Habituados parecem os portugueses. Conformados com um país do poucochinho, este a que nos têm condenado de forma sucessiva a um país sem ambição, sem meta, sem alcance a ser o que quer que seja. Sem desígnio.
Uma política de gestão do quotidiano, sem folego para transformar e motivar o país económico, social, cultural, para guindar a sociedade para algo mais que não seja o poucochinho.
Os portugueses estão conformados!? Dir-se-ia que sim, entre aqueles que assumem a estagnação e a compressão social e económica como a estabilidade que não se deve colocar em causa. Sem sair da zona de conforto. Sem competição, sem concorrência. Assim, só porque sim, porque garantisticamente caminhamos para a igualdade. Caminhamos para o nivelamento por baixo. Para o empobrecimento económico, social e cultural. Para a diminuição da ética e dos valores na vida e na sociedade. Para a quebra do sentido de estado, do sentido da comunidade. Do sentido das instituições. Do sentido do protocolo. Do sentido da forma. Mas também do sentido da substância e do conteúdo.
A vida aos vazios. Dos sentidos ocos do debate público entrincheirado nos radicais. Da vacuidade do poder e da usurpação do poder. Do poder pelo poder. Do nós e não eles. Não importam as políticas, as soluções, os indivíduos e as utopias de elevação do indivíduo e da sociedade.
Das oportunidades perdidas. Do fardo da dívida. Das soluções ausentes.
Da venezuelização da economia e da mexicanização da política.
Da propaganda que papagueia ‘falsamente’ que se virou a página da austeridade. Do empobrecimento e da descapitalização a que o país tem sido votado, das instituições públicas, das empresas, das organizações e das famílias. Da valorização administrativa de salários. Da desvalorização dos salários reais. Dos baixos crescimentos e da baixa produtividade. Da incipiente inovação e competitividade.
Do crescimento do estado social para chegar a cada vez mais população carenciada. Não porque o estado social seja mais eficaz e eficiente, mas porque existem mais pessoas a quem é necessário alcançar. Alcançando com parcos recursos, com medidas e soluções diminutas a tantos que não são capazes de transformar o estado e as condições das populações, mas que eternizam as situações de carência e de dependência.
Dos conformados. E dos inconformados. Daqueles qualificados, sobretudo, e de tantos outros, com outras motivações e aspirações que não sejam a do poucochinho.
Daqueles que saem, depauperando o Portugal, as empresas e as instituições com a sua forma dinâmica e catalisadora. Dos que energicamente procuram, outros horizontes, sabendo que no Portugal do poucochinho não há lugar para tantos que não estão para isto.
Para aqueles que querem mais. Que querem inovar. Que querem transformar. Que querem empreender. Não por dínamo fátuo. Mas intrinsecamente porque transportam em si para além da energia, a perseverança, a qualidade, o conhecimento e a competência.
Uma política disfuncional e derrotista que condena o país ano após ano. Das supostas contas certas ao país incerto. Do desmembramento e estilhaçamento da administração pública qualificada em vários sectores. Do suposto diálogo social à contestação quotidiana de inúmeros sectores.
Do descrédito da educação e do sistema educativo de base. Das dificuldades do sector e da ausência de profissionais qualificados para a substituição de gerações de professores para o rejuvenescimento da educação.
Da implosão do serviço nacional de saúde, por aqueles que dizendo ser os seus defensores e salvadores, o condenam cada vez mais a um serviço péssimo de saúde. Da ingovernabilidade do sector. Do descontentamento de profissionais. Do encharcamento de recursos sem nexo de qualificação da prestação dos cuidados de saúde e das situações dos seus profissionais. Do prejuízo dos cidadãos e dos impactos nas suas vidas.
Da complicação em que vive o sistema de justiça, com desigualdades tamanhas. Da morosidade dos processos. Da dificuldade de acesso. Da iniquidade de soluções e decisões. Da complexidade do sistema. Dos agentes e profissionais de justiça em descontentamento. Da exiguidade de recursos e da ineficiência do sistema. Do tarde em que chega a justiça, quando chega. E do tanto que tantas pessoas, famílias e empresas têm as suas vidas suspensas, à espera de processos, decisões e de justiça.
Dos portugueses que têm poucochinho, que são cada vez mais, para fazer face às suas despesas e necessidades quotidianas. Da alimentação, ao vestuário, às deslocações, às rendas e habitações.
Dos portugueses que têm poucochinho, e não lhes chega para os transportes, que têm de ser subsidiados os passes e outros; que não lhes chega para a alimentação dos filhos, que lhes têm de fornecer refeições escolares para que tenham uma refeição com esse nome; dos que tendo emprego e salários, ficam com poucochinho depois de pagarem os custos das suas rendas ou empréstimos das suas casas e que têm de ser subsidiadas; do que não têm folego para empreender numa habitação sua, porque os seus salários não valorizaram tanto quanto os custos com as habitações.
Porque a economia não tem produtividade e não cresceu o suficiente para a valorização generalizada dos salários, e não apenas dos efeitos administrativos das subidas do salário mínimo.
Dos que tendo habitação, vivem em pobreza energética, porque as suas habitações são energeticamente ineficientes, e os custos de energia são preponderantes consumindo o que ‘não’ sobra dos salários.
O poucochinho dos que se contentam pela ocupação dos espaços em cargos e posições. Dos seus pelos seus. Da usurpação das instituições e da administração pelos aparelhos partidários.
Da ocupação da agenda pública e mediática afundada em políticas entrincheiradas na intolerância de uns para tantos outros, e nas imposições de modelos e valores societais outros tantos. Aqueles iluminados que têm de impor a luz aos que vivem no obscurantismo.
Destes a quem, à conta de politiquices, engendram soluções de imposição, como se de grandes transformadores da sociedade se tratassem, deixando de cuidar do tanto que precisa de ser cuidado.
A tantos que somos. A tantos que estamos. A tantos que ficamos. A tantos que regressam.
A cada renovar. A esperança. O inconformismo.
A oportunidade de ambicionar mais e melhor para Portugal. Para a Europa. Para o Mundo.
Não. Não nos habituamos. Não. Não ao presente e ao futuro do poucochinho!
Sim! Sim a um novo presente com tanto futuro. Sim ao Portugal da Europa, do Mundo.
Sim! Ao imenso futuro que temos de cuidar no presente! Que 2024 seja o presente de um novo futuro!
Tito Miguel Pereira
Consultor
(Escrito em desacordo ortográfico)