Rosa Silva foi treinada por António Canelas no SC Espinho. (Foto: Sara Ferreira)

O longo percurso ligado a diferentes modalidades confere a Rosa Silva o estatuto de mulher do desporto. Com passado no SC Espinho, como andebolista, e no GD Outeiros, como dirigente, a espinhense mantém uma duradoura ligação ao desporto, através dos filhos, e um grande amor aos clubes que representou.

Como surgiu o interesse no andebol?

Vivi a minha juventude entre as ruas 6 e 4. Na altura, o treinador de andebol do SC Espinho era o António Canelas que morava na rua 4. Eu, assim como outras raparigas da minha idade e da mesma zona, fomos experimentando a modalidade que se jogava no pavilhão do antigo estádio. Foi ali que tudo começou, com 12 anos, no meu caso. Infelizmente, agora está tudo destruído, até me doí a alma quando passo lá e é algo que evito fazer.

A ligação à modalidade surge por proximidade…

Exatamente. Acabamos por conhecer outras pessoas, fomos convivendo e aprendendo. E assim começou o andebol, porque o António Canelas nos levou atrás dele.

E porque acha que ele era um bom treinador?

Porque conhecia o andebol, ensinou-nos as bases e depois exigia muito de nós. Portanto, ele sabia que tínhamos habilidade e éramos capazes de criar algo bonito. O António sempre nos incentivou e soube reconhecer o talento das raparigas.

Fez o caminho todo da formação no SC Espinho?

Comecei na equipa juvenil do SC Espinho e segui até ao escalão sénior. Não era fácil uma rapariga do escalão juvenil entrar na equipa das mais velhas.

Lembro-me, perfeitamente, do primeiro jogo que fui fazer às seniores, contra o Académico do Porto. Era juvenil, tinha 14 anos, cheguei à porta do balneário, cheia de vergonha, e perguntaram-me o que estava ali a fazer. Não estavam habituadas a deixar uma juvenil entrar no espaço delas, mas respondi que tinha sido convocada para jogar com elas.

Como correu o jogo?

Ganhámos e marquei um golo. Foi uma maravilha tendo em conta a minha idade.

Antigamente, havia muita diferença na relação das mais velhas com as mais novas, mas isso já não existe. Já não há mais essa hierarquia pela idade. No meu caso acabou por ser uma experiência saudável.

Hoje já não existe essa hierarquia de idade, mas acha que seria possível uma jovem de 14 anos estrear-se na equipa sénior?

Talvez não, porque, antigamente, o andebol não tinha tantos praticantes. Não havia muita gente e quem tivesse valor, quem tivesse um bocadinho de jeito e fosse mais desenvolvido fisicamente, talvez tivesse a oportunidade de se estrear mais cedo.

Depois desse primeiro jogo, olharam para si de maneira diferente?

Sim, começaram a olhar de outra maneira.

Artigo disponível, na íntegra, na edição de 23 de novembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€