Devolver Espinho aos espinhenses e outros sacos rotos

Considero as eleições autárquicas dos momentos mais importantes que a democracia nos permite. Por ser algo tão próximo e com influência direta no dia a dia de cada um. Porque posso dar o meu voto a quem terá a responsabilidade de pôr mais candeeiros na minha rua ou queixar-me porque vinham para arranjar a canalização da cidade e afinal a coisa continua a rebentar semana sim, semana não. Portanto, fiz o trabalho de casa e, em vez de pôr aquelas dezenas de papeis que agora nos enchem a caixa do correio diretas na reciclagem acompanhadas de um “são todos iguais”, fui analisar o programa de cada candidato à câmara municipal, ainda que aqui aborde apenas o dos principais candidatos. Até debates eu vi. Escusam de agradecer, espero que ajude à vontade de saírem de casa para votar e que a cruz não vá direta para aquela lista onde conhecemos mais caras.

Porque, lá para o meio da frase vaga “devolver Espinho aos espinhenses” que todos parecem adorar para fazer manchetes de jornal, e da promessa de “rendas acessíveis para jovens”, que me remete a uma expressão muito usada por um presidente da junta de uma das freguesias, há alguns anos, que tanto reivindicava um novo “edifício-sede da junta” que aquilo quase já soava a uma palavra única (e não, nunca veio a acontecer por muito que se tocasse naquela tecla), tem que haver ideias concretas que não caiam em saco roto. A partir de segunda-feira, cá estaremos para a prestação de contas e com esta pequena lista para fazer o “check”.

“Tem que haver ideias concretas que não caiam em saco roto. A partir de segunda-feira, cá estaremos para a prestação de contas e com esta pequena lista para fazer o ‘check”

Começando porque lá está, deixo propositadamente de lado o que foi feito. Os próximos quatro anos não podem viver dos louros do passado. Diz o PSD que passa pelos seus objetivos estratégicos promover uma rede de cuidados de saúde primários de qualidade com todos os centros de saúde com melhores condições de atendimento, novas valências de saúde oral e mental, e a abertura de um ACES específico para a cidade.
Na habitação, a promessa vai para os incentivos para uma maior oferta de habitação a custos acessíveis e para o arrendamento jovem, para a implementação de uma estratégia local, a reabilitação dos bairros sociais, a redução do IMI “paulatinamente”, ou a criação de um centro de acolhimento de emergência para pessoas em situação de sem-abrigo.

Fala ainda de bolsas de estudo, de apoio à fixação de empresas tecnológicas e ao investimento privado que crie postos de trabalho, da construção de uma nova piscina municipal, parques para desportos radicais, um abrigo para animais de rua, um parque canino, partilha de bicicletas, e um corredor ciclável. Os sociais-democratas anunciam também um orçamento participativo “verde” e o aumento do Parque da Cidade.
Requalificações várias, pois claro, entre elas as dos centros urbanos nas freguesias, a da Rua 2 e a da Vila Manuela (para quem não sabe, é aquela vergonha em ruínas na Rua 23, entre a Biblioteca e o Centro Multimeios).

À esquerda, no PS, também se fala da requalificação daquele edifício centenário, e juntam-se a da Praça dos Combatentes, do Balneário Marinho e do Mercado Municipal. O programa dos socialistas inclui a criação de um plano de saúde com uma nova unidade de saúde entre Silvalde e Paramos, outra em Guetim, mais serviços como um plano de saúde oral, a reabertura da extensão da Marinha, e a ampliação da unidade de Espinho e a requalificação da de Anta.

Do programa de habitação fazem parte medidas como a construção de novos fogos nas freguesias com preços acessíveis, uma bolsa de arrendamento comparticipada, a simplificação de licenciamentos, ou a redução das taxas de construção. Há a ideia de fazer de Anta a Capital do Violino com hotel e sala de espetáculos, diz que vai criar manchas verdes, promover a limpeza e higiene do concelho, criar um parque urbano junto da Ribeira de Silvalde e dar um novo espaço e mais recursos à CPCJ.

Naquilo que foram os antigos quarteis dos bombeiros, devem nascer um centro cívico e habitação acessível e o Largos dos Altos Céus será reabilitado. Para Guetim a ideia será investir na rede viária, na mobilidade e num polo habitacional. E, passo a citar, “transformar Espinho um dos municípios mais seguros do país” (isto porque, atualmente, terá a segunda pior taxa de criminalidade do distrito).

O partido anuncia ainda uma incubadora de ‘startups’, espaços de ‘coworking’ e um gabinete de apoio a empresas associado a incentivos fiscais para captação de investimentos criadores de postos de trabalho. Não esquecer que, caso sejam eleitos, os socialistas estão a dizer que vão baixar o IMI e reduzir a fatura da água.

Fica assim escrito o resumo possível das ideias mais concretas e menos vagas que consegui encontrar, ainda que eu tenha ficado algo baralhada com tanta coisa a ser “uma prioridade” sobre as outras. Se estou plenamente convicta do que vou fazer no domingo? Não estou. Mas não quero ir para lá às cegas, quero saber que não estou a votar nas caras, mas nas ações concretas. Cá estaremos para ver se o nosso voto se traduziu em qualidade de vida para os espinhenses. Todos, não contam só alguns. Se não estivermos todos bem, Espinho não estará melhor, não ficará nada bem.

Cláudia Brandão
Jornalista