O povo e a sua mais poderosa identidade: a língua

Depois da suspensão da celebração desta data tão significativa para todos os Portugueses por causa da pandemia, eis que Braga surge como palco para dar azo ao orgulho de ser Português. “A Portuguesa” foi cantada com emoção e os discursos centrados na história desta nação foram acarinhados pelo povo genuíno. Será importante valorizar cada vez mais o seu papel na história do país, lembrando que foi ele a lutar pela independência, expansão, defesa do país, revolução e que é ele também a força maior do trabalho que determina um país e que tem um poder enorme: eleger as altas figuras da nação e o governo. 

Este dia, celebra-se não apenas o país mas a nação portuguesa e esta está espalhada pelos quatro cantos do mundo. Por isso, é importante e simbólica esta celebração, num local representativo das nossas gentes da diáspora, a lembrar que é preciso fazer mais e melhor pelas comunidades portugueses, tantas vezes esquecida.  

Neste dia há, também, o destaque para algo maior da nossa identidade – a Língua de Camões, também marca de identidade de muitos outros países que, reunidos, fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP). É ela o mote de união entre os Estados- Membros com um potencial enorme e ao qual ainda não se deu devido relevo. Com eles, chegamos quase aos 300 mil falantes, daí sermos a quarta língua mais falada no mundo. Ainda não foram tomadas medidas eficazes para tirar partido deste potencial que é o mundo lusófono, unidos em torno de uma cultura comum.  

A língua, sendo um elemento cultural tão forte, é também um grande potencial para outras áreas, nomeadamente a economia. Ela tem de ser valorizada como instrumento que oferece oportunidade de negócio ímpar, dando voz à latinidade. Mas, mais do que a economia, é a identidade, os afetos, a história e a cultura, algo intangível e não mensurável que une estes povos e que deve abrir portas para parcerias significativas. 

Foi esta a intenção do Instituto do Mundo Lusófono: contribuir para estreitar laços entre os vários países que possuem na sua matriz identitária – a Língua de Camões. 

Assim, aconteceu o Fórum Económico Internacional, no dia 12 de maio no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, tendo feito parte da organização, enquanto Diretora do Centro Cultural da entidade promotora – Instituto do Mundo Lusófono.  

Foi um momento marcante, com altos representantes de vários espaços linguísticos e culturais de ampla projeção internacional. Decisores políticos, empresários e gestores públicos e privados, dirigentes associativos, estudiosos no domínio da sociologia, da comunicação, economistas e especialistas na área do direito e das finanças entre outras individualidades do mundo lusófono e francófono, estiveram reunidos para debater a atual conjuntura em torno do tema “Depois da pandemia e da guerra na Ucrânia: Que retoma económica?”. 

Deste modo, pretendeu-se contribuir positivamente para a recuperação económica nacional e internacional, após dois períodos mais críticos da nossa história enquanto coletivo. 

As reflexões foram muito pertinentes a lembrar que os momentos de crise são também oportunidades para se fazer mais e melhor. 

Na verdade, a pandemia expôs fragilidades, a guerra também. De entre muitas, foram realçadas: a excessiva dependência no tocante aos cerais e energias, a aposta em exagero em setores que a qualquer momento ficam vulneráveis, as ligações com países pouco confiáveis…   

Mas mais importante foram as propostas: as novas perspetivas de empreendedorismo, novas formas de olhar a economia e o seu crescimento numa perspetiva de responsabilidade social e sustentabilidade, respeito pela ambiente e pelos direitos humanos, ou seja, a presença do humanismo que é um valor da cultura dos países lusófonos e francófonos com quem temos uma relação privilegiada. Todos desejam maior cooperação, apontando o papel da educação e formação, da transformação digital, na necessidade de potenciar o que cada país tem de especial numa perspetiva de complementaridade como parte ativa da dinâmica de construção do espaço económico lusófono.  

O fórum foi um momento importante de encontro, de reflexão e de propostas, mas mais importantes serão as etapas seguintes, nesta nova caminhada, que desejamos em cooperação, seguindo este sábio ditado africano: “Se quiseres ir depressa vai sozinho, se quiseres ir longe vai em grupo”. 

Arcelina Santiago

Professora