Bruno Caprichoso / Arquivo

Foi a 16 de junho de 1973 que os espinhenses festejaram a elevação da vila a cidade, culminando um processo que envolveu algumas personalidades que pontificavam em Espinho e em Aveiro. Foi a segunda cidade do distrito a ostentar as insígnias citadinas. Azevedo Brandão, Dulce Ferreira de Campos, Graça Guedes e Gaioso Vaz recordam esse marco histórico e outros factos e vivências.

Espinho assinala 49 anos da elevação a cidade. Uma efeméride que hoje é dado adquirido, mas que em 1973 era pouco comum, ao ponto de Aveiro – capital de distrito – ser, à época, o único território distrital com estatuto citadino. Não obstante as credenciais que outras localidades apresentavam, foi Espinho que alcançou o objetivo e, por isso, segundo constata Azevedo Brandão, “muita gente quer que continue no distrito de Aveiro”.  

“No distrito do Porto, há muitas cidades em destaque e Espinho é a segunda cidade, depois de Aveiro. Tal facto não foi estranho relativamente a outras terras que hoje também já são cidades. Aveiro foi sempre uma cidade democrática, porque era contra o regime de Salazar e Espinho também dava sinais dessas tradições. Mas Espinho justificou plenamente a elevação e, durante algumas décadas, até foi cosmopolita”, considera o antigo vereador, vogal da Assembleia Municipal (AM), presidente da Assembleia de Freguesia de Espinho e membro da Comissão Municipal de Turismo.  

“Na minha opinião, a elevação de Espinho a cidade até aconteceu tarde de mais”, diz Dulce Ferreira de Campos, que exerceu a função de vogal da AM, corporizou a primeira associação de pais do, então denominado, Liceu Dr. Manuel Laranjeira, dirigiu o Lions Club de Espinho e dinamizou a realização do Congresso Ibérico de Saúde Oral em Espinho. “Deveria ter ocorrido muito antes de 1973. Foram instaladas valências extraordinárias para a comunidade de Espinho, como a Comarca de Justiça. Dantes era preciso recorrer a Santa Maria da Feira. A elevação de Espinho a cidade foi um facto relevantíssimo e que veio a ter consequências muito positivas. Hoje, Espinho é um centro urbano de altíssima categoria e de excelência”, sublinha.  

No entendimento de Gaioso Vaz, antigo vereador, a então vila de Espinho “mereceu a confiança depositada nas suas gentes” para passar a ser a segunda cidade do distrito de Aveiro. “Além da prova de que os espinhenses gozavam, de uma forma fora do comum, da confiança das entidades governativas de então, tratou-se do reconhecimento de que se haviam dotado das estruturas e meios que, à data, eram condição necessária para a elevação a cidade”. Gaioso Vaz reitera que o número de cidades no país era, então, relativamente reduzido, o que valoriza “ainda mais” o reconhecimento espinhense, acrescendo ainda a “reduzida dimensão do território” que o concelho dispõe.

História com muitos fazedores

O novo estatuto administrativo era um “anseio antigo” de Espinho e teve vários construtores ao longo da história, mas também “alguns bloqueios”, como recorda Dulce Ferreira de Campos, “que atrasaram esse momento”. Sem especificar, para “não ser desagradável com ninguém”, a advogada prefere destacar as personalidades que contribuíram pela positiva, como o governador civil de Aveiro, Vale Guimarães, ou o seu irmão mais velho, Fernando Oliveira. “Outra personalidade importantíssima neste processo de elevação de Espinho a cidade foi o antigo ministro do Interior, Dr. César Moreira Baptista”, que era natural da cidade, sublinha Dulce Campos, que acrescenta, “claro”, Baião Nunes dos Santos – então presidente da Câmara Municipal – e o comendador Manuel Oliveira Violas, “um ilustre espinhense, que também prestou relevantíssimos serviços a Espinho, não só na criação de postos de trabalho, como na ajuda social e no apoio às instituições e coletividades da sua terra”. Finalmente, refere José Ferreira, que “discretamente muito colaborou, em Aveiro, na elevação de Espinho a cidade e na criação da comarca”.

Azevedo Brandão corrobora os nomes de Nunes dos Santos e Manuel Violas – presidente e vice-presidente da autarquia – como “figuras impulsionadoras” deste reconhecimento, somando-lhes Jerónimo Reis, entre “outras personalidades” da vida local.

Artigo disponível, na íntegra, na edição de 16 de junho de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.