Esperar pelo Natal pode ser tarde

Achamos sempre que temos tempo para abraçar e mandar mensagens amigas a quem apreciamos. Vai chegar o Natal, pensamos, e nessa altura entraremos em contacto, mas a vida prega-nos partidas. Este ano, com muita tristeza, não poderei escrever a minha mensagem de Natal ao Lúcio Alberto, o homem que foi o líder deste jornal durante 24 anos. Fica em pensamento sempre presente o amigo afável e sensato, o seu exemplo como jornalista de um jornal local que liderou com tanta dignidade e paixão. O meu muito obrigada enquanto cidadã e amiga e a minha tristeza por não lho ter dito mais vezes o que sentia. Em sua homenagem continuo a escrever, como sei que ele gostaria… 

Sim, guardamos muito do que deveríamos fazer ao longo do ano para esta fase natalícia. 

Logo no início de dezembro começa a contagem decrescente para a chegada do Natal, embora já em novembro, o comércio faça tudo para nos lembrar que é preciso comprar, comprar. Os bens materiais nada têm a ver com o espírito de Natal mas, se pensarmos que a troca de presentes não exagerados, como forma simbólica de mimar quem mais gostamos, até fazem sentido. Afinal todos fazem esforços, nesta época, para encontros que são adiados durante todo o ano. Ainda bem que é assim! Isto se a vida não nos pregar partidas. 

As grandes marcas do Natal da nossa cultura começam com o presépio e, mais tarde, com a árvore de natal. Esta tradição da árvore de Natal foi introduzida em Portugal por D. Fernando II, duque de Saxe-Coburgo-Gotha e rei consorte, para recordar a tradição de Natal da sua infância passada na Alemanha. Por volta de 1844, o monarca, nascido em Viena, na Áustria, colocou, no Paço Real em Lisboa, uma árvore e enfeitou-a para festejar com os sete filhos e a rainha, D. Maria II, com quem casou a 9 de abril de 1836. E assim, o resto das monarquias tornaram usual as fotografias natalícias em torno da árvore de Natal. Já a tradição do presépio é bem mais antiga. Foi em 1223 que S. Francisco de Assis deu forma a esta cena da natividade, deslocalizando-a da igreja para a floresta da cidade de Greccio, em Itália, para que os camponeses entendessem melhor a história do nascimento de Jesus. 

Ir ver o maior presépio da Península, é um desafio que vos proponho. Vi-o pela primeira vez ainda criança. Voltar a vê-lo, agora com olhos de adulto, foi muito interessante. 

Ficou completamente integrado na cultura da Península Ibérica no século XVIII tendo sido gradualmente inserido nas casas comuns e não apenas em igrejas, catedrais ou casa de pessoas nobres. 

O presépio tradicional português é bem diferentes dos demais existentes noutros países. É composto não apenas pelas figuras emblemáticas – Sagrada Família, pastores e os três Reis Magos, mas também por imensas figuras do quotidiano, dando outra e mais alargada representação à história da natividade com inclusão da comunidade envolvente. A origem das peças de cerâmica é dos arredores da cidade de Barcelos. 

Sim, entramos já na reta final para a chegada da grande festa da família. As ruas estão menos iluminadas este ano, por uma boa razão. As árvores de Natal em cada casa estão enfeitadas com bolas coloridas, neve a fazer de conta e luzes a piscar. O presépio, esse quase nunca se apresenta embora seja o grande motivo do Natal. 

Ir ver o maior presépio da Península, é um desafio que vos proponho. Vi-o pela primeira vez ainda criança levada pelos meus pais. Voltar a vê-lo, agora com olhos de adulto, foi muito interessante. 

Muitas pessoas não se apercebem deste encanto de presépio quando visitam a lindíssima Basílica da Estrela, situado em local quase escondido, numa sala atrás do túmulo de D. Maria I, que o mandou executar. Entre cenas bíblicas e do quotidiano, mais de 400 figuras compõem a grandiosa encenação de autoria do escultor Machado de Castro. Temos aqui presente o verdadeiro presépio “à portuguesa” como antes referi. 

D. Maria I, a rainha que mandou erguer a Basílica da Estrela, em Lisboa, na esperança de ficar grávida e, por causa desta oferta régia, os Reis Magos aparecem em primeiro plano num presépio português. O escultor, em homenagem à soberana, inclui na representação um grandioso e exótico cortejo, liderado por Gaspar, Melchior e Baltasar. Todas as centenas de figuras presentes enquadram a ação principal, que está centrada numa manjedoura onde, deitado numas palhinhas, se encontra o menino Jesus. 

Protegido por um armário envidraçado, este presépio revela-se uma verdadeira obra de arte. Aqui está um magnífico presente: uma visita ao presépio da Basílica da Estrela! 

Mas o mais importante: nunca espere pelo Natal para celebrar a amizade e a vida! 

Arcelina Santiago
Professora