Rosa Maria Albernaz, uma das mais marcantes figuras do Partido Socialista, nasceu em Espinho. Desde muito cedo, sobretudo a partir do 25 de abril de 1974 passou a ter um intenso papel na política nacional, muito por influência de seu pai, Flávio Soares Bastos, um militante socialista espinhense. Professora de profissão, registou um notável percurso político na Assembleia da República ao longo de 25 anos, representando o Parlamento de Portugal no Parlamento Mundial e este último, nas Nações Unidas.

Foto: Sara Ferreira

Rosa Maria Albernaz foi alvo de uma homenagem pela República da Letónia, após a sua democratização e recebeu a condecoração máxima das três estrelas de ouro pelas mãos da então Presidente da República. Foi designada filha de Famagusta (Chipre) e teve um papel importante numa campanha de angariação de fundos para Timor, não só para ajudar as crianças, mas também para a construção de uma igreja no cimo da montanha de Letefoho que estava sob alçada do seu amigo padre Domingos Soares.

Timor que guarda uma imagem da Nossa Senhora da Ajuda, padroeira de Espinho, que foi enviada por Rosa Maria Albernaz, juntando-se uma outra, remetida pela deputada espinhense para a catedral em Dili. A música “salva rainha”, do saudoso maestro espinhense, Fausto Neves, toca na igreja de Letefoho, em Timor, uma vez que Rosa Albernaz também para lá enviou a respetiva partitura.

A ex-deputada espinhense é, também, uma mulher de lutas e de causas. Numa proposta para a legislação sobre maus tratos a animais, Rosa Maria Albernaz chegou a receber um cartão do Nobel da Literatura, José Saramago, onde este lhe manifestou o seu apoio a essa causa.

Rosa Maria Albernaz é uma mulher socialista estimada e considerada dentro do seu partido, fazendo parte, atualmente, dos órgãos locais, distritais e nacionais, perfazendo um percurso político há mais de 48 anos.

Quais são, afinal, as suas origens?
Nasci em Espinho – na Rua 31 com a 26 – numa casa que hoje em dia ainda existe, a casa do Torreão. Estudei em Espinho, em Inglaterra e no Porto.

Como era Espinho nos seus tempos de infância?
Era uma cidade cuja vida rolava à volta do mar, da feira semanal, do comércio. No verão, a Avenida 8, com os seus cafés, era o ponto de encontro de todos os espinhenses. A vida era calma e o convívio era grande.
Nesse sentido, tenho recordações bem marcantes da minha infância em Espinho. Lembro-me da liberdade e do espaço que tínhamos para brincar. Brincávamos na rua, no chamado ‘coteiro da areia’, que era uma zona que existia entre o Centro de Saúde e a Fábrica da CORFI e que consistia num monte enorme de areia fina. Havia pessoas a afirmarem que o mar já tinha estado naquela zona!

Como sentiu o 25 de Abril de 1974?
Recordo esse dia como se fosse hoje. Logo pela manhã, o meu pai veio a minha casa contar o que tinha acontecido naquela madrugada. Falava com alegria, embora com alguma confusão à mistura. Para ele havia apenas uma certeza: a mudança que tinha chegado significava o início de um regime democrático e o fim da ditadura. As lágrimas dele marcaram a recordação que tenho desse dia. Quem viveu essa mudança nunca a esquecerá…

Quem era a professora Rosa Maria Albernaz?
Comecei a ser professora em Espinho, na altura da ditadura. Uma coisa que sempre tentei fazer foi conhecer os meus alunos, porque a vida antes do 25 de Abril era bem diferente e difícil. Marcaram-me muito as dificuldades enormes que as crianças passavam naquela altura. Estabeleci sempre uma ligação afetiva com aquelas crianças. Por isso, sinto que não fui apenas professora delas. Aliás, elas próprias, agora adultas, ainda hoje me dizem isso quando me encontram. Tenho orgulho quando os meus antigos alunos expressam, por palavras e afetos, o que sentem em relação a mim.
Para além de ter exercido a minha profissão de professora ao serviço do Ministério da Educação, exerci-a também de forma independente e voluntária para ajudar algumas pessoas a ultrapassarem as dificuldades impostas pelas novas regras que entraram em vigor logo após o 25 de Abril. Na altura, para as pessoas terem acesso a coisas tão banais, como por exemplo a carta de condução, era necessário terem a quarta classe. Contudo, esta não era a realidade de um país que tinha vivido anos e anos em ditadura e cujo acesso à educação tinha sido vedado a milhões de pessoas. Por isso, criei uma escola noturna, inicialmente na minha própria casa, depois na sede do PS de Espinho e, finalmente, nuns pré-fabricados da zona de S. Pedro, onde ajudei, voluntariamente, dezenas de pessoas a preparem-se para o exame nacional da quarta classe.

Como entrou na política?
Nasci no seio de uma família republicana. O meu pai pertencia ao núcleo espinhense da oposição com Artur Bártolo, o professor Vilarinho e outros conhecidos espinhenses. Desde jovem, tive acesso a uma perspetiva política diferente do regime que existia e a vinda do 25 de Abril permitiu o meu acesso à vida política e à militância no PS.

Como aconteceu a sua ida para o Parlamento da primeira vez?

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