O arrendamento comercial em Espinho, tal como para a habitação, está pela ‘hora da morte’. As rendas para as lojas que estão disponíveis, quase atingem os dois mil euros mensais e comprar um imóvel para abrir um negócio não fica por menos de 180 mil euros. Mas afinal o negócio cobre, ou não, esta pesada despesa?

Arrendar um espaço comercial ou uma loja em Espinho não é tarefa fácil, sobretudo para quem procura montar um negócio. As rendas para uma simples loja, atingem preços muito altos, à semelhança do arrendamento habitacional. Os negócios mais antigos vão-se mantendo nos espaços que ocupam ao longo dos anos, com rendas mais acessíveis e aos preços que resultaram das sucessivas atualizações decorrentes da lei. Há, no entanto, outros espaços que sobrevivem com imensas dificuldades e com os comerciantes a terem de fazer contas à vida no final do mês.

Procurar uma loja em Espinho não é fácil, por várias razões. Uma delas é o valor que os senhorios pretendem para as rendas, sobretudo na zona mais central da cidade, que inviabiliza, logo à partida, a abertura de um pequeno negócio. Por outro lado, as lojas existentes não são muitas e as que existem são de pequena dimensão.

Comprar uma loja comercial parece estar fora de questão, uma vez que os preços praticados também são altíssimos, muito acima da capacidade do pequeno comerciante e não são um garante para o sucesso de um negócio. Os proprietários das lojas preferem mantê-las desocupadas, com os valores das rendas que estabelecem, sabendo que mais dia, menos dia, terão alguém que queira arrendá-la.

Arrendar um espaço comercial no centro da cidade poderá custar entre os 500 e os 3500 euros, dependo muito da dimensão. Há exemplos de imóveis, cuja área bruta atinge os 300 metros quadrados, negociados a dois mil euros mensais; outros, com uma área bruta de cerca de 150 metros quadrados, na rua 14, por 1250 euros mensais; ou na rua 20, com a mesma área, por 800 euros mensais; e na rua 19 por 1750 euros mensais.

A oferta de lojas não é muita e a falta de novas construções com espaços para o comércio na zona central da cidade acaba por agravar o problema.

Mudar nem sempre é bom para o negócio

Daniela Ramos, proprietária do estabelecimento comercial Palavras Soltas, tinha uma loja arrendada na rua 18 e acabou por se mudar para um espaço no Mercado Municipal. A empresária, que se viu confrontada, subitamente, com a intenção do senhorio aumentar a renda, procurou uma outra solução para o seu negócio, encontrando numa das lojas do Mercado Municipal o local ideal, a uma renda mensal de 578 euros, mais acessível do que aquela que tinha. A opção custou-lhe uma paragem de oito meses na atividade, desde que abandonou o local anterior, até ao leilão da autarquia, que lhe possibilitou concorrer a um espaço próximo do edifício onde trabalhava anteriormente. “Estivemos durante oito anos na rua 18, numa pequena loja arrendada e em janeiro de 2022, o senhorio pretendeu um aumento de 50 euros à renda”, recorda Daniela Ramos, acrescentando que “isso surgiu numa altura em que tínhamos acabado de sair da pandemia e que o negócio tinha corrido muito mal durante esse período”.

Daniela acabou por aceitar, mas em março recebeu uma carta com o anúncio do termo do contrato por parte do senhorio, dando-lhe um prazo de quatro meses para entregar a chave do estabelecimento. “Em maio, o senhorio queria que pagasse uma renda de 750 euros e decidi entregar as chaves a 30 de junho desse ano”, assinala a comerciante da Palavras Soltas, que se mudou para a nova loja do Mercado em fevereiro passado.

Daniela afirma que há mais casos semelhantes ao seu, nomeadamente “num estabelecimento comercial próximo da rua 33 onde o inquilino, dentro de três anos, terá de o deixar”.

“Estou convencida de que os senhorios preferem aumentar as rendas e terem as lojas vazias, do que cobrar rendas mais baixas”, comenta.

A comerciante considera que a sua loja “era pequena”, que “o valor da renda já estava muito alto” e que, durante a pandemia, já tinha feito “um grande esforço, pagando a renda na totalidade”. Mesmo assim, a mensalidade não parou de subir.

Daniela recorda-se da pesquisa que fez o mercado, antes de encontrar a solução no Mercado Municipal. E lembra as “rendas insustentáveis” que foi constatando, como os mil euros pedidos por um estabelecimento na 23, de área semelhante ao que tinha ocupado na rua 18. “Aqui perto, qualquer loja anda entre os mil e os dois mil mensais”, revela, assumindo estar “fora de questão” pensar em arrendar um espaço na rua 19.

Artigo completo na edição de 13 de julho de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.