Muito escolhidas no passado, as profissões ditas mais tradicionais não são, há muitos anos, as preferências dos mais jovens. Com a diminuição dos cursos profissionais e a adesão ao ensino superior, as artes da eletricidade, carpintaria ou canalização foram perdendo profissionais. Atualmente, a falta de mão de obra qualificada é evidente e um problema que os resistentes consideram grave para o futuro.
Longe vão os tempos em que os moços começavam cedo a aprender com os mestres. Nas artes da carpintaria, pichelaria, eletricidade, pintura e, claro, na construção civil não faltavam jovens que se interessavam por estes trabalhos e com vontade de progredir na profissão, mas hoje a realidade é outra.
José Rocha tem 68 anos e no currículo décadas de trabalho no mundo da pichelaria (termo usado popularmente para a área da canalização). Começou cedo, ainda em criança, já que na época era hábito deixar a escola para trabalhar. No entanto, confessa que nunca imaginou seguir esta área. “Quando terminei a quarta classe, um senhor que andava a distribuir jornais, perguntou-me se não queria ir para picheleiro, mas eu nem sabia o que isso era”, recorda José.
Apesar do desconhecido, aceitou o desafio. “Um dia, ele levou-me para trabalhar na rua 3, no senhor José Pardilhó e a partir daí andei sempre nesta arte”, diz o canalizador que, anos mais tarde, decidiu lançar-se sozinho. “Nunca fiz publicidade, pois nunca foi preciso. Os serviços apareciam a partir do conhecimento com outras pessoas”, assume.
Quando pensa no primeiro contacto com a profissão, José Rocha garante que gostou logo do que encontrou, mas não esconde que houve momentos difíceis. “Vi coisas muito complicadas. Andei a chumbar caixões, era muito pesado. Era difícil para um miúdo ver aquilo. Muitos não gostavam e davam à sola, mas aguentei e depois comecei a gostar”, recorda, explicando que este era um método comum de aprendizagem há vários anos.
Marco Ramos, de 45 anos, também é canalizador. Começou na profissão após abandonar a escola e hoje tem uma empresa de remodelações, onde alia várias artes. “Na altura, quis ir trabalhar para uma fábrica porque era o que dava mais dinheiro, mas o meu pai influenciou-me a seguir uma arte e decidi seguir a canalização. Fui trabalhar para a empresa de um canalizador que era muito conhecido em Espinho que era o senhor António Faustino que, infelizmente, já faleceu. Foi o meu mestre e um segundo pai que me ensinou tudo sobre a profissão”, diz o profissional.
Apesar de ter escolhido a arte que quis, Marco não esconde que aos 15 anos não gostava muito de ir para as obras, mas depois começou “a encarreirar na profissão e com muito orgulho”.
Numa área diferente encontramos Augusto Outeiro. Tem 76 anos e continua, apesar de num ritmo mais lento e com menos carga, a trabalhar. Arranja e monta estores, uma arte que começou há 40 anos. “Eu trabalhava na Cotesi das 6 às 14 horas, mas depois de cumprir o meu horário ia trabalhar com um indivíduo nesta área”, recorda, explicando que depois acabou por abandonar a fábrica. “Decidi dedicar-me a isto porque era mais compensador. Apesar de ser um operário qualificado, era melhor estar por conta própria”, explica Outeiro, como é popularmente conhecido em Espinho.
Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 11 de janeiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€