O mais recente ‘World Economic Outlook’, publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), revela que a economia nacional tem sido uma das mais lentas entre as economias mais avançadas do mundo e da Zona Euro nos últimos 20 anos.
Em 1999, a economia portuguesa posicionava-se na 35.ª posição do ranking das economias mais ricas do mundo, medidas pelo produto interno bruto, per capita, em paridade de poder de compra, a preços constantes.
A riqueza gerada por habitante, em Portugal, era de 29.510 dólares, numa lista então liderada pelos Emirados Árabes Unidos (94.256 dólares) e pelo Luxemburgo na segunda posição (90.691 dólares).
Decorridos mais de 20 anos, o que se constata é que Portugal baixou 10 posições no ranking dos países mais ricos do mundo, ou dito de outra forma, Portugal está relativamente mais pobre, neste ranking medido pela criação de riqueza por habitante, em paridade de poder de compra a preços constantes. De acordo com os dados do FMI, Portugal será, em 2021, apenas a 45.ª economia mais rica do mundo!
Em 2021, a riqueza gerada por habitante, em Portugal terá sido de 33.440 dólares, numa lista agora liderada pelo Luxemburgo (115.823 dólares), secundada pela Irlanda, antes 14.ª agora 2.ª (101.905 dólares).
A questão factual e preocupante, para Portugal e para os portugueses, é que a economia nacional perdeu 10 posições, neste intervalo de tempo de 22 anos entre 1999 e 2021, no ranking dos países mais ricos do mundo, medido pelo produto interno bruto, per capita, em paridade de poder de compra, a preços constantes.
Neste período, a economia portuguesa ultrapassou a economia de quatro países: Aruba (29 agora 47), Bahamas (23 agora 48), Líbia (26 agora 100) e Omã (34 agora 52).
A questão alarmante é a quase total estagnação da economia nacional nestes 22 anos, entrecortada com anos de crescimentos reduzidos ou muito modestos, intercalada com períodos de crise, assistência internacional e mais recentemente a recessão provocada pela pandemia.
Em sentido inverso, Portugal foi ultrapassado por 14 países (!), com especial ênfase para economias de países que se consideravam entre os mais pobres da Europa, incluindo San Marino (agora 11), Andorra (agora 21), Malta (37 agora 30), República Checa (42 agora 36), Eslovénia (41 agora 37), Lituânia (64 agora 39), Estónia (53 agora 41), Polónia (56 agora 42) e Hungria (45 agora 44); e por países de outras geografias como Macau (agora 9), Taiwan (40 agora 15), Coreia do Sul (43 agora 29), Israel (38 agora 33) e Porto Rico (36 agora 43).
Entre as 45 economias que integram os países da Zona Euro, Portugal apresenta-se como uma das ‘economias mais lentas’ com um crescimento médio anual de apenas 0,57%, entre 1999 e 2021
Entre as 45 economias que integram os países da Zona Euro, da União Europeia e as economias mais avançadas do mundo, de acordo com o FMI (e excluídos Macau, San Marino e Andorra), Portugal apresenta-se como uma das ‘economias mais lentas’ com um crescimento médio anual de apenas 0,57%, entre 1999 e 2021.
A economia portuguesa foi a terceira economia que menos cresceu, entre estas 45 economias, de 1999 a 2021. Apenas com pior registo surgem a Itália, que regrediu 0,03% e a Grécia que cresceu apenas 0,15%.
Entre os países que registaram maior crescimento médio anual, nestas últimas décadas, encontram-se os países bálticos que integram a Zona Euro: Lituânia (4,96%), Letónia (4,44%) e Estónia (3,98%), e os países do leste europeu que integram a União Europeia: Roménia (4,47%), Bulgária (4,04%) e Polónia (3,63%).
À debilidade estrutural da economia nacional, a pandemia veio agravar as dificuldades de crescimento e convergência de Portugal com as economias mais avançadas.
Sendo certo que a pandemia atingiu inexoravelmente todas as economias do mundo, é também certo que as economias foram impactadas de forma diversa e em diferentes graus pela retracção pandémica.
De acordo com o FMI, a retracção económica nas economias mais avançadas do mundo, em 2020, foi de 4,5%, e apenas duas economias registaram crescimento na criação de riqueza anual por habitante: Irlanda (4,94%) e Taiwan (3,31%).
Também neste particular Portugal foi seriamente afectado pela retracção económica, com uma quebra na riqueza produzida por habitante de 8,65%, quase o dobro da quebra verificada na média das economias mais avançadas do mundo.
Em 2020, a quebra de 8,65% na criação de riqueza, por habitante, em Portugal, foi mesmo uma das mais acentuadas, representando o sexto pior registo entre os 45 países das economias mais avançadas, sendo apenas cinco os países que registaram quebras mais acentuadas que Portugal: Reino Unido (10,23%), Espanha (10,83%), Malta (12,04%), Andorra (12,50%) e Macau (56,53%).
Também preocupante o ritmo que a retoma e a recuperação económica e social possam levar, para alcançar, pelo menos, os níveis pré-pandémicos.
Os dados do FMI mostram, de uma forma generalizada, que as economias mais avançadas apresentaram crescimentos de 2020 para 2021, o que face à retracção ocorrida em 2020, e apenas pelo efeito de retoma de actividades económicas, seria expectável.
Sucede que estes crescimentos não permitem ainda alcançar os níveis de actividade e a criação de riqueza anual por habitante nos anos pré-pandémicos. Ou melhor dito, não de forma generalizada e idêntica em todas as economias.
Se de uma forma global, as economias mais avançadas do mundo poderão apresentar um crescimento anual em 2021 de 5,2%, face à retracção ocorrida em 2020 de 4,5%, as projecções para as diferentes economias mostram dados dispares de retoma, face à retracção que as mesmas experimentaram.
No caso de Portugal, as projecções do FMI, para 2021, apontam para um crescimento da criação de riqueza, por habitante, de 4,63%, o valor anual mais elevado dos últimos 20 anos, contudo, muito aquém da retracção ocorrida em 2020, no valor de 8,65%, e abaixo da média de crescimento das economias mais avançadas, que se prevê venham a crescer 5,2%.
As projecções evidenciam um panorama de exigência que colocam Portugal face à quase inevitabilidade de manutenção de crescimento muito lento e de quase estagnação, o que a prazo significará o retrocesso e o afastamento da economia nacional face às economias mais avançadas, num processo de empobrecimento relativo face a outros países e economias, incluindo um conjunto de países que, partindo de posições menos favoráveis, apresentam hoje níveis de riqueza superiores a Portugal, maior resiliência e capacidade de recuperação.
Consultor
Escrito em desacordo ortográfico. Artigo publicado na edição de 13 de janeiro de 2022, do jornal Defesa de Espinho.