Ambientalismo, uma visão de mercado

Foi lançado na semana passada o livro “Ambientalismo, uma visão de mercado” que visa oferecer uma alternativa de soluções aos problemas ambientais do nosso tempo. Durante demasiado tempo, permitiu-se que a agenda em torno do ambientalismo fosse dominada apenas por uma área política que instrumentaliza o tema para atingir velhos objetivos ideológicos e oferece alternativas que, de tão impraticáveis, dificilmente se poderia chamar soluções. Uma dessas alternativas, uma das mais populares, é o decrescimento, uma solução que nos levaria aos níveis de vida dos anos 70 ou 80, algo politicamente impossível de atingir numa democracia (para além de indesejável).

Se a via do decrescimento é uma impossibilidade a todos os níveis, qual é então a alternativa? Quando Thomas Malthus nos avisou para os riscos de fome devido ao aumento de população em resultado da falta de capacidade do planeta para alimentar tantas pessoas, a população humana era de mil milhões. Hoje existem 8 vezes mais pessoas no mundo, mas no país de Malthus quase não há fome. Pelo contrário, há mais problemas de saúde relacionados com o excesso de peso do que com a fome. O problema que Malthus pensava que iria afetar a humanidade para o resto da sua existência (a falta de terra para alimentar uma população em crescimento) resolveu-se graças ao engenho humano e à capacidade de as economias de mercado inovarem, produzindo muito mais com menos recursos. O engenho humano é o único recurso infinito e a economia de mercado o sistema que provou ser melhor a potenciar o crescimento deste recurso. A própria inovação que hoje nos permite aceder a tecnologias amigas do ambiente seria impossível sem um sistema financeiro que permitisse esse tipo de investimento, mesmo quando parte desse investimento é público. Um sistema económico que não permitisse a acumulação de capital, como defendem alguns ambientalistas, seria um sistema incapaz de gerar a inovação que nos permitirá continuar a progredir nas tecnologias verdes.

O engenho humano é o único recurso infinito e a economia de mercado o sistema que provou ser melhor a potenciar o crescimento deste recurso

É por isso surpreendente que tantos ambientalistas se recusem a considerar soluções que não passem por reduções catastróficas de consumo a nível global. É ainda mais surpreendente que em muitos casos juntem o ambientalismo a uma aversão pela economia de mercado, o sistema que demonstrou ser mais capaz de gerar a inovação e a capacidade de adaptação que serão tão necessárias no futuro. Se algum dia abdicássemos da economia de mercado para salvar o ambiente, estaríamos a condenar simultaneamente a nossa qualidade de vida e o próprio ambiente de forma definitiva.

Antecipo que muitas pessoas não gostem deste livro. Quem vê no ambientalismo apenas mais uma desculpa para velhas lutas ideológicas, não irá gostar das alternativas neste livro. Já quem tiver uma preocupação genuína, não sectária, pelo ambiente, certamente irá apreciar os conteúdos deste livro, mesmo que não concorde com todos. Para quem se preocupa verdadeiramente com o ambiente, ficar a conhecer soluções de mercado capazes de responder a muitos dos problemas ambientais será uma excelente notícia. Será um sinal de que existem formas de resolver os problemas ambientais sem a repressão e miséria que as soluções radicais representariam. Veremos acima de tudo aqui alternativas realistas, possíveis de serem implementadas em regimes democráticos sem sacrificar a liberdade individual. Para aqueles que odeiam a economia de mercado mais do que gostam do ambiente, para aqueles para quem a destruição do capitalismo é mais importante do que a preservação do ambiente, este livro traz más notícias. Não só os mecanismos de mercado e o capitalismo não são inimigos do ambiente, como são essenciais para a sua preservação no longo prazo.

O facto de a economia de mercado e o capitalismo serem essenciais para os desafios ambientais do futuro não impede que seja necessária alguma introspecção por parte dos seus defensores. Durante demasiado tempo permitiu-se que muitas indústrias impusessem externalidades negativas no ambiente com consequências para todas as outras pessoas, incluindo as que ainda não nasceram. Da mesma forma que não faria sentido uma empresa ganhar dinheiro usando a eletricidade do vizinho e a matéria-prima roubada a um concorrente, também não faz sentido, nem para o mais ardente defensor do laissez-faire, permitir que alguns ganhem dinheiro à custa da imposição de custos ambientais ao resto da humanidade. A incapacidade de fazer reflectir estes custos nos mecanismos de mercado tem sido uma das grandes falhas do capitalismo que é preciso reconhecer e ultrapassar. Não é só o mercado que é essencial para qualquer visão ambientalista sólida e genuína. Também o ambientalismo é essencial para a manutenção de uma economia de mercado saudável sem a concorrência desleal de quem se aproveita de recursos alheios prejudicando outros, especialmente quando esse recurso é o planeta Terra e entre as pessoas mais prejudicadas estão também os mais indefesos: as crianças e aqueles que ainda estão por nascer.

Carlos Guimarães Pinto
Economista / Professor universitário

Nota: este texto contém segmentos do prefácio do livro, escritos pelo mesmo autor