(Fotografia: Sara Ferreira)

Aos 75 anos, António Brandão continua ao leme do Aquário, restaurante onde trabalha desde os 14. Contrariando um destino que não queria para si, deixou Arouca e em Espinho encontrou o seu local de sol.

Com exigência e empenho, passou de empregado a patrão e hoje procura honrar todos os dias, o compromisso que assumiu, há décadas, em tornar o restaurante num local onde se trabalha com dignidade.

É natural de Arouca. Como vem parar a Espinho?

Nasci numa família pobre que tinha muitas carências e, além disso, havia dificuldades em arranjar trabalho em Arouca. As crianças que frequentavam o ensino básico, ao chegarem à quarta classe, tinham duas opções. Os filhos de lavradores iam para a lavoura e os filhos dos pedreiros ou trolhas iam para a construção civil, que foi o meu caso. Ainda me recordo que, como moço de pedreiro, ganhava 25 tostões. No entanto, em 1962, um amigo meu que trabalhava no antigo restaurante Aquário perguntou-me se estava interessado em vir trabalhar com ele. Como eu vi que ele tinha já um nível de vida mais ou menos, achei que devia aproveitar.

Veio sozinho?

Sim, tinha 14 anos e fui viver para um quarto, sem conhecer ninguém. Houve uma senhora que me acolheu em casa dela, no Bairro da Mata, provisoriamente. Mais tarde, mudei-me para outro local e vivi sempre sozinho numa rotina entre casa e o trabalho. Não havia folgas nem férias. Era difícil estar cá sozinho e hoje percebo que era perigoso até. Fui obrigado a crescer muito cedo e com 14 anos já me considerava um adulto.

Os seus pais aceitaram bem a vinda para Espinho?

Não. A minha mãe não aceitou bem e até há uma história curiosa sobre isso porque ela prometeu ir a Fátima a pé se eu regressasse a Arouca. Apesar de ter encontrado uma realidade diferente daquela que eu achava que ia encontrar, fiz força e fiquei em Espinho. Vim pela primeira vez em maio de 1962 e só voltei a Arouca no Natal. Mas logo no dia seguinte vim para Espinho porque não tinha folgas.

Como foi a adaptação?

Naquela altura os ordenados eram baixos, mas tinha a ambição de ganhar mais algum. Comecei como empregado de balcão, mas depois quis ir para a cozinha aprender alguma coisa.  Procurei ter mais conhecimentos e isso ajudou-me a ganhar mais algum dinheiro e a ter alguma independência económica. Mas toda a juventude foi passada a trabalhar.

Entrevista disponível, na íntegra, na edição de 08 de junho de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€