Um dia fresco – ao início – mas a passagem por Coimbra já foi feita sob um céu bonito de Maio. Cada dia que passa é menos um que falta para o grande objectivo. Chego, estaciono o carro junto ao pavilhão onde ficámos da última passagem – em 2019. Agora, com apoio da Câmara Municipal e Junta de Freguesia, Cernache tem um conjunto de campos de padel.

– Ainda não desistiu ninguém – diz-me o Tiago com um sorriso, mas foi duro pelo calor. Faço-me ao caminho, ao encontro dos peregrinos que trazem ao peito o número visível. Esqueci-me do meu, mas está calor para voltar atrás. O IC 2 tem um trânsito quase constante, e a passagem de camiões faz estremecer a mais distraída / compenetrada alma. A viagem hoje decorreu sem percalços, a maioria chegou antes do pico do calor. O espaço é mais apertado que o anterior, mas um contacto da organização à Junta de Freguesia abre mais um cantinho para vinte pessoas.

Depois da curva, duas subidas, mas “é já ali…”.

Não se vive sem café, ali, no meio do “quase nada” uma esplanada muito bem arranjada em frente a um riacho e um parque infantil, dali a umas horas estarão de portas abertas para servir o pequeno-almoço aos peregrinos. Umas semanas atarefadas mas saborosas, são tantas as histórias que apetece ouvir que um sorriso é o mínimo dos locais.

Os peregrinos seguem pela berma, no sentido contrário ao trânsito. Continuámos a assistir ao apoio dado por automobilistas, quem sabe, peregrinos noutros tempos…

No código de conduta do peregrino existe uma regra: ninguém fica para trás! O grupo sabe dividir-se pelo número de passos que consegue dar, mas há sempre momentos inesperados na longa e quente estrada. Quando já estava à mesa com o Tiago, o Silva, o Rui, chegou um peregrino dos nossos que prestou auxílio a uma peregrina de uma outra cidade a quem as pernas estavam a chegar ao limite. É por essas e por outras que a alma de um peregrino é especial.

A cada final de etapa (e às vezes, durante) o peregrino recorre ao serviço de enfermagem e médico para curar as mazelas. Acompanhei o processo de desinfecção e “rebentamento” de bolhas por parte das enfermeiras. No caso, o Agostinho que me dizia ser a primeira vez em várias peregrinações ter de recorrer às enfermeiras para o ajudar. Chegará no próximo dia doze ao lugar da Iria com um calçado mais aberto.

Cada dia que passa as mazelas surgem em maior número, uns minutos antes olho para a minha esquerda e o peregrino e terapeuta António José presta auxílio a mais uma peregrina. Explica com toda a calma o processo a que a irá submeter com eléctrodos e ajuda uma outra peregrina com uma mazela no pé.

Ouviram-se alguns desabafos sobre o despertar, para a jornada que aqui vos mostro, a alvorada aconteceu perto das duas horas da madrugada. Os horários vão sendo ajustados de acordo com as previsões meteorológicas, mas a ausência de chuva e umas horas de nevoeiro e tempo fresco dão alento a quem percorre esta epopeia desde a cidade de Espinho.