Óscar Amorim: Começar na Suíça, passar pelos dragões até vestir a camisola dos tigres

Fotografia: Francisco Azevedo

Foi na Suíça, numa localidade próxima de Neuchâtel, onde os seus pais residiam, como emigrantes, que Óscar Amorim sentiu a primeira paixão pelo futebol. O sonho da bola trouxe-o para Portugal, para casa de um tio e foi nos juniores do FC Porto que se lançou ao lado de colegas como Rui Óscar, Bock, Madureira e Hilário. No Infesta, clube onde iniciou a carreira sénior, foi treinado pelo carismático Augusto Mata e, mais tarde, no SC Espinho, teve António Jesus e Vítor Pereira como treinadores.

De que forma apareceu o futebol na sua vida?
Sempre joguei futebol em criança, em Sanguedo, onde morava. Mais tarde, os meus pais emigraram para a Suíça e aos 11 anos fui viver para lá. Foi na Suíça que comecei a jogar futebol mais a sério até aos 16 anos, num clube da localidade onde morávamos, próximo de Neuchâtel. Também participava em alguns torneios de futebol entre portugueses nos convívios que faziam regularmente.

Nunca fui um grande apaixonado por viver na Suíça e apenas estava lá porque tinha de acompanhar os meus pais. Num dos torneios, numa conversa entre o meu pai e um familiar do Folha, o assunto veio à baila. Como vínhamos passar férias a Portugal no verão, essa pessoa sugeriu ao meu pai que me levasse aos treinos de captação do Boavista FC. Ele disse que conhecia o treinador, o professor Queiró e que me poderia levar para fazer uns treinos à experiência.
Quando vim a Portugal de férias o meu pai, novamente numa conversa com alguém do Lobão que conhecia gente ligada ao FC Porto, sugeriu que fosse a esses treinos de captação.
Não tinha nada a perder e fui treinar ao FC Porto. Acabei por ficar e isso foi uma oportunidade de voltar para Portugal. Fui à Suíça buscar as minhas coisas e vim viver com um tio meu. Fiz dois anos nos juniores do FC Porto e isso foi o impulso para a minha carreira profissional de jogador.

Sempre jogou na defesa?
Fui sempre defesa-central e trinco. Foi desde o início, ainda em Sanguedo, nas miniolimpíadas. O meu treinador, presumo que por necessidade, tentou encaixar-me nessa posição. Um central teria de ser alguém que pontapeasse a bola para muito longe e eu fazia-o muito bem. Fui gostando da posição e fui aperfeiçoando a técnica.

Fotografia: DR

Como lhe correram essas duas épocas no FC Porto?
O meu primeiro ano foi muito bom e até superou as expectativas. Na captação éramos uns 40 ou 50 jogadores e apenas ficámos três ou quatro jogadores. O clube tinha equipas fortíssimas nas camadas jovens. Fiquei na equipa dos mais novos treinada pelo professor Ilídio Vale. Acabei por ser campeão nacional, embora só tivesse jogado pela equipa principal em cinco ou seis jogos. Joguei com colegas como o Rui Óscar, Madureira, Edgar, Hilário e tantos outros.
No segundo ano, o treinador saiu e o Eduardo Luís, antigo defesa-central do clube, assumiu o lugar. Esse ano não nos correu muito bem e não fomos campeões.
Depois subimos aos seniores e cada um seguiu o seu caminho.

O seu caminho seguinte foi o Infesta!…
Estive no Infesta durante seis épocas. O treinador era o Augusto Mata, o técnico que esteve durante muitos anos no clube. Aquela coletividade era uma família. Era um clube modesto, mas tinha um ambiente muito bom. As pessoas davam-se muito bem e os jogadores permaneciam lá durante várias épocas. Tenho a noção de que se assim o quisesse teria feito lá toda a minha carreira. Gostava de lá estar e as pessoas gostavam de mim. No entanto, o clube estava na 2.ª Divisão B e não tinha grandes ambições nem condições para poder dar o passo para o futebol profissional. O presidente até tinha o projeto para fazer um novo estádio, mas nunca o conseguiu implementar.
Ao fim de seis temporadas decidi sair e arriscar um pouco mais. Queria conhecer outras coisas e dar um rumo diferente à minha carreira. Foi nessa altura que surgiu o convite do Académico de Viseu.

Como foi essa experiência?
Gostei imenso do clube, da cidade e de lá jogar. Foi uma época que me correu muito bem porque joguei em praticamente todos os jogos. No entanto, nesse ano, ia casar e tive o convite do SC Espinho. Decidi vir para cá para estar mais perto de casa.

Como surgiu esse convite do SC Espinho?
Através de pessoas amigas conheci o filho do António Jesus que veio treinar o SC Espinho nesse ano. Lembro-me que tinha um outro convite para jogar em Lourosa. Porém, o António Jesus propôs-me que viesse para cá e aceitei.

Pesou na sua decisão o facto de o SC Espinho ter um peso histórico no futebol?
Claro que sim. É um clube que é uma referência no futebol nacional. Sabia que o clube estava a passar por dificuldades, mas decidi arriscar. Gostava imenso da cidade e das suas gentes e isso também foi um fator que teve peso na minha decisão de assinar pelo clube.
A época desportiva pessoalmente não me correu mal, mas o clube estava com imensos problemas e acabámos a época com cinco meses de salários em atraso. Foi uma temporada muito difícil para a direção do clube porque a instituição estava com um défice muito grande e havia problemas com as infraestruturas, sobretudo com o Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas. Tínhamos dificuldades a nível de logística e de treinos. Apesar de tudo, tínhamos uma boa equipa e, por isso, a experiência em jogar foi muito positiva. Lembro-me do Artur Jorge, Zacarias, Bispo, Jojó, Álvaro Gamarra, Tiago Martins, Miguel Vaz, Kaká, César Lopes, Ricardo Correia, Filipe Gonçalves e tantos outros.

Adaptou-se bem?
Identifiquei-me, desde logo, com o clube e fui muito bem recebido, o que não me espantou porque já sabia que era assim. Acredito que a época poderia ter sido ótima se não fossem todos os problemas que o clube teve de enfrentar. Joguei quase sempre.

Por que razão foi para o Gondomar SC no ano seguinte?
Saí por causa de todos os problemas que havia. Era jogador profissional de futebol e tinha casado há pouco tempo. Estava no início de vida. Tínhamos recebido metade da época e cheques pré-datados para o início do ano. Surgiu o convite do Gondomar SC e treinado pelo Henrique Nunes. Tratava-se de um projeto de subida de divisão e ia ganhar bastante mais do que em Espinho. Estive no clube duas temporadas. Subimos de divisão na época do famoso Apito Dourado. Ainda joguei na II Liga.

Duas épocas depois regressou a Espinho!
Vim para o SC Espinho com o Vítor Pereira ao leme. Foi uma experiência fantástica e durante a época aprendi muito. O Vítor Pereira era um treinador que nos exigia imenso. Penso que até era demais para a divisão em que nos encontrávamos, mas eram os métodos de treino que tinha, que eram absolutamente revolucionários para época. Aprendi coisas simples, a nível tático e de posicionamento, que nunca me tinham ensinado antes. O Vítor Pereira era muito forte nesses aspetos táticos e técnicos. Não o conhecia como treinador e, por isso, foi uma agradável surpresa e uma mais-valia para o meu futuro. Sei que não foi consensual no grupo, mas gostei imenso de trabalhar com ele.

Artigo completo na edição de 2 de novembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.