José Alves assumiu o comando da Divisão Policial de Espinho há cinco anos. Veio como subintendente e foi promovido, recentemente, aos 54 anos, a intendente. O oficial de polícia nasceu em Cabinda (Angola) e é oriundo de uma família ligada às forças de segurança. José Alves abriu o caminho à implementação de um sistema de videovigilância em Espinho e, neste seu percurso, salienta o bom relacionamento que tem tido com as autarquias.

Como surgiu a ideia de ser Polícia?
Os meus pais são oriundos de Vinhais, Trás-Os-Montes. O meu pai era Guarda Fiscal e veio trabalhar para Vila Nova de Gaia. Há, naturalmente, influência de família nesta carreira, porque uma boa parte dos irmãos dos meus pais estavam nas forças de segurança – Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana e na antiga Guarda Fiscal.
Entretanto, completei o 12.º ano no Liceu de Vila Nova de Gaia, fiz o ano zero e entrei na Universidade Católica do Porto, na licenciatura em Direito, onde completei o primeiro ano. Em 1988, decidi concorrer à Escola Superior de Polícia (ESP), atualmente denominado Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI). Sou do quinto curso. Por isso, quando entrei, os alunos do primeiro curso eram aspirantes estagiários, entre os quais o atual diretor nacional da PSP, o superintendente-chefe Manuel Magina da Silva.

Como via o facto de a PSP ser comandada por militares, saindo desta nova geração da altura os futuros oficiais superiores da Polícia?
Sempre vi esse percurso com muita naturalidade. Essa era a realidade na época e o objetivo da ESP era o de formar pessoas com essa formação específica e até licenciados, com mestrado na área das Ciências Policiais. Considero, portanto, que houve uma boa convivência com esses elementos oriundos das Forças Armadas. Entendo mesmo que houve uma aprendizagem uns com os outros, o que é de salutar, até que os oficiais oriundos desta escola pudessem ascender aos cargos de subintendentes, intendentes e de superintendente-chefe, como é o caso do nosso diretor nacional.

Quando entrou para a Polícia já tinha esta visão para o futuro da sua carreira profissional?
Claro que já estava tudo previsto e programado na própria licenciatura da ESP, como o está no ISCPSI. Está prevista a progressão na carreira, mas poderá haver um ou outro caso diferente, como foi o meu, porque estive fora da instituição durante 10 anos, com uma licença sem vencimento de longa duração.
Estive a trabalhar em África, na área da mineração. Se não estivesse ausente durante este tempo, já seria superintendente, porque foi o que aconteceu aos camaradas da minha turma na ESP.

Arrepende-se dessa sua decisão de se ausentar da PSP?
Tratou-se de uma decisão de foro pessoal da qual não me arrependo. Embora reconheça que se não o tivesse feito, atualmente teria um posto como oficial superior de polícia mais elevado. Mas tratava-se de uma situação de incompatibilidade e assumi esta missão por minha conta e risco.

O seu percurso na ESP foi complicado ou alguma vez pensou em desistir?
O curso não foi fácil e tem, naturalmente, as suas dificuldades. Mas era um jovem de 20 anos que vinha da Universidade Católica. O curso na ESP tinha uma série de áreas com imensas disciplinas. Abrangiam a área técnica, física, cultural, etc. e tinha uma forte componente jurídica. A parte física era, e ainda é, bastante exigente pois envolve vários desportos e, até, defesa pessoal. Mas estamos lá para nos dedicarmos, de corpo e alma, ao curso, até porque estamos em regime de internato ao longo de quatro anos.

Foi comandante (diretor) da Polícia Municipal de Vila Nova de Gaia. Quer falar-nos dessa sua experiência?
Foi uma experiência muito interessante. Fui convidado para uma comissão de serviço em regime de requisição ao Ministério da Administração Interna, pelo então presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes. Exerci o cargo de diretor municipal de segurança que tinha, cumulativamente, o comando da Polícia Municipal de Gaia. Além disso, tinha as vistorias administrativas e as contraordenações da fiscalização do município. Tinha sob minha direção mais de duas centenas de pessoas. Foi um período muito interessante, até porque tinha o posto de comissário e tinha sido adjunto da 1.ª Divisão Policial do Porto. Mas, nessa tarefa, tive outro tipo de contactos e outras funções daquelas que tinha na Polícia. Gostei muito de participar no projeto da autarquia de Gaia, nomeadamente na área da segurança.

É muito diferente a PSP da polícia municipal?
A polícia municipal é uma polícia administrativa e, por isso, as funções não são as mesmas das da PSP. Um dos objetivos da polícia municipal era o de ajudar a criar um maior índice de respeitabilidade no Município de Gaia. Nas autuações, a Câmara Municipal contratou o serviço que permite saber a quem pertencem as viaturas, o que ajuda a responsabilizar as pessoas. Há alguns anos, as polícias municipais passavam o talão e as pessoas rasgavam-nos. Não havia respeitabilidade pelos agentes. Melhorámos, substancialmente, a forma de trabalho e tivemos uma excelente relação com o poder autárquico, conseguindo mais apoio e meios.

Entrevista completa na edição de 6 de outubro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.