José Luís Brandão, médico de 53 anos, natural de Espinho, é o diretor clínico do Centro Hospitalar do Baixo Vouga [Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro]. Foi médico num hospital privado antes de assumir estas funções. Nunca pensou, enquanto jovem, vir a ser médico, uma vez que se sentia vocacionado para a área das humanidades. No entanto, as suas notas ‘levaram-no’ ao curso de Medicina. Só mais tarde, em contacto com os doentes e com o meio hospitalar, assumiu a sua verdadeira vocação. É médico internista, intensivista e lidou diretamente com a pandemia. José Luís Brandão considera-se, também, um ser político.

As suas raízes assentam em Espinho…

Não só as minhas raízes como toda a minha vida. Aqui nasci, aqui cresci, aqui casei e aqui nasceram os meus filhos. Estudei e comecei a exercer a minha vida profissional em Espinho.

O seu pai, professor Geraldo Brandão, foi uma figura ligada ao desporto…

O meu pai levou o desporto para dentro de casa e todos nós sempre fomos fervorosos adeptos do desporto. Mas o meu pai era muito mais do que isso! Lia imenso e conseguiu transmitir-me esse gosto muito particular pela leitura. No entanto, todos acompanhámos os jogos quando ele era treinador de futebol. Por isso, eu e os meus dois irmãos sempre tivemos uma vivência muito intensa na área do desporto.

Como apareceu a Medicina na sua vida?

Sou um médico que só começou a gostar de Medicina quando comecei a trabalhar. Sempre me achei com mais vocação para a área das humanidades ou das línguas estrangeiras. Na altura, havia a tradição de que, quem tinha boas notas, tinha a porta aberta para a Medicina. Fui levado nessa corrente. Entrei no curso e, até aí, não me foi despertado um especial apreço por ser médico. No entanto, quando tive o primeiro contacto com os doentes e com a dinâmica hospitalar, passei a gostar imenso da Medicina. Passei a adorar aquilo que faço e não o trocaria, por nada, neste momento. Este meu percurso não é o habitual. Foi acontecendo e resulta de um processo de aprendizagem e de uma dinâmica.

A sua especialidade é a de Medicina Interna.

A Medicina Interna tem uma abordagem holística do doente; menos técnica, resultante mais do raciocínio médico e de olhar o doente na sua globalidade. Esta sim, foi uma primeira escolha e da qual muito me orgulho.
Fiz um percurso complementar na área da Medicina Intensiva porque pretendi saber muito mais sobre o doente crítico, mas sempre na visão global do doente e não de uma especialidade alocada a um sistema, a um órgão.

Perante todo o cenário pandémico pelo qual passámos, escolheria a mesma especialidade?

Na altura em que surgiu a Covid-19 estava a trabalhar num hospital privado, que não recebia esses doentes. Só conhecíamos a pandemia pelos livros. Nós, médicos, sabíamos que tinha havido a gripe espanhola e isso faz parte da história da Medicina. Achávamos que nunca nos iria acontecer no nosso tempo. Estava a acompanhar tudo isso um pouco à distância. A fazer Medicina Intensiva, mas no setor privado.
Quando me apercebo da envolvência da pandemia no setor público e com a carência extrema na área para a qual me tinha formado, ‘ofereci o corpo às balas’ e disponibilizei-me, de forma voluntária, para começar a trabalhar num hospital público na área do doente Covid. Foi quase como um apelo àquela minha faceta jovem de estar muito perto das situações da proximidade do doente e da ajuda.

Não terá sido um risco?

A Covid-19 era um risco para todos nós. Todos tínhamos de participar, porque não havia alternativa! Somos nós que estamos preparados para lidar com situações extremas. Na nossa profissão aprendemos a correr o risco e a saber lidar com ele.

Sentiu um espírito de solidariedade da sua família nessa altura?

Houve um impacto na família, sobretudo nos primeiros tempos. Houve a necessidade de algum isolamento social e também algum receio. Houve alguma alteração da dinâmica familiar, mas como a minha mulher também está ligada à área da saúde [enfermeira], foi mais fácil que isso fosse executado. Todos compreenderam esse momento de especial contingência.

Acha que Portugal seguiu o melhor caminho na resposta à pandemia?

Entrevista completa na edição de 28 de outubro de 2021. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 30€.