Manuel Violas confessou sentir um "turbilhão de emoções" ao recordar o percurso da sociedade criada pelo pai (Fotografia: Sara Ferreira)

Meio século. É esta a marca que a Solverde conquistou em abril, mas que celebrou na passada sexta-feira, 4 de novembro. Preparada com todo o cuidado, a festa que comemorou os 50 anos do grupo espinhense dividiu-se entre o Hotel Solverde Spa & Wellness Center, na praia da Granja, e o Casino Espinho, contando com a participação de diversos convidados.

Vindo diretamente do encerramento da Web Summit, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, era, talvez, a figura mais aguardada. Chegou ao hotel ao fim do dia, com o objetivo de homenagear o percurso de uma empresa espinhense que considera “notável”. Recordando a curiosidade de ter conhecido o fundador da Solverde, Manuel de Oliveira Violas, Marcelo Rebelo de Sousa destacou a “capacidade de um grande líder que era arrojado, mobilizador daqueles que começavam por ser os seus conterrâneos e ao serviço da sua terra”, sempre acompanhado por “uma visão de futuro” para Espinho. “Vinha no caminho a recordar que este grupo teve um momento decisivo em 1972, num conselho de ministros onde estava o meu pai. O mundo é muito pequeno e recordo-me que houve grande discussão, naquela altura, sobre a atribuição das concessões. Estávamos a viver no início dos anos 70 e havia grandes hesitações sobre o arrojo de algumas propostas”, lembrou o Presidente da República sobre o início da Solverde.

Manuel Violas, atualmente presidente do conselho de administração da Solverde, não escondeu a emoção sentida ao recordar o já longo caminho de meio século de uma sociedade criada pelo seu pai, juntamente com outros espinhenses. Num discurso de celebração, Manuel Violas confessou “não ser a pessoa indicada para descrever o percurso empresarial” do pai, mas ressalvou “a dimensão humana e o caráter visionário” que caracterizavam o fundador da sociedade. “Quando refleti um pouco sobre a mensagem que queria transmitir ao celebrar o cinquentenário da Solverde, confesso que de imediato me assaltou um verdadeiro turbilhão de sentimentos que dificilmente consigo controlar. Em 1972, no Norte de Portugal, ninguém ou quase ninguém encarava o turismo como uma atividade com potencial de desenvolvimento e muito menos que essa atividade viesse a ter a dimensão que hoje conhecemos. Foi, portanto, preciso ter fé, acreditar e ter um enorme espírito empreendedor só ao alcance daqueles a quem o destino predestinou para papéis de especial relevo e exigência”, considera Manuel Violas, afirmando que “é desse mesmo espírito que hoje a Solverde é herdeira”, sendo nessa capacidade de inovar que alicerça o seu dia a dia.

Para António Costa Silva, ministro da economia e do mar, também presente na cerimónia de comemoração do aniversário, Manuel de Oliveira Violas teve na sua vida “questões absolutamente extraordinárias”, caracterizando-o como um grande visionário. “As empresas são o motor fundamental do desenvolvimento económico do país e os grandes empresários são visionários, não só criam empregos, desenvolvem atividades, mas fazem as transformações certas nas alturas adequadas, sincronizando-se com as tendências do futuro. Acho absolutamente extraordinário que uma pessoa nos anos 60 se vire para um ministro e diga: pode-me prender, mas eu vou começar a fabricar fibras sintéticas. Isso é de uma clarividência e de um visionário extraordinário, pois as empresas fazem-se disso”, considerou o ministro.

Explicando que “reconhecer o papel das empresas é fulcral para olhar o futuro de forma diferente”, António Costa Silva defendeu que o país muitas vezes não reconhece esse valor. “Há pessoas que têm a clarividência, o dom de visualizar o futuro, de apostar nesse futuro, de ter a convicção e depois gerar as condições para estes grupos se desenvolverem. Infelizmente, vivemos num país que muitas vezes hostiliza as empresas, não reconhece o seu papel, hostiliza o lucro e acho que isso é uma condição de atraso”.

Olhando para trás, Manuel Violas descreveu que “desde a sua fundação, a Solverde ultrapassou largamente as fronteiras de Espinho e de Gaia e é hoje uma empresa de dimensão nacional e uma referência inquestionável das condições de jogo de fortuna e azar e do turismo português”, algo que Marcelo Rebelo de Sousa também não esqueceu, destacando a “importância da liderança empresarial” deste grupo que “teve liderança, deu continuidade, soube recriar-se, nomeadamente agora no digital, assumiu a sua função social e foi e continua a ser liderante, ambicioso e imparável”.

Segundo o presidente do conselho de administração, a empresa soube, ao longo dos 50 anos, “adaptar-se às transformações estruturais de enorme significado, quer a nível nacional, quer a nível internacional” e destacou o crescimento assente em valores de humanismo e de liberdade. “A Solverde desenvolveu-se dentro desse espírito e foi assim que chegou ao Algarve e a Trás-os-Montes e não deixa de ser simbólico que esta cobertura do território nacional toque os dois extremos de Portugal”, acredita Manuel Violas.

Para o ministro da economia e do mar, “a aposta do jogo online é absolutamente extraordinária, além de que o investimento do turismo é um dos grandes motores de desenvolvimento do país”, até porque hoje “o turismo hoje é uma das grandes indústrias nacionais”.

Fazendo uma alusão à situação do país, António Costa Silva adiantou que, em 2022, vai ser possível chegar a cerca de 49% das exportações em termos do PIB e 20% delas estão relacionados com os serviços de turismo. “Tivemos em 2019 um ano recorde absoluto no turismo de Portugal, tivemos cerca de 27 milhões de hóspedes, receitas na ordem dos 18.4 mil milhões de euros e, curiosamente, este ano, provavelmente, vamos bater todos esses recordes de receitas e em relação ao número de visitantes estou em crer que vamos ultrapassar”, confidenciou o ministro com a pasta da economia, explicando que tudo “é ainda mais extraordinário quando nos anos da pandemia o setor ficou praticamente paralisado”. No entanto, ressalvou que 2023 vai trazer ainda várias dificuldades. “Se olharmos para os anos da pandemia [2020-2021] verificamos que tivemos um recuo de 24 anos no número de hóspedes e, em termos de receitas, tivemos um recuo de 11 anos, mas apenas num ano conseguimos recuperar e estar na situação extraordinária que estamos. É evidente que isto não deve servir de ilusão para ninguém, até porque o próximo ano vai ser, a meu ver, difícil.”

Reportagem exclusiva disponível, na íntegra, na edição de 10 de novembro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€