Wilson Soares conta com um vasto percurso na arbitragem no futsal e também no futebol de praia. Desde 2004 passou por vários escalões no futsal até se estabelecer na 1.ª divisão, há 11 anos.
É árbitro de futsal e de futebol de praia. Como é que isso funciona?
Comecei o meu percurso na arbitragem de futsal em 2004-2005 e desde então, tenho construído a minha carreira nesse campo. A oportunidade de arbitrar futebol de praia representa um desafio diferente, que está relacionada com a proximidade que temos com a praia.
Em 2006, participei numa formação em Espinho que marcou o início de uma nova jornada, em paralelo à minha trajetória no futsal. Em 2016, recebi as insígnias da FIFA para me tornar árbitro internacional de futebol de praia.
Que idade tinha quando começou a arbitrar futsal?
21 anos.
O que leva um jovem a tomar a decisão de tornar-se árbitro?
Na altura, acompanhava muito o futebol, e ocasionalmente assistia a alguns jogos de futsal. Foi uma daquelas surpresas, em que surgiu o desejo de aprender mais sobre o jogo. Já fui jogador federado de futebol e quis aprender mais sobre o futsal. Decidi que ia enfrentar esse
desafio e realizar o curso de futebol e também o de futsal.
Na Federação Portuguesa de Futebol?
Não, eram da Associação de Futebol de Aveiro. Na altura, tirei os dois cursos ao mesmo tempo e ainda atuei no futebol de 11 como árbitro, durante época e meia, mas não gostei.
Curiosamente é no futebol onde começou a dar os primeiros pontapés como jogador…
Comecei desde pequeno a praticar desporto. Queria jogar com todos os miúdos da minha idade, com 10 ou 12 anos, porque todos queriam jogar futebol. Tornei-me federado
em vários clubes naquela época, chegando à categoria sénior.
Jogou em que clubes?
No Fiães, Argoncilhe e Sanguedo.
Nunca se arrependeu por não ter continuado uma carreira no futebol como jogador?
Não, era um jogador banal, era mais um para acrescentar, por isso não sinto nenhum arrependimento em relação a isso.
Tinha a ambição de se manter ligado ao desporto durante muito tempo?
Não previa nem almejava a carreira que tenho vindo a ter. No início, comecei com a intenção de sentir o desafio. Agora, abordo uma época de cada vez.
Referiu que não se interessou pela arbitragem de futebol de 11. Porque?
Na altura, também havia questões físicas pois o futebol de 11 era mais exigente. Além disso, as questões climatéricas, em três ou quatro ocasiões fiquei completamente encharcado e não gostei. Depois, a própria envolvência do futebol, havia muita mais agressividade. Até mesmo
por parte dos espectadores, pelo menos nas experiências que tive, era sempre mais agressiva, inclusive com miúdos de 10 a 12 anos.
Quando iniciei no futsal não senti isso, o que contribuiu para o meu interesse e gosto pela arbitragem.
Porque acha que o público no futsal não é tão agressivo?
Penso que uma das razões é o público estar mais próximo da superfície de jogo, além de ser frequentado com mais regularidade pelas famílias dos atletas. Enquanto no futebol, muitos não conhecem os atletas e estão lá apenas para libertar o stress da semana.
Como foi o seu início na arbitragem de futsal?
Foi um desafio, sem dúvida. No primeiro ano, como são dois árbitros a atuar no futsal e não tinha ninguém para formar equipa, ia tendo jogos com um árbitro numa semana e,
na semana seguinte, com outro. Até que, a meio da época, devido a uma lesão de um colega, fiz equipa com outro e terminei essa temporada e a seguinte com ele. Ganhámos uma amizade reforçada e confiança, acabando por me relançar na carreira.
Começa a arbitrar em que divisão? Nas divisões distritais da Associação de Futebol de Aveiro. O meu primeiro jogo a arbitrar foi na 2.ª divisão distrital de seniores.
Foi difícil lidar com o jogo a nível mental no início da carreira?
Confesso que sim. e estamos a falar há 20 anos, quando os árbitros eram todos vistos como pessoas que já tinham alguma idade. Agora, cada vez mais jovens seguem a carreira de arbitragem, mas, há 20 anos atrás, eram poucos os que tinham menos de 30 anos.
Como é que surge esse rejuvenescimento na arbitragem?
Em 2012, a Federação Portuguesa de Futebol alterou os métodos de progressão na carreira, porque até aí havia limites de idade para subir. A título de exemplo, para subir aos quadros nacionais de futsal, a idade limite seria 36 e a Federação estipulou que se podia subir até essa
idade, mas, nos lotes que sobem, metade tem que ter até 28 anos. Agora, ao fim de 12 anos, os quadros de arbitragem estão, mais ou menos, rejuvenescidos.
Isso torna o futuro da arbitragem portuguesa mais risonho…
Sim, porque se chega mais cedo aos patamares máximos. Consegue-se fazer carreiras mais longas e isso traz mais estabilidade para as competições e, em alguns casos, o relançar da carreira para provas internacionais, algo que não acontecia antigamente.
Artigo disponível, na íntegra, na edição de 18 de janeiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€