verificadas nos meses de Julho a Setembro representam 41,9% do total de dormidas verificadas ao longo de todo o ano.
Uma dependência assinalável da actividade turística concentrada no Verão, revelando uma incipiente capacidade de atracção e diversificação da actividade turística ao longo dos restantes meses do ano, numa dependência estival superior em quase 10 p.p. à proporção verificada na Área Metropolitana do Porto, que se cinge a 32,1%.

Num Concelho em que as actividades de comércio (18%), as actividades de alojamento, restauração e similares (11%), e as actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas (14%) são sectores preponderantes e totalizam, em conjunto, 43% do pessoal ao serviço, esta menor atractividade turística impacta negativamente na dinâmica empresarial, económica e social, criando menos empregos, gerando menores receitas e rendimentos, e impactando também de forma negativa na qualidade de vida e no bem-estar das famílias e dos cidadãos.

O autor escreve sob o antigo acordo ortográfico