DE/ARQUIVO

“Por Joaquim ninguém o conhece. Muito menos por Lucas, Duro ou Jesus. O seu principal apelido, aquele por que é tratado, não está registado no bilhete de identidade. Não é assim, ‘Quinito’?”. Quem o descreveu desta forma foi Álvaro Graça, na ediçao deste jornal, a 13 de junho de 1991, aquando do regresso do treinador ao Sporting de Espinho. Quinito foi jogador, treinador, escuteiro, quase doutor, quase suinicultor, jornalista e escritor. Mas foi nos vários estádios espalhados pelo país que escreveu e dirigiu muitas das grandes exibições dos alvinegros e dos restantes clubes por onde passou. Trinta anos depois da conquista da 2.ª Divisão de Honra, com testemunhos de quem com ele privou de perto, celebra-se o homem por trás do feito histórico e do qual o futebol espinhense e português sentem falta.

Joaquim Lucas Duro de Jesus é o nome verdadeiro, mas Quinito chega e sobra para identificar uma das personagens mais caricatas e admiradas do futebol português e não só. Nascido a 6 de novembro de 1948, na freguesia de Bocage, em Setúbal, demorou a dar os primeiros passos no futebol. Enquanto não dava toques na bola, deu toques noutras áreas, como o escutismo, a suinicultura, a medicina e há quem diga que a tauromaquia também lhe tenha despertado interesse. O desporto rei, esse, só chegou em força na adolescência, nos relvados do Comércio e Indústria. Seguiu-se uma carreira bem-sucedida enquanto jogador, representando clubes como o CF Belenenses, o Sporting de Braga e passou ainda por Espanha, ao serviço do Racing de Santander, que lhe vale até hoje uma adoração pelos adeptos locais.

Mas foi como treinador que Quinito deixou o seu maior legado no futebol português e internacional. Na edição de 11 de novembro de 1986 da Defesa de Espinho, o setubalense contou que este seu percurso enquanto técnico “não foi nada programado”. “Aconteceu por acaso, pois foi-me pedido para fazer parte de uma equipa técnica do Sporting de Braga aquando da saída do sr. Fernando Calado”, acrescentou. Apesar de ter começado esta aventura “renitente, pois pensava que realmente não era aquele o caminho que havia de seguir”, Quinito acabou por aceitar o desafio. “De facto, nunca tinha pensado ser treinador de nada, até que fui pressionado pelo presidente da altura, Dr. Gomes de Almeida, e também por alguns jogadores, que disseram que gostariam que eu ficasse a ajudar na parte técnica. Acabei por aceitar e, para grande espanto meu, logo no primeiro treino verifiquei que realmente era aquilo que eu gostava de fazer”, confessou naquela edição do semanário espinhense.

O percurso iniciado no Sporting de Braga, na época de 1980/1981 acabou por levar o bem-sucedido Quinito a representar outros emblemas, cá dentro e lá fora. Esteve por duas temporadas a representar o Yarmouk, no Kuwait, e, depois da aventura em solo internacional, veio finalmente apresentar-se às gentes da cidade de Espinho.

Chegou a meio da época de 1986/1987 para substituir o ‘magriço’ António Simões e tirar o Sporting de Espinho dos lugares do fundo da tabela classificativa. Como disse na altura, “atacar a subida” era o objetivo e foi exatamente isso que fez. Alcançou, de forma surpreendente, a promoção ao principal escalão do futebol português e colocou a cereja no topo do bolo ao levar o SC Espinho à sua melhor classificação de sempre na I Divisão, na época seguinte: um sexto lugar.

Saiu de terras espinhenses para representar os azuis e brancos e outros tantos clubes, mas o emblema tigre voltou a pedir o seu auxílio, quando se viu numa situação complicada.

A Defesa de Espinho anunciava um possível regresso do técnico na edição de 6 de junho de 1991. Nela, Quinito deixava a dúvida no ar: “Gosto muito do meu ‘Espinhinho’, mas ainda não está nada definido. Ainda esta semana vou aí para falar com a Direcção”. A conversa com os órgãos máximos do clube aconteceu e as dúvidas foram desfeitas na semana seguinte, com a Defesa a anunciar na edição de 13 de junho o “regresso do ‘Senhor dos Milagres’”.

O técnico que vinha ajudar a voltar a erguer o Sporting Clube de Espinho recordou os dois anos que já tinha por cá passado, lembrando como “foram maravilhosos, com uma mística muito grande”. E, preparando os tempos que se seguiam, começou a reconstruir a equipa à sua imagem.

Em antevisão à época que viria a terminar com a conquista da 2.ª Divisão de Honra, Quinito dizia a este jornal, a 18 de junho de 1991: “Vai ser um campeonato muito equilibrado, se calhar, com duas mãos-cheias de equipas com um potencial futebolístico muito semelhante”. “É da minha vontade, e da minha responsabilidade, pôr a equipa a jogar bom futebol de modo a dar bons espectáculos a esta massa associativa exigente. Paralelamente, pretendemos alcançar resultados que nos vão entusiasmando domingo a domingo para podermos pensar num lugar que nos dê acesso a subida de divisão”, prometia o treinador.

Reportagem completa na edição de 2 de junho de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.