Política de trazer por casa…

Devo começar esta crónica referindo que fazer política não me parece que seja uma atividade pública para a qual alguma vez vá ter perfil, muito menos alguma ambição para me envolver nessas guerras de palavras e demagogias. No entanto, isso não é impeditivo de um constante exercício de cidadania consciente. Procuro ser uma pessoa bem informada sobre o mundo que me rodeia e, sobretudo, preocupo-me com os outros e com o lugar que cabe a cada um na sociedade. Cada um de nós, inevitavelmente, tem o seu projeto de vida e os seus anseios e é isso que faz da nossa comunidade e do país aquilo que ele é.

O que é que isto tem a ver com política? Julgo que como em tudo na vida, guiamo-nos pelos nossos anseios e emoções e isso explica muitos fenómenos sociais, mais ainda o fenómeno político.

Defendo que todos temos o dever cívico de expressar a nossa vontade pelo voto livre e consciente para escolher quem nos governe. Só exercendo esse direito e em reflexão (não se pode olhar para partido com o mesmo olhar do clubismo futebolístico) podemos depois protestar por uma decisão pela qual, nunca fomos parte interessada. Devemos votar sempre, para depois e aí sim, podermos revindicar com conhecimento de causa e, sobretudo, com convicção de liberdade por um protesto fundamentado e justo.

A questão que mais me vem à cabeça nestes dias de pré-campanha para as eleições legislativas, tem a ver com uma preocupação e incompreensão pela apatia que se vive na sociedade atual e a demagogia de políticos de megafone, como quem apregoa na nossa feira de Espinho.

Não coloco todos no mesmo saco, mas a apregoar nenhum se poupa.

De facto, partidos e tachos, parece que são muitos, o que prometem ultrapassa uma visão geral e realista do caos em que está o país. Gostava de dizer ao vencedor, na noite das eleições (seja ele qual for), que me apercebo, naquilo que apregoam, não saberem ou ignorarem como estão os mais desprotegidos e as minorias, pois isso só é possível saber-se quando nos damos ao trabalho de sair da bolha. Só há essa consciência quando somos obrigados, pelas mais diversas razões, a ver a realidade que é tão díspar nas diversas zonas do país, para tantas e tantas pessoas sem recursos, ou com tantas condicionantes pela diversidade e azares das suas vidas. Sobre esses que precisam, entendemos que as politiquices são todas muitos vazias, ambíguas e pouco claras.

Vêm as eleições e o discurso é embrulhado em promessas…

A informação é tanta que parece que cada um de nós não pode pensar pela sua cabeça. Isto, realmente, pode dar muito jeito para quem influência massas com ideologias que parecem, ideologias estão de volta e é pena que passem com a leviandade que tem passado!

Será que vão?

O protesto, está visto é mesmo transversal a classes e profissões. E será que essas classes e profissões não têm o direito de querer mais e melhor? Estou convicta que sim.

Lá diz o velho ditado: – “Em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”. Uma discussão clara, deveria ser uma preocupação coletiva a olhar para os outros. Não podemos estar bem se ao nosso lado está alguém com fome, sem emprego, sem futuro.

Para isso não há cores nem partidos, sejam azuis, vermelhos, alaranjados, sejam as cores todas… o que está à vista é que não há quem escolha servir e ajudar em detrimento do seu próprio ego.

O ego, esse traiçoeiro. É sem dúvida muito mais fácil passar despercebido e ignorar o sofrimento do outro.

Enquanto não se pensar a sociedade como um todo com valores de interajuda desinteressados e conscientes do valor da solidariedade justa, os discursos políticos e promessas eleitorais não passam de políticas de trazer por casa. Ganhe quem ganhar vai-se esquecer de muitas das promessas. Mas, a cidadania consciente, obriga-nos a escolher porque a democracia encarrega-se de julgar… E como se diz: “Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.”

Tenho esperança que um dia as atitudes melhorem.

Rita Bulhosa