Um ano e meio é o tempo que Maria Manuel Cruz acumula na liderança da Câmara Municipal de Espinho. A autarca faz o rescaldo das sequelas deixadas pela Operação Vórtex e defende-se das críticas sobre a falta de investimento no concelho, dizendo que o dinheiro “não abunda” e que é necessário “haver prioridades”. Uma delas, assume, é a manutenção de infraestruturas como a Nave ou o Multimeios. Na antecâmara do Dia da Cidade, a presidente do Município não foge às polémicas: garante que a USF na Ponte de Anta é para avançar e que o estádio “terá o seu tempo”. Sobre uma eventual recandidatura em 2025, diz que é algo “a pensar”.

Tomou posse em janeiro de 2023. Como encontrou a Câmara Muni­cipal com a Operação Vórtex ainda em curso?
Completamente no chão, principal­mente a Divisão do Urbanismo que foi a que mais sentiu o problema. Poucos dias depois, reuni com os funcionários, estavam debilitados e alguns a chorar. A situação não foi fácil. Foi preciso prometer-lhes que tudo iria fazer para os proteger e, principalmente, que nunca iria pôr em causa o seu trabalho. Iria respei­tá-los e nunca os iria pressionar em qualquer situação que não lhes fosse confortável.

Foi necessário fazer adaptações rá­pidas nos cargos?
Foi no Urbanismo onde foram cons­tituídos mais arguidos na Operação Vórtex. Foi de tal maneira grave que, em agosto, apenas havia um funcio­nário a trabalhar. O chefe de divisão tinha sido constituído arguido e nomeei outro que, passado poucos meses, adoeceu. Tive de nomear um diretor de departamento porque o anterior também acabou por ser constituído arguido. Foi uma si­tuação muito difícil.

Colocou em marcha uma reestrutu­ração que, curiosamente, já estava a acontecer com Miguel Reis na li­derança. Foi necessário fazer mais mudanças?
Quando entrámos para a Câmara havia um organograma que, depois, foi substituído por um outro que, a meu ver, era complexo e gerava muita entropia nos serviços. Com as altera­ções, essa entropia acabou por ser diluída. Perdi um chefe de divisão e uma outra [pessoa] que as­sumiu um departamento e as coisas começaram a fluir um pouco mais. Mas esse organograma não funciona e, por isso, está em marcha outro que pretende ser mais simples. A comu­nicação hierárquica cria muitas difi­culdades aos serviços.

Falou em dificuldades e em mu­danças. Se fosse hoje, faria tudo da mesma forma ou ia a votos?
Voltaria a fazer tudo igual. Fui a votos e fomos eleitos numa lista. Quando os candidatos se propõem a presi­dente e a vereadores, todos vamos a votos. A pessoa é eleita presidente não só porque se propôs a esse cargo, mas porque toda a sua equipa mostra à população que tem credibilidade.

Sentiu o apoio dos espinhenses e dos presidentes das Juntas de Freguesia?
Quando decidimos prosseguir, fa­lámos uns com os outros. Natural­mente que estas decisões não são fáceis, mas senti que as pessoas me pediram que ficasse.

Recentemente, o presidente da Junta de Freguesia de Silvalde chegou a dizer que pelo menos o PSD tinha feito uma rua naquela freguesia. O PS não fez?
O presidente da Junta já teve a opor­tunidade de, na Assembleia Muni­cipal, responder a essa questão. Ele referiu que isso saiu completamente do contexto e que isso não era o que pretendia dizer.
No entanto, um presidente de Junta quer sempre o melhor para a sua fre­guesia e, às vezes, até acaba por se exceder um pouco. Porém, não é verdade que não tenhamos feito nada. Tem havido um investimento em Silvalde. Recordo a construção de uma infraestrutura importantíssima na praia para o Dispositivo de Salvamento Aquático e o arranque, no futuro próximo, da Unidade de Saúde Mar à Vista. Portanto, se o PSD só lá fez uma rua, nós estamos a fazer muito mais.

Como estava a Câmara Municipal financeiramente?
Tínhamos uma pessoa à frente de um departamento financeiro e um chefe de divisão. Não foi fácil inteirar-me de todas as situações. Por isso, tive de me empenhar e agarrar todos os sectores, incluindo o financeiro. Foi necessário ir bem fundo para perceber como tudo isto estava.
Somos uma autarquia que tem um nível de endividamento muito grande e temos poucas possibilidades de recorrer à banca. Senti que não havia dinheiro para fazermos investimento.
A primeira coisa que foi feita foi per­ceber qual era a nossa capacidade para fazer algum investimento que sabíamos, desde logo, que seria pe­queno. Havia dificuldades, inclu­sive, para pagar salários.

Por que razão afastou a chefe de divisão financeira do Município de Espinho?
Não o fizemos de forma leviana. Deixei de ter confiança profis­sional e, por isso, tal como um ca­samento, teve um fim. Entendi que, perante alguns factos que aconte­ceram, que não havia condições para que continuasse naquelas funções e, por isso, exonerei-a.

Mas estamos perante falta de dinheiro ou de capacidade para executar?
A autarquia tem um orçamento pequeno, o que não significa que não possa fazer face aos compro­missos. Neste momento, temos acautelados os vencimentos e as despesas correntes. Temos algum dinheiro para investir que está plasmado no nosso orçamento. No entanto, fá-lo-emos sempre com muita cautela.
Estão cativos três milhões de euros, porque, a qualquer momento, po­deremos ter de indemnizar a cons­trutora ABB devido ao processo do Estádio.

Isso significa que Espinho está refém da ABB?
Espero que não, embora não possa impedir a ABB de concorrer às obras públicas. Espero que tudo se resolva.

Há conversas? Há relações com a empresa?
Neste momento, não há e os nossos advogados estão a tratar dessa situação.

Se perder, serão três milhões de euros que terão de ser pagos?!
Provavelmente. Ou mais!

Artigo completo na edição de 13 de junho de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.