Avelino Ribeiro é professor de História. Aos 71 anos ainda leciona no ensino particular e desempenha as funções de coordenador no Centro Qualifica. Nasceu em Fiães, foi para o Seminário, casou e veio dar aulas para a Escola Dr. Manuel Laranjeira entre 1973 e 2014, altura em que se aposentou do ensino público. Foi presidente do Lions Clube de Espinho durante seis anos e recentemente abandonou a instituição por não ter disponibilidade.

Nasceu em Fiães e viveu nessa terra durante quanto tempo?
Vivi em Fiães até à altura em que me casei. No entanto, passei lá muito pouco tempo porque desde os 10 anos de idade que frequentei o Seminário. Fui para o Seminário da Foz, inaugurar um projeto pedagógico porque o percurso normal seria ir para Formiga, para Ermesinde. Passava lá todos os dias da semana e ao fim de semana vinha a casa. Aos 17 anos deixei o Seminário e fui para a Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Foi uma opção sua ir para o Seminário?
Desde pequeno que sentia uma vocação para padre. Tinha uma prima que era freira e que estava ligada ao Patronato de Fiães. Esta relação fez-me pensar e, naturalmente, influenciou-me na decisão de ir para o Seminário.
Recordo-me que fazia celebrações na casa de banho, com uma toalha e, por isso, viram que tinha vocação. No entanto, acabei por chegar à conclusão, depois de estar no Seminário durante vários anos, que não dava e que não resultava. Por isso, aos 17 anos abandonei.

O que o levou concretamente a abandonar?
O percurso estava a ser ascendente e sempre senti que depositavam algumas esperanças em mim, até porque estive no Seminário de Vilar. No meu quarto ano iria para a Sé do Porto. Contudo, achei que havia muita falta de liberdade de pensamento e terá sido essa a principal razão para tomar a opção de seguir outro.
Um dia, fui ao cinema ver um filme com um grupo de rapazes e chegámos mais tarde. Fomos chamados à atenção e foi nessa altura que senti que não teria vocação para padre. Passei a refletir sobre tudo aquilo que estava a passar e na falta de tempo para outras atividades. Por exemplo, até era bom nos desportos, mas estar no Seminário quase que não me dava tempo para essas atividades de que tanto gostava. Quase não tínhamos tempo para pensar, nem nos intervalos das aulas, nem das refeições. Foi isto que me fez despertar e decidi sair. A minha mãe apoiou-me nesta decisão.

Manteve-se ligação à Igreja?
Não me mantive ligado à Igreja pois tive um percurso de grande distanciamento. Via ali alguns comportamentos reprováveis, chocantes e que na atualidade até poderiam ser objeto de processos judiciais. Eram comportamentos nada tinham a ver comigo nem com o meu feitio um pouco rebelde.

Por que razão escolheu História como base de formação académica?
Optei pela licenciatura em História porque na Universidade do Porto não havia o curso de Direito. Sinto que era essa a minha grande vocação só que isso implicaria ter de ir para a Universidade de Coimbra. A minha irmã estava a estudar lá e aconselhou o meu pai a não me deixar ir. Era um rapaz traquina, o único de casa e poderia perder-me por lá. Acabei por ficar no Porto, no curso de História que era o mais adequado ao meu percurso do Seminário. Tinha, também, a hipótese de escolher Filosofia. Eram cursos que requeriam alguma memorização, como era o paradigma da educação na altura.

A partir de que momento começou a sua ligação a Espinho?
Começou quando casei com a minha mulher. Ela é de Espinho e viemos morar para cá. Ela exercia a profissão de secretariado e, depois, foi gerente de uma das mais conhecidas casas comerciais de Espinho: a Casa Mourão.

Quando foi dar aulas?
Fui dar aulas para Santa Maria da Feira, para o ciclo preparatório, prosseguindo o meu curso de História que era de cinco anos. Depois fiz o estágio e fui colocado em Sernancelhe, no concelho de Viseu, por um lapso que cometi na candidatura. Adorei conhecer a Beira Alta, região do país que não conhecia. Só depois disso é que vim para Fiães e, posteriormente, para Espinho.

Nessa altura já não tinhas dúvidas que queria ser professor?
Não me via a fazer mais nada sem ser professor. Descobri que era essa a minha vocação. Aliás, ser-se professor tem muito de vocação e de empatia. Optei por enveredar por esta via desde muito cedo e tomei um caminho sempre diferente dos outros meus colegas. Sempre procurei trazer a criatividade para sala de aula e, se possível, muitas vezes fugir da sala de aula. Com o 25 de Abril tornou-se mais fácil tirar os alunos do edifício da escola. Foi um período da minha carreira muito interessante.
Paralelamente à minha vida no ensino público, fui professor no ensino privado para jovens e para adultos. Aliás, já depois de me reformar mantive-me no ensino especializado na educação e formação de adultos, na orientação, encaminhamento e acompanhamento dos alunos que deixaram incompleto o percurso no estudo. Este é um objetivo do Centro Qualifica, ao qual continuo ligado.

Como foi dar aulas em Sernancelhe?
Não foi fácil apenas por estar longe de casa. Só vinha a Espinho ao fim de semana e nessa altura já tinha uma filha com nove meses.
Mas considero que foi uma experiência muito gratificante porque conheci uma realidade muito diferente. Fiz uma aprendizagem e um trabalho muito interessantes. Por norma, nessa altura, exigia-se aos alunos muitos trabalhos de casa e isso trazia grande pressão sobre os jovens. Contrariei muito isto, com um ensino mais aberto e de acordo com aquilo que defendia.
Como em Sernancelhe era o único professor licenciado, senti-me muito valorizado. Naquele meio, o padre, o polícia e o professor eram pessoas muito importantes, com grande reconhecimento social e, por isso, eram convidados para os eventos da terra.
A realidade era muito diferente até porque grande parte dos alunos trabalhava no campo, na agricultura e na pastagem. Em casa, muitos não tinham sequer eletricidade em casa.

Foi uma realidade diferente da que encontrou em Espinho?
Os alunos eram muito afetuosos e muito mais fáceis de lidar em relação às pessoas em Espinho. Havia arrogância por parte de alunos e de alguns pais. Mas isto foi uma consequência do salto que deu a escola pública na altura, com uma comunidade mais democrática. Foi a partir dessa altura que participei nesse processo de evolução da escola, com a presença em assembleia de escola. Fui presidente do conselho geral da Escola Dr. Manuel Laranjeira durante mais de 15 anos.

Artigo completo na edição de 30 de novembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.