Fabiana deixou o emprego como bancária e acompanhou o marido, Andrius, na sua missão em Espinho (Fotografia: Isabel Faustino)

Desmotivados pela insegurança e violência do país, são muitos os cidadãos brasileiros que procuram em Portugal e em Espinho uma nova oportunidade de vida. Na cidade, admitem ter encontrado um pequeno paraíso, comparam realidades e não escondem que voltar ao Brasil é uma ideia que não está propriamente em cima da mesa.

Filha de um português, Gabrielle Santos Jesus, despediu-se do Brasil há cinco anos para um recomeço de vida em Espinho. Apesar de conhecer a cidade desde pequena, devido às visitas anuais que fazia a Portugal, Gabrielle nasceu e sempre viveu no Rio de Janeiro, até que a insegurança do país a forçou a sair.

“No fundo, sempre tive aquele sonho de um dia viver em Portugal. O meu pai é português, mas emigrou para o Brasil quando tinha 15 anos, por isso nasci lá, mas sempre vim de férias, principalmente para Espinho porque é a cidade dele”, conta, relevando o porquê de ter escolhido Espinho para viver.

Apesar de gostar do seu país, Gabrielle não esconde que a realidade atual é dura e, por isso, mesmo com todas as dificuldades que uma mudança de país acarreta, não hesitou na hora de procurar um lugar melhor. “A minha maior preocupação era os meus filhos. Por isso, o meu motivo principal, como é o de vários brasileiros, era o de dar um futuro melhor para eles e com liberdade”, revela, explicando que a mudança se concretizou na altura certa. “Vim numa fase em que eles ainda estavam pequenos. Um tinha 8 e o outro 11. Vim precisamente para não chegar naquela fase de eles quererem liberdade e eu não poder dar essa tão sonhada liberdade”, confessa.

Dentista de profissão, Gabrielle Santos Jesus, hoje com 46 anos, foi obrigada a deixar tudo para trás. No entanto, admite que não há lugar para arrependimento. “Com toda a insegurança, violência e falta de liberdade, percebi que não valia a pena continuar lá. Até podíamos ter algumas coisas, mas não se podia mostrar porque provavelmente viria alguém assaltar-nos. Não adiantava ter as coisas e depois não poder usufruir delas. É muito normal acontecer um assalto em plena hora de pico, haver arrastões nos semáforos ou até dentro de estabelecimentos. A vida foi ficando cada vez mais insegura e eu não via outra opção a não ser a de vir para cá com os meus filhos à procura de uma vida mais segura”, refere.

Apaixonada pela profissão, a agora residente de Espinho, acabou por deixar os consultórios para segundo plano. Apesar da ideia inicial ser a de exercer por cá, Gabrielle acabou por perceber que não seria tarefa fácil. “Vim com o objetivo de fazer a minha equivalência porque eu queria continuar a trabalhar na mesma área. No entanto, deparei-me com um cenário diferente daquilo que imaginava. Trouxe toda a documentação, mas depois percebi que só as universidades privadas é que fazem as equivalências para os dentistas que vêm do Brasil”, começa por explicar.

Reportem disponível, na íntegra, na edição de 25 de maio de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€