Portugal inovador…mas não muito!

A inovação e o progresso tecnológico é um factor chave impulsionador e que sustenta o crescimento económico, a melhoria da qualidade de vida, e o alcance de níveis mais avançados de estádios que proporcionem uma vida mais saudável e duradoura, e mais recentemente, a emergência de novas tecnologias mais eficientes que contribuem para a redução dos níveis de poluição e que pretendem promover níveis superiores de sustentabilidade.

O progresso alcançado no presente é o resultado de inovações passadas e, por sua vez, as inovações de hoje cultivam as sementes para o progresso dos anos vindouros, que possibilitem a criação de novos empregos, potenciem o aumento da produtividade e crescimento económicos, e que melhorem significativamente as condições de vida saudável, duradoura e a qualidade de vida e o bem-estar das populações.

Procurando acompanhar e medir a capacidade inovadora e o pulso à dinâmica de progresso, é publicado anualmente, pela WIPO (World Intelectual Property Organization) o Global Innovation Index (Índice Global de Inovação) que produz um benchmark e um ranking da performance inovativa de mais de 130 economias do mundo, baseado em mais de 80 indicadores.

Apesar da crise pandémica, a mais recente edição do Índice Global de Inovação, publicada em 2021, evidencia que o ecossistema de inovação se mostrou resiliente, retomando a performance e os indicadores pré-pandémicos das actividades de inovação.

O avanço e o progresso tecnológico evidenciam um reforço das actividades de inovação em áreas tecnológicas na área farmacêutica e da saúde, aceleradas pela pandemia da COVID-19, mas também em áreas tecnológicas associadas às tecnologias da informação e comunicação e às energias renováveis e tecnologias eficientes, com o potencial crítico de aumentar os padrões de qualidade de vida, incrementar o bem-estar, a saúde e a vida saudável e proteger e alcançar níveis superiores de sustentabilidade ambiental.

Com efeito, as inovações emergentes evidenciam actividades de investigação e desenvolvimento com maiores taxas de crescimento em investimento nas tecnologias verdes e sustentáveis, nas ciências da computação e inteligência artificial, nas engenharias e áreas multidisciplinares e nas ciências ambientais.

As economias mais inovadoras do mundo são a Suíça, que lidera o ranking há onze anos consecutivos, a Suécia e os Estados Unidos da América, que ocupam a segunda e terceira posições do ranking mundial há três anos consecutivos.

O Top 25 das economias mais inovadoras do mundo é constituído maioritariamente por economias europeias, mas cujas tendências recentes têm vindo a alterar o panorama da geografia mundial da inovação com as economias asiáticas a melhorarem significativamente o seu posicionamento e a performance inovadora das suas economias.

São cinco as economias asiáticas representadas no Top 15: Coreia do Sul que tem alcançado progressos significativos e se posiciona pela primeira vez na 5.ª posição; Singapura (8.º), a China que alcançou igualmente progressos muito relevantes e significativos, ultrapassando o Japão (13.º) e Hong Kong (14.º) e subindo consistentemente no ranking ocupando agora a 12.ª posição, perspectivando alcançar uma posição entre as dez economias mais inovadoras do mundo.

Portugal ocupa actualmente a 31.ª posição, evidenciando uma certa estagnação e incapacidade de melhorar o seu posicionamento no ranking das economias mais inovadoras do mundo, com uma resistência à entrada no Top 30. Com efeito, nos últimos dez anos, posicionou-se entre a 35.ª posição, em 2012, com variações pontuais anuais, e a 30.ª posição registada nos anos de 2015 e 2016, não almejando o desiderato de superar de forma evidente a fasquia das 30 economias mais inovadoras do mundo.

O Índice Global de Inovação tem demonstrado, anualmente, a relação positiva entre a inovação e o desenvolvimento económico: quanto mais desenvolvida é uma economia, maior é a sua performance inovadora, e vice-versa.

Esta relação traduz que Portugal estará posicionado no ranking em consonância com o nível de desenvolvimento da sua economia. Porém, Portugal é superado por países como a Estónia (21.ª) e a República Checa (24.ª), economias que demonstram uma performance de inovação mais pujante do que as suas economias fariam supor.

Ademais, Portugal ocupa apenas a 20.ª posição no ranking das economias europeias, o que evidencia que a economia portuguesa tem vindo a ser superada pela performance inovadora de cinco países que partiram de níveis inferiores de desenvolvimento económico, entre os quais, a Irlanda (19.ª), Estónia (21.ª), República Checa (24.ª), Malta (27.ª) e Chipre (28.ª).

Com uma avaliação parcial por pilares de inovação, Portugal apresenta um bom desempenho no pilar do capital humano e de investigação (24.º), no pilar institucional (25.º) e nos resultados e outputs criativos (26.º), e em média com o ranking global, no pilar das infra-estruturas (31.º)

De acordo com os dados e indicadores da WIPO, a performance inovadora de Portugal é afectada negativamente pela baixa sofisticação dos mercados (41.º) e do ambiente menos propício para as empresas e para os negócios (56.º).

Os aspectos mais relevantes que afectam negativamente a performance inovadora de Portugal incluem as dificuldades de obtenção de crédito e acesso ao financiamento da inovação (101.º); a reduzida capitalização das empresas e as dificuldades de capitalização e de acesso ao mercado de capitais (48.º), a incipiente protecção de investidores minoritários (60.º); os baixos níveis de qualificação, formação e capacitação empresarial da população ao serviço nas empresas (54.º), as reduzidas oportunidades e geração de joint ventures e de alianças estratégicas para a inovação (64.º), os elevados custos de protecção de propriedade intelectual e industrial (45.º), os níveis incipientes de importação de serviços avançados de informação e comunicação e de tecnologias emergentes e disruptivas (71.º).

A estes factores acrescem ainda factores associados à baixa produtividade do trabalho (90.º), aos custos laborais (67.º), à baixa taxa de formação bruta de capital (94.º), à reduzida valorização do conhecimento e da tecnologia traduzida num número reduzido de patentes de utilidade (51.º), à reduzida expressão das exportações de serviços de informação e tecnologia (61.º), e ao peso residual das receitas de propriedade intelectual na actividade económica (49.º), um dos valores mais baixos entre as economias europeias.

Tito Miguel Pereira
Consultor

(Escrito em desacordo ortográfico)