“Desde criança que sinto admiração, e até certo fascínio, pelo bairro piscatório de Espinho e pelas pessoas que lá vivem”, revela André Roseira, o realizador do filme “Carapau de Espinho”, que foi projetado no Centro Multimeios na semana passada. “Sempre me pareceu uma realidade anacrónica, e de tal forma misteriosa, que poucas vezes me tinha atrevido a entrar. Esse fascínio e admiração estão na origem do projeto”.

A vivência de André Roseira com a arte xávega foi diária e intensiva durante um mês. “Gravámos metodicamente, e de forma repetida, todos os passos que existem entre a abertura dos armazéns, às 5 da manhã, e a venda do peixe pelas ruas de Espinho, à tarde. Assistimos ao nervosismo dos donos das campanhas enquanto esperavam pelo regresso das redes, pois só então conheceriam o resultado do lance, assistimos à camaradagem entre pescadores, assistimos ao orgulho com que esta comunidade preserva as tradições… enfim, durante um mês senti-me um observador privilegiado das práticas da arte xávega”.

“Carapau de Espinho” foi filmado em 2017, “um ano tenebroso a nível pessoal” para André Roseira, natural de Macau e que aos 18 anos se mudou para o Porto. “Perdi duas pessoas que amava. Uma delas, a minha tia Maria Teresa Costa, que era de Espinho. Quando adoeceu, mudei-me para Espinho para estar com ela e, perante a morte, agarrei-me à criação. Fiz este documentário a pensar nela”.

Artigo completo na edição de 25 de novembro de 2021. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 30€.