Em março, foi suspensa a ação do voluntariado no antigo Hospital Sra. da Ajuda – a atual unidade 3 do Centro Hospitalar Gaia/Espinho. No mês passado (outubro), foi reativada, com um conjunto de regras que condicionam o trabalho daqueles que dão algo mais de si a quem carece de apoio e bem-estar para amenizar o sofrimento. A Liga dos Amigos do Hospital de Espinho é a entidade que coordena este trabalho, com seis voluntárias e dois voluntários que têm estado de escala diária em prol da causa altruísta.

O voluntariado hospitalar visa contribuir para a humanização da assistência ao doente oncológico, pela disponibilização de apoio prático e/ou emocional aos doentes em regime de ambulatório e internamento.
São os voluntários que estabelecem contacto direto com o doente e com quem o acompanha para consulta e tratamento, oferecendo atenção, informação, conforto e esperança, essenciais à humanização dos cuidados.
Amenizar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida do doente em contexto hospitalar e, particularmente, em cenário pandémico, afigura-se fundamental, embora nesta conjuntura haja distanciamentos sociais a cumprir e outras medidas preventivas e restritivas.
Prestar apoio emocional, prático e informativo ao doente são as bases do exercício do voluntariado, caracterizado por disponibilidade para doar tempo, atenção e carinho a alguém que padece. Por isso, os voluntários oferecem sempre o melhor sorriso e a mão amiga. “É um período triste para nós, mas também para os doentes”, constata Fernanda Fontes, voluntária há duas décadas. “Nesta fase não temos contactos com os doentes das cirurgias de ambulatório, nem com os doentes que estão internados.”
“Não sei como é que vai ser a festa de Natal deste ano e que a Liga dos Amigos do Hospital de Espinho (LAHE) organiza todos os anos”, lamenta, entristecida, a voluntária espinhense de 77 anos. “Costumamos dar uma prendinha a cada doente e canta-se as janeiras. Temos festejado a quadra natalícia com os doentes internados e também com os seus familiares e até com quem recorre ao hospital para uma consulta externa e exames ou análises, mas este ano não sei como será…”
“Sou voluntária porque gosto de ajudar os outros”, acrescenta, já com um brilho especial nos olhos. “Acho que devo aplicar o meu tempo livre a ajudar os outros.”
“A pandemia tem afetado a nossa ação no voluntariado”, constata Fernanda.
“A minha atividade é agora tomar conta do meu neto e pouco mais… Não gosto de estar parada, mas, perante esta situação de restrições devido à pandemia, não posso fazer mais nada. Agora, o voluntariado da Liga dos Amigos do Hospital de Espinho está limitado. Apenas podemos dar o pequeno-almoço nas consultas externas e nos exames clínicos e análises de sangue. E nesta fase há pouca gente para tomar o pequeno-almoço…”
A mesma visão é partilhada por outros voluntários. Maria José Ferreirinha, que presta este apoio há uma dúzia de anos, considera que “a experiência anterior à pandemia foi muito boa, mas agora a missão é muito limitada”. “Arranjávamos o cabelo às doentes e tratávamos-lhes as unhas, pondo-as mais bonitas e com autoestima. E também cuidávamos dos doentes. Era muito gratificante para nós”, sublinha.
“Tínhamos eucaristia todas as sextas-feiras”, recorda a voluntária de 64 anos. “O arranjo da capela do hospital também era a nossa função. E, por isso, íamos buscar os doentes e as doentes que tivessem autorização para sair das enfermarias e pudessem assistir à missa. Com a desativação dos serviços continuados, o nosso serviço também ficou mais limitado. Eram doentes idosos e incapacitados que necessitavam de mais apoio e de que se conversasse com eles. Assim, aquele trabalho que nos enchia a alma ficou, algo, para trás… Também fazíamos voluntariado de apoio aos doentes das consultas externas e aos que necessitavam de exames e análises.”
O aparecimento da pandemia, em março último, suspendeu o trabalho que estes homens e mulheres fazem no ambiente hospitalar. Agora que voltaram, diz Maria José Ferreirinha, são “cerca de uma dezena de voluntários, porque os outros não podem participar, por diversas circunstâncias”. “Fazemos uma escala diária com quem está disponível”, acrescenta.
Em pouco tempo e por causa de um ciclo pandémico, (quase) tudo se altera. “Notava-se que as pessoas que nós ajudávamos ficavam satisfeitas e agora é mais conversa de circunstância. A satisfação que nós temos é ver sair bem os doentes e quando regressam, por qualquer motivo, ao hospital, lembrarem-se de nós e de que foram bem tratados pelo nosso voluntariado. E isso também nos enche a alma! Digamos que o nosso trabalho voluntário os consolou e ajudou a superar ou a atenuar as doenças. Já havia antes da pandemia quem tivesse poucas visitas e o nosso apoio era um consolo para esses doentes. O sorriso e o bem-estar desses doentes era a gratificação do nosso trabalho.” Maria José Ferreirinha tem uma opinião formada no que concerne a experiências negativas no exercício do voluntariado.
“Acho que isso se supera. Há sempre um doente um pouco ou muito resmungão, mas isso entende-se. O que é negativo, por exemplo, é o voluntariado estar limitado na fase da Covid-19. Mas temos que compreender e aceitar as regras.”
“Como não temos tido contacto com os doentes que estão internados, não posso falar muito sobre o voluntariado nesta fase de pandemia, porque nos limitamos a apoiar quem recorre aos serviços de exames e análises”, relata Valter Fortuna, que aderiu há um ano a esta missão social e altruísta. “Sinto-me gratificado como voluntário hospitalar. E isso foi muito sentido quando, antes da pandemia, prestávamos apoio aos doentes em internamento.”
“Eu sou de Espinho e estive 40 anos na Venezuela, de onde regressei há três”, historia, sumariamente, o voluntário de 70 anos. “Senti-me um extraterrestre quando voltei a Espinho. Não me lembrava de ninguém e durante algum tempo não conhecia ninguém. Parecia que o meu cérebro tinha parado… E, pouco depois, a minha esposa faleceu. Senti então a necessidade de me preencher com algo que fizesse sentir útil, como ajudar os outros. Quando se está doente, em casa ou num hospital, se uma pessoa é pobre ou fica pobre, ou preso na cadeia, é então que se vê quem são os nossos amigos. Eu sinto-me bem em ajudar quem precisa de mim, dando uma palavra amiga e conforto.”
“E é por isso que eu gosto de dar a mão aos doentes, porque eles sentem energia”, frisa Valter Fortuna. “Mas agora com a pandemia isso não é aconselhável. Fazemos, às vezes, o que um familiar não faz, porque está sempre a olhar para o relógio e tem que ir embora fazer outras coisas na sua vida. Os enfermeiros dão algum carinho mas têm de fazer o seu serviço.
Os voluntários é que dão o apoio possível a quem precisa de acompanhamento e de uma palavra de incentivo e de carinho.” “Depois de a minha esposa ter falecido, pensei que tinha de andar para a frente e pensar nos outros”, diz o mais recente voluntário da Liga dos Amigos do Hospital de Espinho. “Eu pensava que só existia para a minha mulher e os meus filhos, mas entendi que tinha de pensar em algo mais.”

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