Perspectivar a Europa para além do ponto onde os europeus julgam estar, e não estão mais, face ao claro e inexorável declínio de bem-estar, poder e influência da União Europeia enquanto espaço económico regional globalizado, secundarizado face à reconfiguração dos blocos geoeconómicos mundiais.
Desafios essenciais que se relacionam com a capacidade de inovação e desenvolvimento económico, bem-estar e qualidade de vida, cooperação e defesa, cidadania e governância global.
De acordo com o Business Monitor Research, partindo de dados do Fundo Monetário Internacional, o peso da economia da União Europeia desceu para metade em 40 anos. A economia da União Europeia representava 29,8% da economia mundial em 1980, descendo para 14,8% em 2022.
Um “duplo” declínio, sabendo que em 1980 a União Europeia era constituída por apenas 9 Estados Membros, e em 2022, são 27 Estados Membros, ou seja, mesmo com o crescimento de mais 18 países integrando este espaço político e económico, a economia da União Europeia apresentou esse declínio progressivo.
Na comparação com os Estados Unidos, e de acordo com o Fundo Monetário Internacional, a economia da Zona Euro cresceu 6% nos últimos 15 anos, enquanto que a economia norte-americana cresceu 82%, ou seja, a economia norte-americana passou a ser 1/3 ‘maior’ que a economia europeia ou duas vezes maior, se excluído o Reino Unido.
O panorama é desolador para a Europa, que tem vindo a decair, sector a sector. Segundo a Forbes, entre as dez maiores empresas no mundo, por capitalização bolsista, não se encontra uma europeia. Na lista das empresas mais inovadoras também não se encontra qualquer europeia. Entre as dez maiores companhias farmacêuticas, surgem duas empresas europeias, Novartis e Roche, na Suíça, que não na União Europeia. Nas dez primeiras posições do Shanghai Ranking estão duas universidades britânicas, sem qualquer universidade da União Europeia.
Ao nível do bem-estar e da qualidade de a art et joie de vivre europeias estão em risco. A influência artística e cultural de outrora tem vindo a ser suplantada por contextos globais. O sentimento de qualidade de vida dos europeus tem vindo a decair com inúmeras manifestações de insatisfação dos cidadãos europeus face à realidade de estagnação, no contexto europeu, e de perda relativa e, portanto, de declínio e empobrecimento face ao contexto mundial.
As emergências das políticas associadas à transição digital, transição energética e acção climática, têm implicado processos enviesados de congregação de um espaço político e económico de ilha face ao contexto global que, não obstante a bonomia de progresso, têm imposto condições de desigualdade de competitividade face a outras geografias, contribuindo ainda mais para a desaceleração da economia europeia face a outras economias.
Consequentemente, o baixo crescimento económico que a União Europeia tem experimentado não tem sido suficiente para gerar níveis incrementais de satisfação dos seus cidadãos, que se expressam sobre as mais variadas formas de insatisfação e crescimento de movimentos populistas.
Os acontecimentos geopolíticos têm vindo a sopesar sobremaneira no reajustamento do posicionamento político e económico da União Europeia face à envolvente. Os conflitos impostos pela Rússia à Europa na Ucrânia, e pelo Hamas na ameaça a Israel, demonstram vivamente a situação de fragilidade e dependência da União Europeia face a outros aliados.
O reajustamento da cooperação e defesa europeias e o seu reforço são fundamentais para que a Europa tenha a robustez necessária para fazer face a contrariedades potenciais.
Num posicionamento claro e objectivo, temos de saber de que lado estamos. Estamos do lado da Paz, sobre todas as ameaças que impendem sobre as democracias liberais.
“A União Europeia continua
a ser um espaço de
liberdade, não obstante as
ameaças, e também ainda
um espaço atractivo para
muitos cidadãos de várias
proveniências e geografias
que encontram no espaço
europeu uma esperança de
uma vida melhor para si, para
as suas famílias e para as
suas futuras gerações”
Estas ameaças advêm das situações e de conflitos, e do crescimento e alinhamento de blocos económicos formados por contextos de governação política que não são democratas e constituem ameaças iliberais à União Europeia.
Da cidadania e da governância global, a União Europeia deverá assim, apesar da redução da sua esfera de influência económica, garantir a sua capacidade de autonomia estratégica, de potência económica, militar e de defesa, e sobremaneira de capacidade de influência e de defesa dos valores absolutos da paz, da liberdade e da democracia.
A União Europeia continua a ser um espaço de liberdade, não obstante as ameaças, e também ainda um espaço atractivo para muitos cidadãos de várias proveniências e geografias que encontram no espaço europeu uma esperança de uma vida melhor para si, para as suas famílias e para as suas futuras gerações.
Esta atractividade, conjugada com questões localizadas, e sobre vários aspectos tem trazido desafios incomensuráveis nos movimentos migratórios, e nas condições de integração de migrantes nas sociedades e comunidades europeias.
Aliado aos aspectos demográficos da União Europeia, ao contexto económico e às realidades específicas, é um tema determinante para a contínua construção de uma Europa de integração e de valores.
A perda de domínio económico mundial do “mundo ocidental” para plataformas económicas “alternativas” e emergentes traduz uma alteração substancial nas relações económicas, políticas e de influência mundiais.
Atente-se que os BRICS+ já representam 36% da quota da economia mundial e já superam o G7, com cerca de 30%. Em 1995, o G7 detinha cerca de 45% da quota mundial e os BRICS+ cerca de 22%.
Esta dupla ameaça, por um lado da subalternização económica por países que são um grupo maioritário de ditaduras e autocracias, entre os quais China, Rússia, Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Irão e Etiópia. Mesmo o Brasil, a Índia e a África do Sul não passam incólumes: dos dez países do BRICS+, nenhum se enquadra na definição de democracias liberais em que, além de eleições, exista ampla liberdade de expressão, cívica e económica, segundo critérios do V-Dem, o instituto sueco que avalia as democracias no mundo.
Não há qualquer dúvida que a predominância de governos não democráticos com influência económica mundial terá efeitos negativos e alastramento com consequências nefastas às democracias liberais da europa ocidental.
Não há também qualquer dúvida que o crescimento de movimentos radicais e fundamentalistas que colocam em causa o quadro europeu são ameaças significativas à liberdade de expressão e às democracias ocidentais como as conhecemos.
Importa por isso, saber muito bem onde estamos e quem apoiamos. Por tanto e por muito mais, não poderemos vacilar. A democracia e a paz terão de prevalecer! Na Ucrânia, em Israel, na Europa e no Mundo!
Escrito em desacordo ortográfico.
Tito Miguel Pereira
Consultor