Fotografia: Francisco Azevedo/DE

António Oliveira adotou a alcunha familiar de Pinhão para sinalizar a autoria de um vasto exercício de pintura, que vai cruzando com a atividade contabilística. Nascido há 66 amos, em Caracas, o pintor carateriza-se pelo abstracionismo. “Os pintores ou as pessoas que pintam expressam nas telas os seus sentimentos e emoções, o seu pensamento e a sua maneira de estar”.

Os primeiros rabiscos sinalizaram dotes artísticos?

Ainda era criança quando comecei a fazer rascunhos e mais rascunhos. Eu conseguia transportar o que estava numa planta de uma obra do meu pai para um papel em que eu apontava e rascunhava numa escala mais reduzida. Recordo-me de ter feito um trabalho sobre a feira de Espinho para a escola. Tinha 12 anos e fiz um trabalho espetacular. A feira ainda era junto ao Tribunal. Acentuei o verde das árvores.

Diz-se que o verde é a cor da esperança…

Há tantas tonalidades de verde, principalmente na natureza. E na feira de Espinho havia e ainda há a cor verde de frutas e legumes nas bancas.

Com uma dúzia de anos ainda era artisticamente “verde”, mas primava pelo rigor?

Os meus colegas tentavam a perfeição, fazendo tudo muito certinho. Eu talvez já tivesse a noção artística de que o erro é que vai chamar a atenção.

A criatividade entronca no rigor?

Há muitos que pintam com todo o rigor possível. Eu não sou pintor de olhar para um postal e passá-lo para a tela. A tela está virgem, ou seja, está branca e é aí que eu tenho de me focar. Tenho de ter motivação para a transformar. E para isso preciso de espírito criativo. Por vezes dá-se uma pincelada e até nos surpreendemos com a forma da pincelada. Mas é aquela pincelada que vai definir todo o trabalho.

Não se define retratista, optando por dar um cunho pessoal ao que vê e lhe serve de modelo…

Não gosto de ser retratista, preferindo dentro de um contexto fazer algo que não seja igual. É como quando olhamos para as pinturas de Picasso e ficamos perplexos com a imaginação dele. Os pintores ou as pessoas que pintam expressam nas telas os seus sentimentos e emoções, o seu pensamento e a sua maneira de estar.

É preciso ser-se criativo…

Se não tivermos criatividade vamos fazer aquilo que os outros fazem. Temos de aceitar que somos diferentes e, por isso, devemos fazer coisas nossas.

Artigo disponível, na íntegra, na edição de 27 de outubro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.