Camila Menino tem apenas 22 anos, mas já tem um percurso ligado à música extremamente rico. Entre outras, desempenha funções de produção executiva no Auditório de Espinho, cidade que abraçou quando ainda estudava. Notabilizou-se também por ser a aluna da Universidade de Aveiro com a média mais alta (18.55).
Em que é que está a trabalhar atualmente?
Desde maio que estou na produção executiva do Auditório de Espinho, onde já tinha estudado. Estou no último ano de mestrado em Gestão de Indústrias Criativas, trabalho como compositora freelancer, faço performances com o trompete, eletrónicas e afins. É uma conjugação de trabalho independente com as funções que desempenho no Auditório. Além disso, faço parte de uma associação, a Interferência, no Porto, que está ligada à criação de música. Somos músicos, compositores, estamos ligados à criação de espetáculos e serviço educativo também.
Tendo em conta que não é natural de Espinho, como é a sua relação com a cidade?
Nunca sei bem como me apresentar, porque nasci no Porto, para todos os efeitos, sou do Porto, mas custa-me sempre, porque gosto de dizer que sou transmontana. A minha família é de Trás-os-Montes, da zona de Torre de Moncorvo, numa aldeia que se chama Carviçais. Os meus pais e avô foram músicos e por isso a música esteve sempre muito presente. Entretanto vim para o Porto, quando comecei a escola, e desde aí que entrei para a Academia de Música de Costa Cabral. Foi lá que comecei a estudar trompete, já tinha tocado saxofone e violino antes, mas algo muito banal.
Quando chegou a altura de escolher o que ia seguir no 10º ano, estava em cima da mesa a possibilidade de seguir música, sendo que a Escola Profissional de Música de Espinho é das maiores referências do ensino de música. Como ficava relativamente perto do Porto, achei que valia a pena, até porque sabia que tinha muitos colegas que conhecia de outros contextos. Não tinha nenhuma ligação a Espinho, mas acabei por criar uma.
Referiu que a Escola Profissional de Música de Espinho é uma referência. Porquê?
Na minha opinião, há um grande problema no ensino especializado de forma geral, não só na música. Os cursos estão altamente vocacionados para uma vertente.
Dando o meu exemplo, tirei o curso profissional de instrumentista de sopro, depreende-se que esteja altamente preparada para tocar o meu instrumento e com isso tocar numa orquestra ou dar aulas. O mundo está, normalmente, limitado a esses dois caminhos. Em Espinho, obviamente que a parte do ensino instrumental e teórico é forte, mas os alunos são encorajados a manter uma mente aberta, porque a realidade não passa por ser músico de orquestra ou professor, há muitas outras áreas.
A música acaba por ser inevitável na sua vida, mas como surge o interesse no trompete?
O meio em que estavam inseridos os meus familiares era de bandas filarmónicas. Já aí estava limitada a instrumentos de sopro, pois as bandas filarmónicas não têm cordas. Não é que não tivesse interesse por outros instrumentos, mas o meu fascínio sempre esteve nos instrumentos de sopro. Quanto à escolha do trompete em específico, não sei explicar bem. Pode ter sido de ver muitas vezes pessoas a tocar trompete nas bandas, mas não sei bem explicar.
Para além de tudo o que faz, ainda toca trompete?
Sim, até porque tento fazer por isso. No dia em que só estiver a fazer uma coisa é porque algo está mal, porque acho que tudo se liga de uma maneira muito forte. Quando comecei a compor, comecei a ter uma noção maior daquilo que tocava. Tudo está ligado de alguma forma. É verdade que são áreas diferentes, mas há pontos-chave que se tocam.
Artigo disponível, na íntegra, na edição de 7 de setembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€