Benjamim da Costa Dias, fundador da Defesa de Espinho era “um homem bom”, um “bairrista” que colocava sempre os interesses de Espinho à frente de todos os outros. Foi um empreendedor que teve muitos amigos e, também, bastantes inimigos. Viveu o jornalismo regional espinhense de corpo e alma, num tempo assolado pela censura do Estado Novo. Empreendeu lutas e morreu antes de ver um sonho seu concretizado: a elevação de Espinho a cidade que aconteceu cerca de dois meses após a sua morte. Na edição comemorativa dos 91 anos do jornal e meio século após o seu desaparecimento, recordamos a vida e obra de Benjamim Dias.

Benjamim da Costa Dias passou por grandes sacrifícios e nem sempre foi compreendido, mas foi sempre seu propósito levar o nome de Espinho a todas as partes do mundo, elevando-o com grande bairrismo e paixão. Colocava a Defesa de Espinho, muitas vezes, à frente da própria família.

Nasceu no Entroncamento pela circunstância do pai ser ferroviário, mas a sua família era originária de Espinho. Esteve no Brasil e quando regressou nunca mais quis sair daqui. Era casado com Maria Madalena Braga Dias, pai de Madília Braga Dias Moreira, sogro de Sérgio Moreira e avô de Olga Maria Dias Moreira.

“O meu primo, Benjamim da Costa Dias, é originário da família do meu pai, sendo irmão da mãe do meu pai”, conta Daniel Dias, familiar que

reside na cidade. “A minha avó, a Venância, mãe do Benjamim, era filha do Vicente Alves Dias que era conhecido pelo ‘Povoador’ porque tinha filhos de várias senhoras em Espinho. Era o meu pai que me contava

mais episódios e pormenores, da figura que marcou a cidade”, acrescenta Daniel Dias.

Embora já tenham passado muitos anos, Daniel Dias, que era afilhado de Madília Braga Dias, filha de Benjamim, recorda o fundador da Defesa de Espinho como “uma pessoa de muito trabalho e que nunca conseguiu fazer fortuna. Foi alguém que viveu muito remediado, com tudo muito contado. Nunca se quis meter em grandes sarilhos, até porque era dono de um jornal na altura do Estado Novo, com tudo o que isso implicava, nomeadamente a censura e a polícia política. Curiosamente nunca se atreveu a enfrentar o regime, nem depois o Estado em democracia”, recorda Daniel.

“O meu pai sempre me disse que o Benjamim tinha um lado republicano, mas não transmitia o pensamento político através da Defesa de Espinho, porque isso poderia ser muito perigoso”, diz o primo do fundador da Defesa.

Benjamim da Costa Dias foi quadro do Grémio Comercial de Espinho. “Foi um mero funcionário administrativo que, durante grande parte da sua vida, no dia a dia, fazia o percurso entre a sua casa e a Defesa de Espinho, o jornal que fundou e que alimentou durante muitos anos, décadas, até praticamente à morte”, lembra.

Embora fosse muito novo, Daniel recorda o primo em segundo grau como sendo uma pessoa de não gostar de estar em cafés, hábito de muitos espinhenses da época.

“Tinha imensos contactos, até na vida política da cidade”, acrescenta. “O meu pai era originário de uma família remediada e, por isso, olhava para o meu primo como os ricos da família, sobretudo porque ele morava numa casa muito boa, ao contrário dos meus pais”, refere Daniel que lembra que a sua madrinha é a filha de Benjamim. “A Madília Dias era minha madrinha e era muito minha amiga, mas não me sentia bem em casa deles, porque era de um estrato social muito mais elevado do que o meu. A Madalena Braga Dias, a esposa do Benjamim, era uma senhora muito forte e que me metia medo. Esta era a ideia que tinha dela. Tinha uma voz rouca e isso assustava-me como criança, embora nunca me tenha feito mal”, sublinha, acrescentando que frequentou a casa de Benjamim algumas vezes, acompanhado pela madrinha. “Não era com aquela parte da família que gostava de privar. O Benjamim era um homem importante e isso também me assustava”, diz Daniel.

“Todos reconhecem que o Benjamim sempre defendeu os interesses de Espinho, terra que era a sua verdadeira paixão. Não nasceu cá, mas esta sempre foi a terra da sua família, uma terra que, para ele, sempre foi um encanto. Sempre foi um amante de Espinho e sempre lutou por ela no jornal. Penso que sempre o soube fazer bem”, afirma.

Daniel Dias diz que o primo “não tinha muito dinheiro para investir, mas a sua vida acabou por ser sempre a Defesa de Espinho. Todo o dinheiro que conseguia era através do jornal”.

Artigo completo na edição de 23 de março de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.