São centenas de crianças (mais de meio milhar) que praticam futebol no concelho de Espinho. A Associação Desportiva da Freguesia de Anta/Os Baixinhos e a Academia Marfoot Silvalde, são duas escolas de futebol que, à semelhança do SC Espinho, trabalham na formação de jovens jogadores. O futebol como prática desportiva, na sua essência, está na base de todo um processo de formação que pretende, acima de tudo, contribuir para os homens e mulheres de amanhã.

Eliseu Pinto teve um percurso no futebol profissional enquanto atleta e fundou a ADF Anta/Os Baixinhos como escola de futebol em 1999. “No início, a missão da escola de futebol era proporcionar a prática do futebol às crianças e aos jovens”, diz o antigo capitão do SC Espinho recordando que “nessa altura, não estava tão presente o paradigma que foi surgindo das escolas de futebol anos depois”. “Essas escolas eram para aquelas crianças que não tinham grande habilidade poderem praticar a modalidade e jogar porque os melhores iam para os clubes e para a competição. Havia muitos atletas que eram excluídos e que não podiam praticar a sua modalidade preferida. Por isso, como escola de futebol, aceitávamos todos os jogadores, independentemente de terem, ou não, qualidade”, explica Eliseu.

Com os anos, este paradigma foi sofrendo várias mudanças, sobretudo porque estas equipas das escolas de futebol também foram evoluindo não só em qualidade como também coletivamente. “Verificámos que as nossas equipas tinham excelente qualidade e vimo-nos obrigados a iniciar a competição nunca perdendo de vista a parte formativa e lúdica que era um dos objetivos da escola de futebol”, dá nota Eliseu Pinto. Neste sentido, a escola de futebol de Eliseu, sempre que tal se justifique, tem duas equipas por escalão nas competições de maneira a “poder assegurar a competição adequada”.

A ADF Anta/Os Baixinhos como uma das mais antigas escolas de futebol está, naturalmente, adaptada à atual realidade, comum às escolas e aos clubes com futebol de formação.

“A ideia é a de manter a atividade física através de uma modalidade atraente como é o futebol e fazer um ajuste em função das competências individuais e coletivas dando a adequada competição aos atletas”, evidencia Eliseu, acrescentando que “é impossível que a competição não esteja ligada à formação de jovens jogadores, por muitas voltas que queiramos dar”.

Num futebol de base, o importante será “condicionar a chamada campeonite”, refere o mentor que admite que “o querer ganhar faz parte de todo o processo porque o desporto implica a superação e sem esta vertente da competição não se pode querer que os atletas deem mais. Isto é inato numa criança e umas são mais ou menos competitivas, em função dos grupos onde estão inseridas”.

Apesar disto, Eliseu Pinto considera que “a formação está a passar por etapas difíceis, nomeadamente naquilo que nos leva a entendermos qual será o melhor rumo a seguir”.

Atualmente, com a grande quantidade de escolas de futebol que existem, além dos clubes, torna-se difícil encetar um processo de captação de atletas. Os Baixinhos apostam na qualidade do trabalho e na divulgação que os pais e atletas fazem nas suas relações interpessoais. “Não vamos bater à porta de casa dos atletas para os trazer para o futebol. No nosso caso, temos um nome apelativo, como escola e como clube. Por isso, somos procurados pelos pais e pelos atletas”, afirma Eliseu Pinto admitindo que esta forma de estar poderá ter de ser revista. “Estamos perante um mercado muito competitivo e os clubes, agora, têm todos, pomposamente, um departamento de scouting que sinaliza os jogadores desde os quatro a cinco anos. Isto está a ficar uma autêntica selva, correndo o risco de quem não entrar neste processo, não conseguir sobreviver”, sublinha Eliseu Pinto.

Treino dinâmico e abrangente para os mais pequeninos

Um treino de futebol, hoje em dia, é dinâmico e abrangente e não é, apenas, o jogo em si. Envolve componentes técnicas e físicas. No entanto, Eliseu Pinto reconhece que “há algumas dificuldades quando não se faz a separação entre os mais e os menos dotados”.  Por isso, é natural que se adapte um treino “em função das competências individuais”, admite. “É por isso que, em alguns escalões, temos duas equipas de forma a podermos ter, também, dinâmicas e intensidades distintas. Contudo, isto nem sempre é bem percecionado por quem está do outro lado. Mas é importante gerir estas diferenças na base. Somos uma escola aberta e, por isso, aceitamos todos os atletas e incorporamo-los nas várias equipas em competição”, revela.

Há quem ainda pense que nos escalões de formação estão os treinadores menos competentes ou aqueles que não conseguem colocação no futebol profissional. Mas não é este o entendimento de quem está à frente de uma atual e moderna escola de futebol, pese embora seja cada vez maior a escassez de técnicos credenciados.

Artigo completo na edição de 1 de junho de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.