Economia portuguesa é uma das mais lentas na recuperação pós-pandemia

A Comissão Europeia divulgou recentemente o European Economic Forecast – Spring 2022, num momento em que passam já mais de dois anos depois do surgimento da pandemia, e pouco depois do início da guerra na Ucrânia. Não obstante este último e infeliz acontecimento condicionar e impor novos desafios à paz e à economia europeia, de um modo geral, as previsões da Comissão Europeia, no seu Boletim da Primavera, são optimistas e expansionistas, com as economias a recuperarem gradualmente da quebra acentuada que a actividade económica sofreu no ano de 2020, em virtude da pandemia.

Os dados divulgados pela Comissão Europeia, relativos à previsão do crescimento económico dos países da União Europeia, para 2022, são bastante favoráveis para Portugal, que surge numa posição destacada, liderando as previsões de crescimento do PIB em 2022, com uma taxa de crescimento prevista de 5,8%, face a 2021, sendo o maior crescimento projectado para a economia de um país de entre os 27 Estados Membro que compõem a União Europeia.

A notícia sobre a previsão do crescimento da economia portuguesa foi propagandeada à saciedade com inúmeros títulos incluindo “Portugal lidera crescimento da EU em 2022” e “Com PIB a saltar 5,8%, Portugal será o país que mais crescerá na EU em 2022”.

Sendo manifestamente uma boa nova de esperança para Portugal e para os portugueses, recupera-se o conceito do viés cognitivo e do padrão de distorção da percepção, que assevera que não devemos confiar plenamente em parte das nossas intuições e num julgamento pouco apurado de informações, que impedem a aceitação do conhecimento racional e lógico sobre o quadro abrangente.

Na verdade, o nível de crescimento apontado para a economia portuguesa, que nos surge como uma notícia positiva para Portugal não é mais do que justificado pela retoma mais lenta que o país registou em 2021, em comparação com outros países da União Europeia, como realçou Paolo Gentiloni, Comissário Europeu da Economia, durante a conferência de imprensa de apresentação das previsões.

Ora, muito fácil de concluir que se prevê que a economia portuguesa vá crescer mais este ano, porque não cresceu como devia ter crescido no ano passado, e que este forte crescimento agora apontado para 2022, é mais que natural e expectável, na procura de uma correspondência com uma gradual recuperação da normalidade, e da procura de recuperar e superar os níveis de actividade económica pré-pandemia.

A economia portuguesa foi fortemente penalizada pelos efeitos pandémicos, tendo apresentado no ano de 2020, um dos maiores decréscimos do PIB verificado entre os países da EU: o PIB português teve uma perda de 8,4% face a 2019, a 4.ª maior queda registada na União Europeia a 27, só suplantada por Espanha (10,8%), Itália (9,0%) e Grécia (9,0%), e superior à média europeia de 5,9%.

Em termos reais, o PIB verificado em 2020 regrediu para o nível do PIB de 2016, e após uma perda tão significativa em 2020, seria expectável que no ano de 2021 a economia portuguesa apresentasse um crescimento mais pujante associado a uma franca recuperação, o que não veio a suceder. Aliás, no ano de 2021 a economia portuguesa cresceu ‘apenas’ 4,9%, para um PIB, em termos reais, inferior ao PIB de 2018, não lhe permitindo sequer se aproximar do PIB pré-pandemia, registado em 2019.

Assim, com uma evolução em 2021 que corresponde ao 10.º crescimento mais baixo verificado entre os países da UE27, e crescendo abaixo da média europeia (5,4%), a economia portuguesa tem evidenciado uma recuperação bem mais lenta que as restantes economias da UE27.

No comparativo relevante e que importa, do crescimento previsto para 2022, face a 2019, o ano pré-pandemia, Portugal regista um dos piores desempenhos entre as economias europeias, com uma variação do PIB real em 2022, face a 2019, de apenas 1,7%, evidenciando uma recuperação pós-pandemia das mais lentas da UE, com o 8.º pior registo entre as 27 economias da União.

Sucede que com uma variação do PIB real pouco significativa, Portugal perde tracção e terreno face aos seus congéneres europeus, com um desempenho também frágil sobretudo na comparação entre os países que apresentam um PIB per capita abaixo da média da UE.

De acordo com os dados do PIB per capita de 2021, são 17 os países que apresentam um PIB per capita inferior à média da UE27, entre os quais Portugal. Entre estes países, na variação do PIB previsto para 2022, face a 2021, Portugal apresenta o 5.º pior registo (em igualdade com a Bulgária), só superado por Espanha, República Checa, Itália e Eslováquia.

Estes registos revelam um empobrecimento relativo de Portugal face à UE27, entre 2019 e 2021. Posicionando-se na 19.ª posição em 2019, com um PIB per capita de 79% face à média europeia (o 9.º país mais ‘pobre’ da UE27), Portugal baixou duas posições, para 21.ª posição em 2021, com um PIB per capita de 74% face à média europeia, sendo agora o 7.º país mais ‘pobre’ da EU27.

Ou seja, no período pós-pandémico a economia portuguesa tem evidenciado um processo de afastamento da convergência face à média europeia, que se revela num empobrecimento relativo de Portugal, cuja perda se traduziu numa redução do PIB per capita em 5 p.p. entre 2019 e 2021, a maior redução registada entre os países com PIB per capita inferior à média europeia, apenas suplantado pelo registo mais negativo de Espanha (-7 p.p.), e vendo-se agora ultrapassado por Polónia, que melhorou 4 p.p. e por Hungria, que aumentou 3 p.p., encontrando-se agora à frente de Portugal com 77% e 76% do PIB per capita da média europeia, respectivamente.

Neste particular, este é o pior registo de Portugal na última década, face ao valor de 83% em relação à média europeia verificado em 2010, e da 17.ª posição relativa em que se situou no ano de 2011 e de 2017, as melhores posições relativas alcançadas na década de 2010 a 2021.

Portugal viu-se assim ultrapassado por Lituânia, Estónia, Polónia e Hungria, tendo agora a Roménia (73%), a Letónia (71%) e a Croácia (70%) muito perto e à distância de 1 p.p., 2 p.p. e 4 p.p., respectivamente, e cujas economias apresentam variações do PIB real em 2022, face a 2019, superiores a Portugal: Croácia (4,7%), Roménia (4,6%) e Letónia (2,5%).

Portugal está a crescer, mas pouco, e está a crescer a um ritmo inferior aos demais, ficando assim relativamente mais pobre. Pelo que Portugal precisa de crescer muito mais!

Tito Miguel Pereira

Consultor

(Escrito em desacordo ortográfico)