A força do coletivo

Apresento hoje aos espinhenses um exemplo que a todos deve orgulhar. Monção e as suas gentes deram prova, no último mês de outubro, de um grande sentido de união em torno de uma causa que os toca diretamente: o seu património cultural.

Prova de que o orgulho pelas suas singularidades e a vontade imensa de defender a identidade do seu território, estão na génese de minhotos determinados. São assim, em especial, as gentes das regiões mais pequenas e afastadas dos grandes centros urbanos: querem marcar a diferença, mostrando aquilo que as outras já não conseguem ser, por se tornarem muito povoadas, com uma população provenientes de muitos lugares e, assim, com tendência a ficarem mais iguais a tantas outras.

Os monçanenses guardam do passado as memórias que continuam a preencher o seu imaginário. Ele está carregado de mitos e lendas onde dragões, cavaleiros e princesas nos remetem para os sonhos de criança, jamais esquecidos, antes permanentes, a atravessar gerações e gerações, orgulhosas da sua história.

Assim, “Monção Deixa Marcas”, uma curta metragem , criada, produzida e realizada pelo  cineasta Leonel Vieira, mais do que um filme promocional,  é uma amostra da imagem da identidade, da cultura  de Monção com marcas de um território que mais do que uma conceituada  vila  termal ou berço do famoso Alvarinho, é  também uma amálgama de tradições, de memórias, da combinação entre a realidade e a ficção, mergulhadas em lendas  e estórias múltiplas.

Vê-lo é mergulhar num local com tanto para descobrir e que  tantos ainda  desconhecem. Acho mesmo que ninguém, depois de o ver, não sinta vontade de visitar esta região. Assistimos ao desenrolar de uma fábula onde o património cultural está presente, uma viagem por três séculos onde nada é deixado ao acaso: a célebre Ponte de Mouro carregada de simbolismo, o Palácio da Brejoeira com o seu bosque e os seus enigmas, a riqueza arquitetónica, a paisagem idílica debruada pelo Rio Minho, mas mais que tudo – as suas gentes, o grande segredo do sucesso deste território! E foram elas que deram força a este projeto já distinguido no considerado Festival de vídeos de turismo do mundo, no Japão, como o melhor filme turístico.

Quando recentemente foi lançado o repto de serem protagonistas na seleção da curta metragem para o melhor filme promocional do mundo, todos corresponderam ao apelo. Mais uma vez a força do coletivo venceu e o filme foi, através de votação popular, selecionado como o melhor filme de turismo do mundo, no concurso lançado pelo prestigiado Comité Internacional de Festivais de Filmes de Turismo (CIFFT).

Espinho tem na sua identidade, um grande valor patrimonial que determinou a sua própria existência e que é preciso preservar – a Arte Xávega. A sustentabilidade desta pesca artesanal tem de ser uma conquista de todos.

Espinho, apesar de ser ainda muito jovem, a celebrar este ano 50 anos de elevação a cidade, tem muitos encantos que devem ser realçados com arte e imaginação. A sua população também é ciosa do seu património e, por isso, cada vez mais, é preciso continuar a preservar a sua identidade e história, naquilo que a torna distinta. As diferenças são a grande mais valia de um território. 

Espinho tem na sua identidade, um grande valor patrimonial que determinou a sua própria existência e que é preciso preservar – a Arte Xávega. A sustentabilidade desta pesca artesanal tem de ser uma conquista de todos, de forma a mantê-la viva, enquanto atividade sustentável e também como foco de atração de turismo patrimonial. É preciso que haja formação dirigida aos jovens para que adiram e possam ser continuadores desta atividade, com orgulho e dignidade. É preciso que a comunidade escolar integre nos seus conteúdos programáticos, devidamente adequados a cada ano escolar, o estudo e valorização da Arte Xávega. É preciso que se cresça a conhecer, para se poder amar e defender. É preciso criar um plano sustentável que permita a requalificação, manutenção e incentivo de mais ‘companhas’, recorrendo a apoios comunitários ou mesmo ao empreendedorismo social e solidário na esfera do privado. Para além do apoio direto à ‘companha’ existente, permitindo conservar embarcações e aprestos em boas condições, a intervenção deve prever igualmente a realização de diversas ações de sensibilização ambiental.

Para além da Arte Xávega, para a qual urge mover atenção especial há, em Espinho, algo de muito especial e a marcar a cidade em termos nacionais e internacionais – O Cinanima. A atingir o meio século de existência, este ano, a 47.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho realizou-se de 13 a 19 de novembro, com 130 filmes a concurso.

Pessoas ligadas ao cinema de animação de autor deslocaram-se a Espinho, cidade de referência, conquistada graças ao trabalho persistente dos seus fundadores e continuadores. Há muitos anos atrás, lembro-me de levar alunos a admirar este mundo mágico. Lembro-me também de sugerir um projeto que integrasse uma experiência vocacionada para jovens que tivessem curiosidade e interesse (havia muitos), através de numa formação ao longo do ano sobre banda desenhada, quiçá um embrião para uma curta metragem e forma de promover géneros de criação. Continuo a considerar que a admiração do que é da terra não pode ser feita só pelos de fora, mas pelos de dentro, essencialmente. Para isso, é preciso apostar na formação cultural para termos, no futuro, público aderente da cultura.

Para além de outras atrações como o surf, o golf e as belas praias, destaco algo que deveria ser mais publicitado, o Castro de Ovil: um povoado do séc. IV a.C. e uma fábrica de papel. Trata-se de um espaço arqueológico da Idade do Ferro, situado em Paramos, formado por 14 estruturas habitacionais, onde viveu um povo indígena. Entre Douro e Vouga é das primeiras aldeias sedentárias onde curiosamente domina a construção em xisto. Ali existiu uma comunidade constituída por 100 a 150 pessoas que se dedicavam à caça e à pesca. É uma visita obrigatória. 

Não faltam causas para defender, não faltam lugares para explorar e divulgar!  É preciso que a força do coletivo esteja sempre presente a marcar a diferença.

Arcelina Santiago
Professora