As romarias são parte das tradições de um povo. Espinho não escapa a estes festejos que abrangem grande parte do verão. Os santos populares são uma marca de alguns dos lugares. O S. João no Rio Largo e em Paramos marca o arranque desta tradição do povo e em Espinho, na zona mais a sul da freguesia, é o S. Pedro que traz a fé e a devoção aos pescadores. Os dois anos de pandemia deixaram um vazio. O regresso dos festejos é, por isso, a meio-gás.

São muitos os anos em que o antigo Bairro da Mata, mais tarde denominado Bairro de S. Pedro, carrega na sua tradição a festa em honra ao seu santo popular. Uma romaria que ganhou força há mais de 80 anos e que se consolidou após a construção da capela, construída por iniciativa de alguns espinhenses, com donativos e que foi inaugurada em junho de 1942.

Todos os anos, a 29 de junho, (à exceção dos dois de pandemia e de um interregno entre 1997 e 2007), a povoação piscatória festeja com grande entusiasmo o S. Pedro dos pescadores.

O desfile da Rusga a S. Pedro, que tem cerca de uma década, a música e a majestosa procissão são pontos altos desta festa.

Mas afinal por que razão se envolve toda uma comunidade nestes festejos e o que leva o povo a assinalar estes santos populares e o S. Pedro, em particular?

“Nesta altura celebra-se S. Paulo e S. Pedro, mas não há uma festa a S. Paulo”, recorda o pároco de Espinho, padre Artur Pinto. “Dizem alguns entendidos que S. Pedro, Santo António e S. João Baptista se tornaram santos populares, ao contrário de S. Paulo que não passou para esta popularidade”, lembra o sacerdote.

“Os que passaram para santos populares são, muitas das vezes, aqueles que não são escutados e lidos nas eucaristias e os festejos a estes santos populares são muito próximos uns dos outros. No caso de Santo António celebra-se a data de falecimento, mas no S. João assinala-se a passagem da primavera para o verão” refere, ainda, o pároco, acrescentando que “com o S. Pedro, são três datas que se rebocam umas às outras”.

Para o padre Artur Pinto “todos os tempos de passagem são tempos de festa, de uma vivência e de uma manifestação cultural muito forte para as pessoas. São tempos fortes que são ritualizados nos santos populares, numa manifestação de alegria e que tem a ver, também, com as colheitas e com a cultura rural antiga”, sustenta.

O S. Pedro, em particular, segundo o padre Artur, “está associado aos pescadores. É muito difícil ter-se uma festividade ao S. Pedro, com uma capela, sem uma comunidade piscatória. É habitual termos pescadores na base dessa devoção. É grande a identidade de Espinho com a comunidade piscatória e é nessa comunidade onde nós encontramos muito do que era o Espinho antigo”, dá nota o sacerdote apontando o local onde se realizam estas festas que “é, precisamente, numa zona onde estavam os pescadores. É uma zona lindíssima, com uma cultura muito própria, de muita proximidade e que até está um bocado distante da cultura urbana do centro da cidade”, acrescenta.

De acordo com o pároco, “em termos históricos, as festas já existiam antes da nossa Igreja. Eram dedicadas aos cultos das colheitas e foram, de certa forma, cristianizadas. Atualmente estão a perder o toque cristão e estão a ganhar, outra vez, o toque pagão. Mas a verdade é que as pessoas sentem a necessidade de celebrar, de festejar e de marcar a época. E a Igreja vê sempre nisto uma oportunidade para evangelizar, para fazer as suas propostas. Uma proposta, a par com tantas outras que temos para celebrar estas quadras, respondendo àquilo que o espírito humano pede e exige nesta altura”.

“A Igreja faz a sua proposta de celebração apresentando exemplos de pessoas que viveram a passagem aqui na Terra caminhando para o Reino dos Céus, em diálogo com a cultura existente para que a própria Igreja seja capaz de responder cabalmente à necessidade da pessoa. Mas sem a proposta da Igreja, todos estes rituais ficam numa mera vivência carnal sem servirem algo mais transcendente”, conclui.

Poucos (ou sempre os mesmos) na Irmandade e na Comissão de Festas

Manuel José Tavares é natural da freguesia de Anta, mas reside na zona sul desde que casou, em 1967. Desde 1969 que faz parte da Irmandade e da comissão de festas de S. Pedro.

“Organizamos estas festas por mera carolice, com pessoas que gostam de dar o seu contributo de forma absolutamente voluntária. Mas acredite-se que muitos gostam de criticar aquilo que fazemos e não estão dispostos a dar, sequer, a sua colaboração” aponta o elemento da comissão de festas que garante que “já por várias vezes apelámos à colaboração e ninguém está disponível a ajudar”.

Manuel José Tavares recorda que “as festas a S. Pedro estiveram paradas durante um período de 10 anos, após a morte de António Miguel Pereira, que tinha neste local uma oficina de automóveis. Esteve suspensa por mero cansaço de quem trabalhava nestas comissões de festas”.

Reportagem completa na edição de 30 de junho de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.