Autárquicas – Análise partido a partido

Em vésperas de arranque da campanha autárquica (sim, é verdade, oficialmente ainda não arrancou), fica aqui uma previsão partido a partido.

PS
O PS está condenado a ganhar estas autárquicas. Poderá conquistar mais algumas câmaras ao PCP e ainda aproveitar o dano que o Chega poderá fazer ao PSD em algumas lutas mais renhidas. Ironicamente, até pode ser bom para o PS não conquistar demasiadas câmaras ao PSD para garantir a continuidade de Rui Rio. A prazo, até pode valer a pena dar uma ou outra vitória ao PSD (Coimbra, Funchal?) para garantir que Rui Rio se mantém como presidente do PSD até às próximas legislativas. Seria uma bela prenda de Costa à sua sucessora. Até perdendo por pouco, o PS ganha. Está, portanto, condenado a ganhar.

PSD
Rui Rio tem a sorte de partir de uma base muito baixa e ser difícil afundar-se muito mais. Difícil, mas não impossível. Em câmaras onde a eleição será mais renhida é possível que a nova disposição partidária resulte em perda de câmaras para o PS. Rui Rio arrisca-se a ter uma pesada derrota no “seu” Porto o que será humilhante, mas não inesperado. Salvará o PSD a possibilidade de reconquistar Coimbra ou Funchal. Se o fizer, provavelmente já não se dirá que saiu derrotado. Se por milagre conseguir ganhar Lisboa, poderá celebrar vitória nessa noite eleitoral ganhando força para a disputa interna com Rangel.

“O PS está condenado a ganhar estas autárquicas. Poderá conquistar mais algumas câmaras ao PCP e ainda aproveitar o dano que o Chega poderá fazer ao PSD em algumas lutas mais renhidas. Ironicamente, até pode ser bom para o PS não conquistar demasiadas câmaras ao PSD para garantir a continuidade de Rui Rio”

PCP
As câmaras e os sindicatos são os centros de poder do PCP. Esses centros de poder alimentam-se mutuamente (quem não se lembra dos autocarros de câmaras comunistas a transportar pessoas para manifestações da CGTP?). Ambos estão a enfraquecer, mas continuam importantes. É uma incógnita de onde virão os votos do Chega no Alentejo. Se a teoria que vêm do PCP se confirmar, isso poderá virar algumas câmaras a favor do PS. Se for ao contrário, o Chega até poderá ser a boia de salvação para o PCP no Alentejo. Se recuperar Almada sem perder nenhuma das outras já poderá reclamar vitória, mesmo que diminua o número de votos totais.

CDS
O CDS já teve a sua vitória quando negociou as posições nas listas com o PSD. Agora o sucesso (ou falta dele) das coligações não será mérito (ou demérito) do CDS. O CDS estará quase inteiramente dependente do sucesso do PSD. Manterá a sua presença autárquica mais 4 anos e isso é uma grande vitória dadas as circunstâncias. Uma vitória na secretaria, mas ainda assim uma vitória.

BE
A política autárquica nunca foi o foco do BE. Vai-se passear mais uma vez sem grandes resultados, com candidatos que se candidatam a esforço para segurar votos. Nas últimas elegeu 12 vereadores e teve um terço dos votos da CDU. Nestas não esperarão algo muito melhor e não se parecem importar muito com isso. O seu plano de poder não passa pelas autarquias. A exceção é sempre Lisboa, cujo orçamento para gabinetes e assessores de autarcas é demasiado tentador para resistir, mesmo para um partido com um foco exclusivamente nacional.

PAN
Em 2017 o PAN estava em alta e ganhou lugares nas poucas Assembleias Municipais a que concorreu. Contam-se histórias de deputados municipais que só souberam que tinham sido eleitos no dia seguinte depois de irem para a cama sem grandes expectativas. Provavelmente perderá alguns agora. Tal como o BE, o seu projeto ideológico não passa pelo poder autárquico pelo que não se poderá falar em derrota ou vitória.

Chega
O Chega tem dois resultados nacionais que servirão de pontos de referência para estas autárquicas. A referência por baixo são as eleições legislativas onde tinha tudo contra: poucos recursos, pouca atenção mediática (tirando a do próprio líder na CMTV), sem acesso aos principais debates, um espaço político muito preenchido e uma grande pressão do voto útil. A referência por cima são as eleições presidenciais onde o Chega já teve mais recursos humanos e financeiros, muito mais atenção mediática fruto da eleição para a Assembleia da República, acesso aos debates televisivos, um espaço político vazio e pouco apelo ao voto útil. As eleições autárquicas estão num ponto intermédio entre estas as legislativas e presidenciais no que toca a condições de partida. Tal como nas presidenciais, o Chega terá mais recursos, mais atenção mediática e maior reconhecimento público por ser agora um partido representado na Assembleia da República, mas o acesso aos debates dos candidatos locais é limitado, o campo político está mais ocupado e o apelo do voto útil é maior. Será de esperar que o resultado das autárquicas fique algures entre o das Legislativas e o das Presidenciais. A avaliação do sucesso dependerá de ficar mais próximo do resultado das Presidenciais ou mais próximo do resultado das Legislativas. Neste referencial as perspetivas não são boas. Ter menos votos do que nas legislativas seria um tremendo fracasso, mas é altamente improvável. Mas ainda mais improvável é ter mais do que nas presidenciais, ou sequer aproximar-se desse valor.

O Chega terá vereadores e deputados municipais um pouco por todo o país e isso será considerado uma vitória, mas ficará claro que uma boa parte daqueles 500 mil votos das presidenciais desaparecem quando chegam eleições em que esses votos contam para algo concreto na vida das pessoas. O melhor que o Chega pode aspirar é não perder muitos dos 500 mil votos. A minha aposta é que perderá mais de metade desses votos.

Iniciativa Liberal
O primeiro parágrafo da análise ao Chega aplica-se à IL com as devidas adaptações. A grande diferença é que será muito mais fácil à IL atingir um resultado próximo, ou até superior, ao das presidenciais, mas igualmente improvável sofrer o fracasso de ficar abaixo do resultado das legislativas. O fosso para o Chega que se abriu nas presidenciais, mas que se fecha nas sondagens para eleições legislativas (onde há menos propensão ao voto de protesto e maior aposta na perceção de capacidade dos candidatos), provavelmente também se fechará nas autárquicas, pelo mesmo motivo. O facto de concorrerem a menos câmaras poderá fazer diferença nestas contas, mas como concorrem às câmaras mais populosas e nos concelhos onde obtiveram mais votos (exceto o Porto), é improvável que afete muito. Se a IL conseguir superar o resultado das presidenciais numas eleições muito mais difíceis como as autárquicas, será um excelente indicador para as Legislativas.

Volt
O Volt cometeu o enorme erro de não se ter apresentado a eleições nas Europeias em 2019. É um partido cuja mensagem distintiva (goste-se ou não dela) está focada na política europeia e até pode ser atrativa para a geração mais nova. Uma estreia numas eleições europeias poderia ter trazido um bom resultado, impulsionando o partido para outro patamar. Teria também trazido qualidade ao debate numas eleições onde raramente se discute aquilo que deve ser discutido, a Europa. Estrear-se numas eleições autárquicas, demasiado longe da sua mensagem distintiva, é um erro e meio caminho andado para dissabores presentes e futuros. Uma pena.

PPM
A subjugação do PSD a um partido que quase só existe em três ilhas nos Açores é um dos mistérios da política portuguesa, que apenas se justifica porque um antigo líder se sentou com Sá Carneiro há 40 anos. Em todas as autárquicas, lá aparece o logotipo do PPM ao lado do PSD sem se perceber que valor acrescentam. Em Lisboa, a confirmar-se a história sobre a exclusão de Aline Beuvink e o comportamento do seu líder em todo o caso, o PSD só tinha uma atitude correta: levantar-se da mesa onde estava sentado Gonçalo da Câmara Pereira e nunca mais se voltar a sentar. Não o ter feito deveria envergonhar todos os (e, principalmente, todas as) militantes do partido.

Aliança, PDR e MPT
Talvez faça sentido fundirem-se. Sempre se poupava espaço nos cartazes de coligações.

JPP
Em princípio ganhará mais câmaras que o BE.

Carlos Guimarães Pinto
Economista / Professor Universitário