Amadeu Morais, advogado com 72 anos, foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Espinho. Filho de um antigo diretor da Defesa de Espinho (Amadeu Morais, pai), e um reconhecido advogado espinhense, Amadeu Morais teve um percurso de sucesso e deixou uma marca nas coletividades e na vida política do concelho. Atualmente assume a presidência da Assembleia Geral da Académica de Espinho, clube em que o seu pai foi um dos fundadores. Foi condecorado, em 2019, pela Ordem dos Advogados (OA) com a Medalha de Honra, uma distinção de que muito se orgulha.

Quem é o Amadeu Morais?

É alguém que é filho de um outro Amadeu Morais e que fez a sua infância em Espinho como muitos jovens da sua geração. Frequentou o ensino desde o primeiro ao antigo sétimo ano em Espinho e que daqui foi para Coimbra para se licenciar em Direito. Vindo de Coimbra, começou a trabalhar com o pai que também era advogado. É aquilo que tem feito profissionalmente até aos dias de hoje, embora com uma atividade mais reduzida, na medida em que está reformado. É uma reforma que lhe permite continuar a trabalhar no que quiser e se quiser. Está em fase de desativação progressiva, continuando no ativo.

Já fez a passagem do testemunho ao seu filho!…

É uma passagem de testemunho, que acompanha este processo de desativação progressiva da vida profissional. Tem sido um processo gradual acompanhando uma delegação de competências. Esta passagem de testemunho é feita para o meu filho, mas atualmente, a atividade da advocacia é muito diferente daquela que era quando comecei a advogar. É impensável alguém trabalhar nesta área sozinho. Por isso, hoje trabalhamos como sociedade, com outros advogados, sendo eu o decano e tendo cada uma área de especialização.

O que o encantou na profissão do seu pai para seguir este percurso?

Gostei da independência, porque não tinha patrões. Isto dava ao meu pai uma liberdade completa para trabalhar naquilo que queria, com processos que aceitava, podendo recusar outros. Era uma liberdade completa no exercício da cidadania e não era devedor de coisa nenhuma a ninguém. Vivi isto com o meu pai e acompanhei-o. Foi talvez esta a faceta da sua vida profissional que mais me terá entusiasmado e empurrado para seguir a sua profissão.

O seu pai tinha um grande espírito altruísta e essa tal participação cívica na sociedade espinhense… Até foi diretor da Defesa de Espinho!…

Foi numa altura em que a Solverde, por sugestão do meu pai, assumiu a propriedade da sociedade que era detentora do jornal. A família de Benjamim Dias queria vender o jornal e ele e o comendador Manuel de Oliveira Violas entenderam que seria uma pena a Defesa de Espinho desaparecer. Por isso, a Solverde acabou por adquirir o grosso das quotas e o meu pai, em compensação, assumiu o compromisso de, transitoriamente, garantir a direção do jornal até ser encontrada uma solução definitiva porque a sua vida profissional não lhe permitia perder muito tempo com a responsabilidade da direção da Defesa.

Amadeu Morais (pai) chegou a ser provedor da Santa Casa da Misericórdia de Espinho!

O meu pai foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Espinho (SCME) durante uns oito anos, numa altura difícil daquela instituição. Não sei quem terá sido o responsável para o ‘desencaminhar’ para essa função.

Como era Espinho nos seus tempos de criança?

Qualquer pessoa da minha geração deverá concordar comigo. Nesta minha opinião há fatores objetivos discutíveis e outros de algum saudosismo de um tempo que já passou e que não volta. Espinho tinha uma vida que se destacava relativamente a outros concelhos limítrofes. Tínhamos uma atividade cultural, desportiva, criativa e recreativa que ultrapassava tudo aquilo o que era conhecido nas imediações. Era um polo de atração muito grande, tanto no inverno junto das populações mais próximas, como no verão para populações mais distantes, designadamente espanholas, pois havia muita gente de Salamanca e até de Madrid que se deslocava a esta terra para aqui fazer as suas férias durante o mês de agosto e, algumas vezes, em setembro.

Havia um conjunto de atividades recreativas que prendiam a juventude. Havia competições desportivas como corridas de bicicletas e gincanas de automóveis a pedais que, a par de uma época balnear que começava com o termo das aulas, em meados de junho e que terminava no final de setembro. Era uma atividade balnear completa onde as pessoas iam para a praia durante a manhã, à tarde iam ao cinema e à noite passeavam no ‘picadeiro’ [Avenida 8]. Mas havia, também, atividades desportivas e as pessoas estavam ligadas às coletividades. Era uma vida cheia. Por isso, toda a minha geração, independentemente da sua condição social e económica, tem saudades da vida que Espinho tinha.

Mas o que Espinho tinha, afinal, de inovador e de atrativo?

Espinho foi pioneira em muitas coisas, nomeadamente a Piscina Solário Atlântico, que foi a primeira piscina olímpica construída da forma que o foi. A Câmara Municipal de Espinho não tinha dinheiro para a construir, mas já na altura teve o rasgo de encontrar uma ‘parceria público-privada’, ou seja, um investidor privado que assumiu o investimento a troco do direito de explorar aquele equipamento durante alguns anos. No fim desse prazo, a piscina reverteu para a Câmara Municipal.

A praça de touros foi outro equipamento construído em Espinho. A corrida de touros não era um espetáculo com muitos adeptos no Norte, mas aqui havia bastantes, à semelhança da Póvoa de Varzim e de Viana do Castelo. Daí que as corridas de touros eram dias de festa com uma frequência extraordinária. As ruas enchiam-se de gente para ver passar os cavaleiros e os toureiros que, em cortejo, iam do Palácio Hotel até à praça de touros.

Espinho de hoje é, de alguma forma, diferente!…

Entrevista completa na edição de 24 de fevereiro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 30€.