João Pinto foi um dos capitães dos tigres na segunda das cinco épocas que serviu os alvinegros. No ano passado, o presidente do SC Espinho convidou-o para assumir as funções de diretor executivo para o futebol. Pendurou as chuteiras e vestiu o fato para desempenhar as novas funções.
Como começou a jogar futebol?
Sempre joguei futebol e nunca experimentei outra modalidade. O futebol era mesmo a minha grande paixão. Por isso, aos oito anos de idade fui para as escolinhas de futebol do clube da minha terra, o Lusitânia de Lourosa. Foi lá que fiz toda a formação no futebol. Na minha transição de júnior para sénior permaneci no clube e fui campeão. No segundo ano fui emprestado ao Arrifanense.
Como aceitou o empréstimo?
Foi algo de muito positivo porque esse contacto com outra realidade, muito diferente daquela que tinha tido até aí, fez-me crescer imenso. Fiz muitos jogos e isso deu-me alguma experiência e maturidade. Por isso, quando regressei a Lourosa, na 2.ª Divisão B, com o treinador Pedro Martins, consegui apresentar-me com melhor rendimento e ganhei um espaço na equipa.
Nunca teve nenhuma proposta mais tentadora para mudar de clube?
Na fase inicial da minha carreira não surgiram convites. Penso que nem sempre tomei as melhores decisões, mas a verdade é que, nessa altura, não havia uma presença tão grande de empresários e agentes de jogadores como há atualmente. Por isso, nunca passei da 2.ª Divisão nacional. Porém, quando estava a jogar na AD Sanjoanense, surgiu a proposta de um clube da 2.ª Liga. Já estava com 26 anos e isso fez com que tomasse a decisão de não dar esse passo. Não era o momento de progredir nesse sentido e, por isso, optei por continuar a jogar futebol e a manter o meu emprego. Acho que nunca cheguei ao futebol profissional porque recusei esse convite.
Qual foi o momento mais impactante na sua carreira desportiva?
Tive um ano inesquecível pelo FC Cesarense. Recordo-me que iniciei essa época no campeonato distrital pelo Milheiroense e, à sétima jornada, apareceu-me o FC Cesarense, que jogava na 3.ª Divisão Nacional. O clube precisava muito de um médio-defensivo. Olhei para o projeto e fiquei reticente. O clube encontrava-se na oitava posição da tabela e o projeto visava a subida de divisão. Pensei que seria muito difícil chegar ao primeiro lugar. O clube e o treinador, Joaquim Martins, insistiram muito e acabei por aceitar. No final fomos felizes com 20 vitórias consecutivas. Fomos campeões e subimos de divisão.
Por que razão escolheu sempre os clubes que estavam mais perto de casa?
Nunca quis abdicar do meu trabalho para jogar futebol.
Voltando ao campo, já falou em jogar a médio, mas no SC Espinho foi defesa-central. Foi um jogador polivalente?
Na formação fui sempre médio defensivo. No entanto, com o passar dos anos fui tendo mais experiência e fiquei mais fortalecido. Passei a ocupar a posição de defesa-central pelas mãos do Pedro Martins, no Lourosa. Havia dois defesas-centrais que estavam impedidos de jogar o jogo contra o Caniçal, o segundo classificado. Era um jogo difícil e o treinador viu em mim a melhor solução para colmatar a ausência dos colegas. Tive uma semana inteira de adaptação à posição. Correu-me muito bem porque fiz um bom jogo e ainda marquei um golo.
Marcou muitos golos?
Tive uma fase muito boa entre os 22 e os 27 anos de idade. Foi uma altura em que, em média, marcava nove a 10 golos por época. Mas regra geral, em todas as temporadas fui marcando golos.
Como surgiu o SC Espinho na sua vida?
O SC Espinho apareceu na minha melhor altura. Estava num projeto que, inicialmente era de subida de divisão, no CD Estarreja, mas a época não estava a correr da melhor maneira, com muitas lesões e castigos. Por isso, estava um pouco insatisfeito. Surgiu o Espinho, com toda a sua história e um clube de referência a nível nacional, ainda por cima muito perto de casa. O clube estava a fazer uma época extraordinária no distrital e, por isso, senti que era a altura para ir. Era algo de desafiante, até porque o clube se encontrava a oito ou nove pontos do primeiro classificado. Olhei para a estrutura do SC Espinho e para a envolvência da sua massa adepta e senti que era possível chegar ao primeiro lugar. Foi muito fácil o ‘casamento’. Fiquei muito satisfeito por ter chegado a acordo.
O que sentiu quando esteve em contacto com a massa adepta do SC Espinho?
A ideia que tinha dos adeptos do SC Espinho, antes de vestir a camisola, era completamente diferente da que me deparei. Nunca pensei que os adeptos estivessem tão próximo do clube como realmente estão. Vestindo a camisola preta e branca senti que os adeptos, afinal, eram extraordinários pois nunca abandonavam o clube. Sabia que o SC Espinho tinha uma história enorme e que os adeptos tinham muita força, mas fiquei surpreendido quando entrei porque verifiquei que era algo de fenomenal. Quando há vitórias, em qualquer clube, os adeptos apoiam a equipa e no SC Espinho, eles fazem-no em qualquer momento, o que é único.
O que sentiu ao entrar, pela primeira vez, no mítico Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas?
Nunca tinha sentido tanta pressão como dessa vez. Senti que o clube mantinha sempre as raízes dos seus melhores tempos. Embora estivesse, nessa altura, num contexto amador, o Estádio ainda tinha consigo toda uma carga de sucessos.
Artigo completo na edição de 18 de maio de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.