Completa-se meio século de liberdade e são ainda muitos os espinhenses que se lembram daquele que consideram como um dos dias mais felizes das suas vidas. Após anos de repressão e de privação de liberdade, foram vários os que se uniram e festejaram também em Espinho já no longínquo ano de 1974.

Há precisamente 50 anos, o país acordava para uma realidade desejada, mas, para muitos portugueses, inesperada. A revolução estava nas ruas e a surpresa deu lugar à alegria. É certo que em Espinho pouco ou nada se desenrolou nesse dia 25 de abril de 1974, mas são muitos os espinhenses que têm estórias e lembranças para partilhar, sobretudo de um caminho percorrido até ao grande dia.

Isaura Barge, hoje com 88 anos, encontrava-se em casa, onde mantinha o seu salão de cabeleireira, na rua 16, quando se deu a revolução. Admite que quase “não queria acreditar”, mas antes da confirmação pela rádio, Isaura já havia reparado em indícios que, desde logo, considerou estranhos.

“Estava a trabalhar no meu salão quando um tropa entrou para falar com uma senhora. Lembro-me que ela tinha um saco carregado de dinheiro e apercebi-me que havia qualquer coisa, mas só depois compreendi que ela ia fugir”, conta Isaura, revelando que, pouco tempo depois, “entra, aos gritos, outra senhora no salão a dizer que estava a haver uma revolução”.

Ligar de imediato a televisão foi a primeira reação. A música transmitida com a frase “pedimos desculpa pela interrupção” baralhou Isaura que, só pela rádio, percebeu o que se passava. “As pessoas começaram a ir para a rua. O meu marido também foi, mas como tinha os meus filhos fiquei em casa e chorei muito”, confidencia. “Uma senhora tinha-me oferecido uma estatueta do Salazar. Na altura guardei-a e vi logo que ela era PIDE. Então, naquele dia, lembrei-me da estatueta e fui buscá-la. Dei um martelinho a cada um dos meus filhos e, na banca da cozinha, partimos a estatueta aos bocados ao som da música que estava a dar”, recorda Isaura Barge.

Numa fase de vida diferente, Nunes da Silva encontrava-se em idade escolar em 1974. Frequentava o Liceu, no antigo Colégio S. Luís, e completava o antigo sexto ano de escolaridade. Estava nas aulas quando a revolução se deu e recorda-se de ser tudo inesperado.

“Apareceu um familiar de um colega meu que era bem posicionado no regime anterior e as aulas foram interrompidas sem ninguém nos explicar porquê. Eu e uns colegas fomos embora e, ao passar pelo restaurante Manuel da Feira, percebemos que estava um rádio a tocar e decidimos parar. Lembro-me que tocava uma música e perguntámos o que estava a acontecer. Responderam-nos a dizer que não sabiam bem, mas que parecia que tinha havido qualquer coisa em Lisboa”, conta o antigo aluno e atual gerente da confeitaria Aipal.

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