No interior do concelho é o verde que domina a paisagem, no entanto em todas as freguesias existem grandes desafios relativos à preservação ambiental. A Defesa de Espinho começa hoje uma série de três reportagens em que vamos fazer uma viagem pelos trilhos junto às ribeiras que desaguam em Espinho, expondo os principais problemas que cada uma enfrenta. Hoje começamos a norte, na Ribeira do Mocho, onde o lixo depositado nas zonas florestais representa uma grande ameaça ao ecossistema.

É num dos pontos mais a nordeste do concelho que damos o pontapé de saída de uma viagem pelas zonas verdes de Espinho, mais concretamente em Guetim, junto à rua das Relvas. A descer por um caminho de terra, repleto de cascalho, chegamos a uma pequena ponte de pedra sobre a Ribeira do Mocho, enfeitada por populares. A montante a vegetação quase cobre completamente a linha de água, principalmente as conhecidas silvas. Passando para a outra margem, é possível vislumbrar algumas tentativas de valorização do local, como um baloiço de madeira, bancos, mesas, sinalização e até um altar.

Caminhando para nascente, passamos por um trilho a subir, que cruza a terra e o cascalho, assim como podemos observar alguns pneus e jantes de automóvel abandonadas. Vemos ainda um estaleiro aparentemente abandonado, com um pedido de licenciamento para a construção de uma central voltaica, antes de chegarmos ao fim da subida, onde existe uma lixeira a céu aberto todo o tipo de resíduos.

Mas neste local, conhecido em Nogueira da Regedoura como o areeiro, este não é o único foco de poluição. Mais à frente, perto da autoestrada, o lixo amontoa-se junto a uma vedação da Junta de Freguesia, que impedia a passagem de veículos para uma outra lixeira a céu aberto de grandes dimensões. Aqui o verbo encontra-se no passado pois a corrente colocada pela autarquia já foi destruída. O cenário é ainda mais crítico à frente, onde existe de tudo um pouco, inclusive um aviso da Junta de Freguesia com a frase “proibido pôr lixo neste local” inscrita. No entanto, o desrespeito pela placa é notório se considerarmos os vários montes de resíduos ali encontrados.

Segundo Rui Rios, presidente da junta de Nogueira da Regedoura, apesar de existir um serviço de recolha de “monos” da autarquia, muitas pessoas preferem dirigir-se a esta zona e “se o cadeado estiver rebentado colocam o lixo dentro do pinhal, senão deixam ficar ao lado do viaduto”. Entre sofás, frigoríficos, colchões, materiais de construção, pneus, admite terem realizado já diversas participações às autoridades com matrículas de veículos avistados no local. “É uma falta de civismo. Apesar da educação nas escolas, não sei como podemos combater isso”, afirmou a autarca nogueirense.

Alto da Picadela não fica imune ao lixo

Prosseguindo com a viagem pelas zonas verdes, seguimos agora em direção ao Parque da Picadela, em Guetim. Passamos por baixo de um pequeno viaduto sob a A41, uma zona abandonada, onde a estrada nunca teve continuação para norte, sendo nos dias de hoje mais um local predileto para a deposição de lixo e vandalismo. Desde estores até colchões, existe de tudo um pouco neste espaço escondido junto à autoestrada.

Junto ao viaduto mais à frente, nos acessos de Cassufas, o cenário repete-se. Neste lugar de Anta existe ainda um foco de concentração de lixo entre a rua da Mimosa e a rua da Voltinha, o que revela a grande suscetibilidade dos locais mais escondidos à deposição de resíduos.

Estamos agora no alto da Picadela, a cruzar a fronteira entre os concelhos de Santa Maria da Feira e Espinho, onde, mais uma vez, o lixo é uma constante. Este local está inclusive, segundo Nuno Almeida, presidente da Junta de Anta/Guetim, sinalizado como dos mais poluídos na união de freguesias. Aqui é principalmente o entulho proveniente da construção que mais destoa na paisagem, mas podem-se encontrar outros resíduos, tais como copos de velas votivas.

Idanha também é casa de várias lixeiras

Seguimos caminho, cada vez mais para ocidente. A ribeira deixa a Picadela e segue para outro importante espaço guetinense, a Gruta da Lomba. Ambos estão presentes no livro “Espaços Verdes e Vivos” da associação Campo Aberto, que faz uma compilação das 50 principais zonas verdes da Área Metropolitana do Porto. Neste estudo publicado em 2017 é referida a integração dos dois parques na Carta de Estrutura Ecológica da 1ª Revisão do PDM de Espinho, contemplando um projeto de ligação dos dois pela linha de água comum. Contudo, mais de cinco anos depois nada saiu do papel, sendo a maior prova disso, os editais da Comissão Fabriqueira da Paróquia que nos fazem recuar a 2011.

Daqui até chegarmos à Idanha passamos ainda por uma grande mancha verde do concelho. Pelos vários trilhos que aqui encontramos, é também grande a concentração de resíduos. No entanto, existem outros pontos críticos mais a norte, nomeadamente junto à autoestrada A29. Num corte imediatamente antes de se cruzar a ponte que faz a ligação à Ponte de Anta, deparámo-nos com diversos amontoados de lixo, com colchões, madeira, cascalho, roupa, etc.

Do lado de São Félix da Marinha o cenário não é melhor. Cruzando a fronteira na rua do Souto de Baixo, na margem norte do rio Juncal, perto da zona industrial, a poluição é bastante intensa. Contactada pela Defesa de Espinho, a Junta de Freguesia respondeu pela voz do presidente Carlos Pinto que classificou o fenómeno como “uma situação triste e de lamentar” e referiu que apesar dos esforços da autarquia não conseguem “obter uma resposta positiva da população porque a falta de civismo sobrepõe-se”.

Lixo não dá tréguas até à Ponte de Anta

Ao passar a Idanha, a Ribeira do Mocho cruza a autoestrada A41 para o lado de Esmojães, mais propriamente para o lugar do Carvalhal, que também não foge ao flagelo da poluição. Aqui o caso mais flagrante está na rua da Levada, cujas bermas concentram vários tipos de plásticos.

Seguimos viagem para jusante rumo a Anta, mas antes passamos ainda pelo conhecido “Choupal”, um local junto à ribeira com vários choupos, que outrora, na década de 80, chegou a ser um espaço de convívio da população da freguesia. Hoje é apenas um estaleiro.

Passando a A29, a ribeira corre em direção à Rua 19, onde passa por baixo da popularmente conhecida “rotunda dos Cubos”. Daí segue pela Congosta, onde passa junto ao largo Fernando Padeiro, assim como pelo Lameirão até chegar à Ponte de Anta. Esta zona antense, com importância histórica para a freguesia pela mítica ponte de pedra que outrora teria existido, está também afetada pela poluição, principalmente nas proximidades da autoestrada. Um dos locais mais problemáticos é o caminho entre o Chetas e a Idanha, onde a vegetação também é bastante densa, mas também o extremo norte, perto do lugar da Tabuaça, que está também, segundo o presidente da Junta de Freguesia, Nuno Almeida, sinalizado pela autarquia.

Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 2 de março de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€