Rogério Fernandes é silvaldense de gema. Começou a dar uns pontapés na bola na equipa do Cruzeiro, mas após o serviço militar, onde foi enfermeiro, ganhou o gosto pela função de massagista. Passou pelo futebol e pelo voleibol do SC Espinho, mas é na Académica de Espinho que tem assumido um papel essencial há mais de duas décadas. Rogério, aos 80 anos, é uma das almas academistas.
Já desde tenra idade que está ligado ao desporto. Como é que tudo começou?
Fui jogar futebol para o Cruzeiro de Silvalde aos 15 anos de idade e depois fui jogar para o SC Espinho. Interrompi a atividade pois fui cumprir serviço militar em Angola. Quando regressei, em 1967, parti a perna direita. Fui para o Hospital Militar no Porto e depois fui transferido para o Hospital Militar de Lisboa onde fiquei internado. Ainda estava na tropa, mas deixei de jogar futebol federado nessa altura. O meu último treino coincidiu com o primeiro do falecido Capitão Mor. Era presidente da direção do SC Espinho o falecido José Oliveira.
Alguma razão em particular por ter dado os primeiros passos no Cruzeiro de Silvalde?
Era o clube da minha terra onde tinha imensos amigos. Recordo-me que em 1967, quando fraturei a perna, o Cruzeiro deixou de participar em jogos, uma vez que não havia pessoas que quisessem assumir a direção do clube. Além disso, houve muitos jovens da altura que foram cumprir o serviço militar obrigatório e não havia gente para jogar. Por isso, o clube parou. Mais tarde, falei com alguns antigos elementos do clube e conseguimos reerguê-lo. A sede do clube era onde atualmente está a Quinta do Loureiro, em Silvalde.
Houve algum jogo que o tenha marcado enquanto cruzeirista?
Houve um jogo no antigo campo de futebol do Regimento e estava em disputa uma taça. Um indivíduo acabou por roubar a taça e fugiu! Tínhamos ganho o jogo e por isso conquistado a taça. Fomos à Guarda Nacional Republicana e apresentámos queixa. A guarda foi a casa do indivíduo e foi buscar a taça.
No SC Espinho teve alguns atletas de referência?
Joguei com o Luciano, Bouçon, Alcobia, Vladimiro Brandão, Válter Brandão, Silva, Amorim e tantos outros dessa época.
Como é que se lembrou de ser massagista?
Tinha umas luzes sobre a arte, uma vez que tinha sido enfermeiro no Hospital Militar. Mas comprava imensos livros e lia sobre a arte de massagista e sobre medicina desportiva.
Um dos elementos da equipa médica do SC Espinho falou com o médico responsável, o dr. Leitão. Nessa altura, ele quis que começasse a trabalhar no clube. Em 1970 comecei a exercer as funções de massagista no SC Espinho onde permaneci até 1990. Fui massagista do voleibol sénior do clube e dos juvenis de futebol. Entretanto, o SC Espinho deixou de me pagar e os jogadores e dirigentes do voleibol deixavam essa modalidade para irem para o futebol profissional.
Vi, um dia, a pagarem a um jogador júnior de voleibol, numa altura em que me deviam dinheiro a mim. Nessa altura, o médico que trabalhava comigo era o Rui Vitó que era uma pessoa espetacular. Decidi sair porque já me deviam muito dinheiro, cerca de 225 contos [1120 euros].
Esse dinheiro que lhe deviam era só de ordenados?
Não era só disso! Fomos jogar a Madrid para as competições europeias de voleibol e o dr. Aníbal Silva foi comigo a uma farmácia comprar medicamentos. Fomos num táxi e paguei, do meu bolso, 2500 pesetas. Nunca mais vi esse dinheiro. Houve um diretor na altura que me disse que quando chegasse à minha vez que me iriam bater à porta. Até hoje continuo à espera. Se calhar não souberam onde era a minha casa!
Apesar de tudo, ainda guarda boas recordações do clube?
Claro que sim. O clube já não conquistava o campeonato nacional de voleibol há cerca de 20 anos. Foi na altura em que veio para cá o Kustra, mas ganhámos taças de Portugal.
Deixa-me boas recordações os passeios que demos nas deslocações aos jogos das competições europeias de voleibol. Fomos a Hamburgo, Madrid e Tenerife, onde chegámos a estar durante oito dias.
Artigo completo na edição de 11 de maio de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.