“A alfaiataria está em extinção”, constata penosamente Domingos ‘Salgueiro’, o alfaiate da Idanha, presumivelmente o único ainda em atividade, aos 77 anos, no concelho e dos poucos do distrito.
“Já ninguém quer ser alfaiate, pois o trabalho é todo feito à mão e demora-se anos a aprender a arte. Não basta pegar numa agulha e dar meia dúzia de pontos. Na confeção de pronto-a-vestir cola-se, vira-se do avesso e está o casaco do fato ‘resolvido’ e depois junta-se uma marca qualquer para se dar um balúrdio”.

Domingos de Sousa Silva (‘Salgueiro’ de alcunha familiar), nascido há 77 anos, no lugar da Guimbra, em Anta, desabafa com o manequim que já vestiu muitos casacos, de fatos encomendados ao longo de décadas na sua alfaiataria da Idanha. De facto, a azáfama já extremou e agora o som do transístor já não é silenciado pelo costurar das máquinas e das dinâmicas de outros afazeres.

Domingos não começou a trabalhar na alfaiataria. O primeiro emprego foi na livraria Livrália, quando tinha 11 anos. Mas é de uma família de alfaiates. O avô, o pai, o irmão, a irmã e as primas trabalharam nesta arte. “Como se dizia que na alfaiataria tinha de se trabalhar muito e ganhava-se pouco, então eu não queria optar por ser alfaiate. Fui para uma fábrica de vassouras e andei a trabalhar por aí, até que aos 15 anos fui para a alfaiataria.”

Trabalhou, então, nas ruas 11 e 15, “perto das camionetas de Espinho para o Porto”, e quando regressou do serviço militar laborou numa fábrica de confeções que existia junto aos antigos bombeiros espinhenses. “Mas, por qualquer motivo, aquilo deu o berro e vim trabalhar para casa aos 26 anos. A partir daí, foi sempre dar no duro de dia e noite. A minha mulher teve o nosso filho mais velho em 1970 e no outro dia já estava a trabalhar comigo. Era a época em que se mandava fazer um fato para o passear em dia de festa ou ao domingo e as pessoas davam muito valor ao fato. Agora nem sequer passa pela cabeça usar-se fato, salvo se o trabalho assim exigir.”

Veja a entrevista, na íntegra, na edição de 06 de janeiro de 2022 do jornal Defesa de Espinho.