Espinho e a (não) competitividade empresarial

O Concelho de Espinho tem vindo a experimentar um processo de perda progressiva de competitividade empresarial, num conjunto de indicadores referentes à demografia das empresas, à criação de emprego, ao volume de negócios, à produtividade e à capacidade de sofisticação, inovação e de geração de rendimentos para as populações e para o território.
A demografia das empresas não financeiras mostra que existem 11,8 empresas por 100 habitantes, no Concelho de Espinho, uma densidade empresarial inferior à registada na Área Metropolitana do Porto (12,5) e em Portugal (12,8).
Grosso modo, na última década (entre 2009 e 2019), o saldo demográfico regista uma perda de 285 empresas em Espinho, recuando de 3.777 empresas em 2009 para 3.492 empresas em 2019.
A perda de empregos é também significativa, com uma redução de 563 pessoas no pessoal ao serviço nas empresas não financeiras, reduzindo-se de 9.460 para 8.897 pessoas ao serviço.
Este duplo declínio (em número de empresas e de pessoal ao serviço) não tem paralelo nos concelhos que integram a Área Metropolitana do Porto (AMP), com uma redução de 8% no número de empresas, face a um crescimento simétrico no agregado da AMP, e uma redução de 6% no pessoal ao serviço face a um crescimento de 11% no conjunto metropolitano.
O Concelho de Espinho é mesmo o único território da AMP com registos negativos nestes dois indicadores, à excepção de S. João da Madeira, que viu reduzir o seu número de empresas em 1%, e de Santa Maria da Feira que registou uma quebra de 1% no pessoal ao serviço nas suas empresas não financeiras.


De um modo geral, Espinho apresenta a mesma estrutura na dimensão das empresas característica em Portugal, com um tecido empresarial composto, quase na totalidade, por microempresas: as empresas com menos de 10 pessoas representam 97% do total, das quais 68% são empresários em nome individual e 29% são sociedades microempresariais. São pouco mais de uma centena as pequenas empresas (de 10 a 50 pessoas ao serviço), verificando-se apenas 10 médias empresas (de 50 a 250 pessoas) e apenas uma grande empresa (mais de 250 pessoas).
O número médio de pessoas ao serviço nas empresas não financeiras no Concelho de Espinho é de 2,6 pessoas por empresa, o número mais reduzido de toda a Área Metropolitana (3,4), com excepção de Gondomar (2,4).
Não obstante esta desagregação no tecido empresarial, constata-se uma concentração do pessoal ao serviço nas quatro maiores empresas do Concelho, as quais representam 18% do pessoal ao serviço, o quarto registo mais elevado no indicador de concentração na AMP, cuja média é de 5%.
Por sectores de actividade verifica-se uma predominância em actividades de média-baixa tecnologia e de serviços de mercado com fraca intensidade em conhecimento, com particular ênfase para o número de empresas nas actividades de comércio (21%) e nas actividades de alojamento, restauração e similares (9%), que no conjunto totalizam 30% das empresas, ou seja, quase 1 em cada 3 empresas enquadram-se nestes dois sectores de especialização territorial, isto é, apresentam uma frequência relativa superior ao registado na área metropolitana.
As actividades administrativas e dos serviços de apoio (15%) e os serviços com forte intensidade de conhecimento nas actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares (11%) apresentam igualmente uma representatividade assinalável no que respeita ao número de empresas.

O número médio de pessoas ao serviço nas empresas não financeiras em Espinho é de 2,6 pessoas por empresa, o número mais reduzido de toda a Área Metropolitana (3,4), com excepção de Gondomar (2,4).

No que se refere à representatividade sectorial quanto ao pessoal ao serviço, constata-se que, pese embora o Concelho de Espinho não seja tradicionalmente associado à dinâmica industrial, apresenta um peso relativo em linha com a média nacional, e aquele com maior representatividade no Município, com as indústrias transformadoras a serem responsáveis por 18% do pessoal ao serviço nas empresas no Concelho (quando representam apenas 5% do número de empresas).
As actividades de comércio (18%) e as actividades de alojamento, restauração e similares (11%), se tomadas em conjunto, totalizam 29% e constituem os sectores com maior preponderância no pessoal ao serviço. Assumem particular relevo no contributo para o pessoal ao serviço as actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas (14%), muito por força do pessoal ao serviço nas actividades associadas à exploração da zona de jogo do Casino de Espinho.
Decorre desta segmentação uma especialização empresarial em actividades pouco intensivas em tecnologia, inovação e em conhecimento, com uma incipiente capacidade de geração de riqueza na produção, em média, por cada trabalhador, que resulta numa produtividade aparente do trabalho nas empresas não financeiras muito reduzida face à média verificada no território metropolitano.
Com efeito, de um modo geral, a maioria dos sectores de actividade com maior predominância no número de empresas e/ou na representatividade do emprego no Concelho, apresentam uma produtividade inferior: as actividades de comércio têm uma produtividade de 63% da média metropolitana; as actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares de 74%, a indústria transformadora de 82% e as actividades de alojamento, restauração e similares de 89%.

Apenas as actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas (173%) e outras actividades de serviços não especializadas (110%) apresentam produtividades superiores à média metropolitana, a primeira das quais influenciada pelo peso das receitas resultantes da concessão da zona de jogo do Casino de Espinho.
A estes dados importa ainda considerar que as quatro maiores empresas no Concelho concentram 35% do volume de negócios (o 4º registo mais elevado da AMP) e 47% do valor acrescentado bruto (o registo mais elevado da AMP) gerado no território de Espinho, o que revela uma excessiva concentração da capacidade de criação de valor e de riqueza.
Por fim, no período em análise (2009 a 2019) o VAB nas empresas de Espinho cresceu 27%, que compara com um crescimento de 29% no conjunto da AMP, e o volume de negócios das empresas espinhenses cresceu apenas 5%, enquanto que o volume de negócios nas empresas no território metropolitano cresceu 21%, o que revela uma menor capacidade das empresas espinhenses de gerar riqueza e valor face às suas congéneres do território metropolitano.

Tito Miguel Pereira
Consultor