Fotografia: Sara Ferreira/DE

Manuel Costa e Silva é presidente do Centro Social de Paramos desde 1994. Apesar de um afastamento de quatro anos, esteve sempre ligado à instituição a qual dedica grande parte da sua vida. Arquiteto de profissão, foi também professor de desenho e educação visual, mas o ensino nunca foi a sua vocação. Natural de Maceda, Manuel Costa e Silva mudou-se para Paramos e foi na instituição da freguesia que desenvolveu alguns dos mais conhecidos projetos de intervenção social.

Como nasceu o gosto pela arquitetura?
Nasceu pela curiosidade de construir e fazer coisas novas. Embora eu tenha dedicado parte do meu tempo ao ensino, ainda que o acompanhasse com alguns trabalhos de arquitetura. Mais tarde, liguei-me à parte solidária.

O ensino apareceu no início da carreira?
Sim, desde 1991. Comecei o curso aos 25 anos e acabei aos 31. Foram seis anos seguidos e nunca deu para ficar para trás. Entretanto ia estudando e dando aulas, fazemos estas coisas todas na nossa vida quando somos jovens.

Onde dava aulas?
Lecionei no Colégio de Lamas durante cerca de 20 anos. Dei aulas de desenho e educação visual, disciplinas ligadas às artes.

Gostava dessa veia de professor?
É daquelas coisas que fazemos na nossa vida e que nos vamos acomodando. Vamos ficando, depois casamos, vamos tendo filhos e trocar o certo pelo incerto é complicado. Aguentei-me até 2017.

O que o levou a colocar um ponto final na carreira?
Sou apologista de que nós não devemos trabalhar mais do que dez anos no mesmo local. Há uma necessidade de renovação própria dos nossos estímulos. É importante sair e experimentar coisas novas. E eu, no fundo, já estava cansado. Foi o cansaço e a forma como os miúdos vão alterando o comportamento ao longo dos anos que me levou a sair. Vamos começando a perder a paciência e isso leva-nos a desistir. Além disso, não posso dizer que o ensino seja aquela vocação verdadeira. Nunca foi um sonho, acho que foi mais a necessidade de trabalhar do que propriamente o gosto.

Mas foi desafiante?
Foi, tanto que consegui lá estar alguns anos. Quando deixei o lado de professor dediquei-me outra vez mais à arquitetura. Nunca a deixei nessa fase, embora naquele período entre 2010 e 2017, praticamente pouco fiz. No entanto, senti necessidade de voltar e assim foi. A escola também me roubava muito tempo e esse foi outro dos motivos.

Em que fase da sua vida aparece o Centro Social de Paramos?
Em 1988 entrei como vogal e depois em 1994 como presidente. Tive um interregno de quatro anos entre 2010 e 2014. Saí dos órgãos diretivos e depois regressei, estando até hoje.

Qual o motivo desse afastamento?
Na altura, achei que era necessário parar um bocadinho, dar a oportunidade a outros e de ver como é que isto andava. No entanto, começaram a chamar-me e, por isso, voltei estando cá até hoje. Decidi voltar porque tudo o que é Centro Social de Paramos praticamente fui eu que construi desde essa altura. A construção do edifício sede, por exemplo, tinha começado ainda eu era vogal, depois por motivos alheios esteve parado. Quando assumi a presidência, o edifício estava pronto apenas em fase de pedreiro. Foi preciso avançar e pelo caminho foram-se construindo outros projetos. Tudo isso fez com que eu me agarrasse aqui mais tempo. E assim fiz o caminho até hoje.

Não se arrepende de tantos anos de trabalho aqui?
Só me arrependo se alguém vier a destruir o trabalho que foi feito. Nas instituições, ninguém nos obriga a estar, só o fazemos porque queremos e gostamos e, nesse sentido, também somos livres de sair quando não temos mais nada para dar à instituição. Por isso, quando eu achar que já não tenho mais nada para dar vou-me embora.

E já vislumbra essa saída?
Já, mas tenho que arranjar um substituto primeiro. Além disso, há uma diferença. No passado os mandatos não eram limitados, mas hoje nas instituições são limitados como os presidentes de junta e de câmara. Nós só podemos, à luz da lei, fazer três mandatos consecutivos na presidência. Fiz dois, tenho mais um mandato que posso fazer de quatro anos. Aí a minha participação terá mesmo que cessar, mas não sei se chegará a essa altura.

Sempre foi fácil conciliar a arquitetura com o trabalho no Centro Social de Paramos?
Foi. Nós sempre dotamos a instituição de equipas capazes e autónomas para poder trabalhar sob orientações de uma direção. Somos uma direção, traçamos linhas estratégicas para podermos funcionar e aí as diretrizes são dadas a cada um dos departamentos. Tudo funciona bem e normalmente.

Que espaço tem a arquitetura hoje na sua vida?
É a minha única profissão atualmente e o resto do meu tempo é dedicado ao Centro Social. A minha vida é feita entre o meu gabinete e a instituição.

Artigo completo na edição de 17 de agosto de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.