Bernardo Gomes de Almeida: “Quatro anos a jogar fora de casa foram 12 passos atrás, no regresso ao futebol profissional”

Foto: Sara Ferreira

Bernardo Gomes de Almeida vai liderar a única lista candidata aos órgãos sociais do SC Espinho, na eleição de 7 de junho. O presidente demissionário propõem-se gerir o clube nos próximos três anos, apesar das reconhecidas dificuldades, acrescidas com o regresso do futebol ao distrital. Ainda sem estádio e com dificuldades financeiras, o dirigente quer trazer um novo modelo para o futebol sénior, admitindo poder jogar dentro do concelho de Espinho, num dos complexos desportivos existentes, até o novo equipamento estar concluído.

Prometeu que não deixaria o clube cair num vazio. E agora?
Tal como prometi na declaração que fiz, não poderia deixar que isso acontecesse. Por outro lado, acredito no trabalho que foi feito, não obstante o percalço da descida aos distritais. Acredito, também, que ainda temos muitas coisas para fazer no clube.

Se tivesse aparecido uma outra lista concorreria a estas eleições?
Dependeria muito da lista. Se aparecesse uma candidatura responsável e com um projeto bem alicerçado para o clube, certamente não me recandidataria. Sempre disse que não estou preso ao lugar que ocupo. Entrámos no clube com a missão de sanear o SC Espinho e de salvá-lo. Conseguimo-lo. Porém, o clube é dos sócios e não serei presidente eternamente!

A direção do clube esteve sempre coesa?
Claro que esteve! A prova está no facto de termos chegado juntos até aos dias de hoje. Muitas das pessoas desta última direção transitam para os próximos corpos sociais do clube, que serão apresentados a eleições no próximo dia 7 de junho. Não trabalho sozinho, mas sim com uma equipa. Haverá, naturalmente, alguns reajustes, mas a base continuará. São pessoas que nos últimos sete anos deram muito da sua vida ao clube e é gente em quem confio plenamente.

Sente que os sócios estiveram e estão consigo e com a direção nestes tempos difíceis?
Senti sempre da parte deles um apoio e um carinho muito grandes. Admito críticas, desde que que sejam construtivas. Não admito insultos e calúnias. O SC Espinho é muito grande e tem graves problemas e dificuldades. O clube viveu uma crise profunda ao ficar sem pavilhão desportivo, sem estádio e sem condições de trabalho. O dinheiro não chega para tudo.
Sou presidente há sete anos e sempre concorri sem oposição. Ouço muitas críticas, mas nunca vi nestes sete anos um projeto credível e alternativo ao nosso.
No meio de tantas críticas nas redes sociais e nos cafés, recebi muitas mensagens de apoio, dizendo que eu seria o melhor presidente para o clube. É por todas essas pessoas e pelos sócios que estão sempre com o SC Espinho que me apresento a eleições outra vez.
Serão mais três anos, mesmo sabendo que esta nossa tarefa será um contratempo muito grande nas nossas vidas pessoais e profissionais. É por essas pessoas que sempre estiveram com o clube e por aqueles que criticaram, que pretendemos mostrar melhor. Esta descida de divisão, ninguém a queria, mas temos de a assumir de frente, repensando o projeto dentro das capacidades económicas do clube.

O que significa isso de repensar o projeto?
Por muito que amemos o nosso clube e que o queiramos na I Liga, sabemos que não reunimos as condições mínimas neste momento. Vamos caminhar muito devagar e o projeto será apresentado aos sócios. Enquanto cá estiver, a última palavra será sempre a deles.
Temos de repensar a situação do clube e de perceber para onde teremos de ir. Qual o caminho e quais as decisões que teremos de tomar em conjunto.
Um clube como o nosso vive de tesouraria e nos últimos anos tem perdido imensas receitas. Não é fácil geri-lo. São muitas horas sem dormir e muito sofrimento para conseguirmos cumprir os prazos dos pagamentos. Só com muito amor e sacrifício isto é possível.

O que aconteceu ao SC Espinho, que em 2019 e 2020 estava na luta pela subida à 2.ª Liga?
Houve várias razões que travaram essa ambição. Recordo que, em 2019, numa entrevista à Defesa de Espinho, afirmei que o clube não aguentaria dois anos a jogar futebol sénior fora do concelho. Mais do que isso! Teria efeitos devastadores.
Já vamos na quinta época a jogar fora, com a casa às costas e numa altura em que tivemos de reduzir os orçamentos e os plantéis principais no futebol e no voleibol na sequência desta quebra de receitas e da pandemia. Por tudo isto, tivemos de construir equipas mais fracas.
Por outro lado, tivemos um desempenho irregular e fomos vítimas de um formato de campeonato incompreensível, jogando em pé de igualdade a manutenção/descida com equipas que tiveram pior classificação do que nós. Isto não teve verdade desportiva.
Nos primeiros anos, tivemos campanhas muito acima das expectativas e perante as condições que tínhamos. Arriscámos ao ir buscar um treinador conceituado, com experiência de I Liga e capacidade de preparar o SC Espinho para os campeonatos profissionais. Ficámos à frente de equipas que tinham seis vezes mais o nosso orçamento. E isto elevou demasiado a fasquia. Mas no futebol a bola é redonda e reconheço que esta descida é desastrosa. No entanto, fomos vítimas de muita coisa estranha que acontece no futebol. Tínhamos assumido que iríamos lutar para a subida de divisão, mas não o conseguimos.
Mesmo neste contraciclo económico, houve um investimento desmedido nas equipas de futebol. Como optámos por não enveredar pelo investimento estrangeiro, nem nos vendermos a uma SAD, caímos com este enorme trambolhão. Queríamos manter as nossas raízes e a nossa autonomia e pagámos isso muito caro.

Entrevista completa na edição de 2 de junho de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.