(Fotografia: Arquivo)

Como forma de assinalar o dia da revolução dos cravos, a Defesa de Espinho conversou com quatro cidadãos que, em contextos diferentes, viveram o tempo conturbado da ditadura e fizeram a passagem para uma nova era de liberdade e desenvolvimento. Testemunhos reais e histórias impressionantes de um mundo que ficou no passado. Já lá vão 49 anos.

25 de Abril de 1974. Marfisa Vieira Branco, atualmente com 89 anos, encontrava-se no Porto quando, de repente, tudo à sua volta mudou. A calma instalada na cidade deu lugar à azáfama e, no meio da incerteza, rumores surgiam de que algo de importante estava a acontecer.

“Durante muitos anos pertenci à Conferência de São Vicente de Paulo, em Esmoriz e, por coincidência, naquele dia, tinha ido ao Porto para ter uma reunião”, recorda Marfisa, atualmente instalada no centro de dia do lar S. José, em Paramos. “Recordo-me que começou tudo a andar de lado para lado, as rádios começaram a anunciar, mas só algumas porque outras foram sequestradas e deixaram de transmitir”, começa por contar.

“Foi uma coisa repentina, não se tinha ouvido falar em nada e só me apercebi da situação quando vi as pessoas começarem a correr. Acabamos por perceber o que se estava realmente a passar quando as pessoas começaram a comentar nos estabelecimentos. Lembro-me de dizerem que tinham assaltado a sede do Governo. Acho que algumas pessoas, mesmo no Porto, ficaram um pouco assustadas e intimidadas porque tinham medo que desse mau resultado e, por isso, tentavam esconder-se”, acredita.

Num ambiente mais pacato estava Maria Adosinda Maia. No dia 25 de abril, encontrava-se em casa, embrenhada nas tarefas domésticas, quando, através da rádio, soube da existência de uma revolução em Lisboa. Em Espinho, cidade para onde se mudou depois de sair da Póvoa de Lanhoso, o dia era calmo, igual a tantos outros. “Fiquei contente, achei aquilo bonito, tal como mais tarde ver aqueles cravos vermelhos todos. Lembro-me que muita gente veio para a rua e adorei ouvir o Paulo de Carvalho cantar a música E Depois do Adeus. Acho que foi uma coisa bem-feita porque não fizeram mortos”, diz a utente do lar S. José, também com 89 anos.

Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 20 de abril de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€